sábado, 7 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (47)

Cuidados com um sepultamento


Lançados num poço ou parte mais profunda do rio Irani, os corpos de José Fabrício das Neves e seus homens só foram retirados e enterrados cerca de seis dias depois da emboscada que resultou em mortes e degolas. O enterro foi providenciado por Thomaz Fabrício das Neves, irmão de José Fabrício por parte de mãe, com a ajuda de João Damas Fabrício das Neves, conta o filho Antônio Martins Fabrício das Neves, junto com "outros Fabrício".

Depois que Marcelino Ruas e seus homens se retiraram, “foram procurar, acharam ele jogado dentro da água”, junto com os demais, segundo Antônio. Em março de 2007, o túmulo retangular cercado de taipa, com cerca de três por onze metros, estava coberto pela vegetação e por isso de difícil localização. Junto há uma cruz de madeira, muito antiga. “Esse Thomaz Fabrício plantou flores, tem roseiras lá da grossura desse cano, subiu nas árvores, então floresce as árvores em cima”, acrescenta Antônio.

Estado-maior de José Fabrício das Neves em dia de festa.
Catanduvas-SC, 1919. Acervo: Cecília Boroski (Concórdia-SC).

As roseiras continuam no local, próximo a ponte da BR-153 sobre o rio Irani, com acesso dificultado devido a extensão de uma cerca de arame farpado até o curso d’água. Ali, José Fabrício das Neves foi colocado numa cova separada. Em outra cova, um pouco maior, seus principais auxiliares. Um deles, Agostinho Ferreira, aparece de terno e gravata em uma foto ao lado de José Fabrício. José Gomes informa que nas ausências do caudilho, ele assumia o comando das atividades. “Era um homem muito bom, deixou lembrança para muita gente”, salienta Gomes.

Na foto já referida, também de terno e gravata, ao lado de Agostinho, está Cesário de Mattos, um dos “três irmãos Cesário” citados por Antônio das Neves. Eles teriam ficado juntos no túmulo e sobre os quais existem poucas informações, além de que seriam homens de extrema confiança de Fabrício. Outro que foi degolado e enterrado no mesmo túmulo é Teobaldo Madeira.

“Dentre os mortos”, informa outra fonte, estava Augustinho Frederico Wilke, “que se achava em Fragosos quando da visita do Sr. Victor Rauen a Itá em 1923”. (SILVA, 1987, p. 63) Paulo Antunes das Neves, neto de José Fabrício e filho de Afonso, residente em Pinhão-PR, diz que Wilke era conhecido por “Augustinho Pitoco”, um “segurança” do caudilho, e que teria sido o autor da morte do monge Nemézio, citado anteriormente.


No local podem estar sepultadas outras pessoas, mas foram esses os nomes que ficaram na memória oral ou registros escritos. Durante muitos anos o túmulo foi visitado por amigos e familiares. A vegetação era retirada periodicamente e a cruz de madeira substituída ao envelhecer, entre outros cuidados. Entre os que visitavam o túmulo, estava Vicente Lemos das Neves, casado com Francisca Martins Fabrício, que levava a família ao local pelo menos uma vez por ano, sempre em 20 de março, a data em que, na memória de Elvira Dalla Costa, filha do casal, seu antepassado teria morrido.

Vicente Lemos das Neves com a esposa Francisca e os filhos.
Dona Elvira está junto ao pai. Acervo: Vicente Telles (Irani-SC).

Nessas ocasiões, levavam muitos biscoitos, doces variados e vidrinhos com água, “porque eles morreram com sede e com fome”, diz dona Elvira. Estendiam uma “lona ou manta” no chão para que todos pudessem se acomodar e passavam o dia ali rezando. “O pai mandava levar foice para limpar o cemitério”, assinala. Certo dia, uma irmã de Elvira, Terezinha, se engasgou com um pedaço de casca de milho de pipoca e o pai mandou que ela fosse até o túmulo de José Fabrício. “O pai falava que aquelas águas”, armazenadas nos vidrinhos e que ficavam no local, eram “milagrosas, curavam qualquer coisa que se queira curar”.


Cerca impede acesso ao local do túmulo de José Fabrício.


Procurando sepulturas

Quando fomos ao Irani-SC pela primeira vez, em março de 2007, buscando os rastros da participação de José Fabrício das Neves no combate inicial do movimento do Contestado, tinha em mente a localização de seu túmulo. Antônio Martins Fabrício das Neves, numa entrevista ao Museu Histórico de Concórdia (Concórdia-SC), faz diversas referências a esse túmulo, ao pé de roseira que foi plantado no local e sua localização nas margens do rio Irani, próximo a uma ponte.
Depois de conversar com Vicente Telles e almoçar num restaurante junto ao trevo das rodovias BR-282 e BR-153, decidimos eu e Margaret Grando procurar por conta própria o túmulo. Seguimos na direção da ponte sobre o rio Irani pela SC-282, a mesma que liga a Capital do Estado, Florianópolis, ao Extremo-Oeste catarinense, na fronteira com a Argentina. Ao desembarcar do carro e observar o local, notei a falta de alguns elementos descritos pelo sr Antônio. Talvez não fosse alí, pensamos.
Avistamos um grupo de pessoas próximo a um restaurante e nos dirigimos até elas.
- Boa tarde!
- Boa tarde! Podem chegar.
- Tudo bem com o senhor?
- Tudo bem enquanto estivermos apertando as mãos.
Explicamos a ele nosso interesse, a localização do túmulo de José Fabrício das Neves.
- Mas não é nessa ponte...! Fica perto da ponte sobre o rio Irani na BR-153 - a famosa Transbrasiliana.
Ele se dispôs a nos acompanhar até o local. Foi até sua casa, colocou botas e um facão na cintura.
- Vamos lá!
O carro ficou estacionado próximo a ponte, com o pisca-alerta ligado. Tivemos que nos esgueirar por uma cerca de arame-farpado para entrar na área da Celulose Irani e alcançar a margem do rio. Seguimos por dentro da densa mata ciliar.
- Se a gente for por aqui não tem como não achar...
E seguimos. Com o facão ele abria caminho. As árvores encobriam o sol das 15 horas diminuindo o calor. Havia uma profusão de flores nativas, orquídeas, bromélias e outras espécies pelo caminho. Cerca de 400 a 500 metros a frente ele ficou em dúvida, olhou para os lados, mas seguiu em frente. Os pássaros trinavam.
- Chegamos!
Foi então que avistamos pela primeira vez um retângulo de taipa escondido entre árvores de médio e grande portes. Uma cruz de madeira esverdeada por musgos assinala o local. Ao lado uma vela apagada. Mais a frente restos de velas derretidas. Sinais de que o túmulo continua sendo visitado. Margaret tratou de medir com passos a área: três por onze metros, aproximadamente.
- Vem muita gente pescar aqui, informa o senhor que nos levou até o local.
De fato, existem lixos em vários pontos e uma área sem vegetação junto ao rio. Também há um pé de louro tombado, escavado em vários pontos para ganhar placas sem nenhuma inscrição.
- Dizem que cada placa é para um morto...
Permanecemos no local por cerca de meia hora, fizemos fotos e fomos embora. Nossa missão por aqueles dias estava cumprida. Não retornamos pela mesma trilha. Cerca de 30 metros adiante há uma estrada paralela ao curso do rio, onde existem três pés de butieiros "indicando" o local do túmulo. E retornamos ao ponto em que havíamos deixado o carro por esse caminho, ladeado pela mata ciliar à direita e uma floresta de pinus à esquerda.


Nota

O primeiro texto - Água milagrosa -, integra o livro O mato do tigre e o campo do gato: José Fabrício das Neves e o Combate do Irani (Florianópolis: Insular, 2007).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

FRAIBURGO

Área do primeiro reduto de Taquaruçu. Foto: Marco Cezar

Combatentes do Contestado
recebem homenagem da Câmara


Segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009. A Câmara Municipal de Fraiburgo-SC, realiza sessão solene em homemagem aos combatentes mortos da Guerra do Contestado. A iniciativa inédita acontece na emblemática Taquaruçu, localidade que abrigou o "núcleo duro" da revolta - os portadores da religiosidade de São João Maria, onde residem muitos descendentes dos chamados "jagunços" do Contestado. Participação especial de Vicente Telles, pesquisador, músico e compositor, residente em Irani-SC, que vai realizar uma performance com o tema central da sessão - o massacre de 1913 em Taquaruçú.


Presença em Frei Rogério

Canhão do Museu do Jagunço. Foto: Marco Cezar.

Domingo, 8 de fevereiro de 2009, 15 horas. O município de Frei Rogério (antigo Taquaruçu de Cima), realiza a 1ª Festa dos Frutos da Paz, visando "a integração das culturas existentes no município", explica Israel Mello Ferreira, secretario municipal de Administração e Finanças. "Em virtude da Guerra do Contestado ser uma marca importante na história do município e na vida da população cabocla", explica, o evento vai abrigar uma exposição do acervo do Museu do Jagunço, localizado em Taquaruçu. Também vão ocorrer apresentações de dança com temática do Contestado.


Músico do Contestado em sua casa no Irani-SC.

Um perfil de Vicente Telles
"A história ainda respira
"

Texto publicado no dia 23.1.2009 no site de O Jornal (Concórdia-SC).

A História do Contestado é uma chama viva, que ainda não apagou, apesar de tudo". Assim o historiador Vicente Telles resume o sentimento sobre a situação da área considerada como berço do Contestado em Irani. As obras previstas para formarem o Parque Temático do Contestado estão paradas há pelo menos dois anos. Em 2012 o Combate do Irani completa 100 anos e a intenção do historiador é retomar os eventos cívicos alusivos à guerra e implantar o ensino da história do conflito nas escolas da região.

Telles explica que o projeto do Parque Temático previa inicialmente a construção de nove módulos que retratassem os aspectos históricos da guerra armada entre caboclos e coronéis, ligados ao governo federal, motivada por conflitos sociais e que resultou na morte de seis a nove mil pessoas, principalmente caboclos. Eles habitavam o local e buscavam a garantia das terras, cobiçadas em razão da abundância de recursos, especialmente madeira de araucárias e erva-mate.

Palco do Parque Temático está abandonado.

"O mais difícil foi feito, que é a imaginação, a fórmula, o embasamento histórico e filosófico. Apenas um dos módulos teve início. É uma ilha artificial com anfiteatro e a cobertura é uma coroa que representa a sonhada sociedade utópica e igualitária", comenta o historiador. Ele destaca que a intenção era tornar Irani definitivamente como principal ímã de atração turística da história do Contestado. "Tem havido muita visitação aqui, mas é uma decepção também. Seria um projeto nos moldes de São Miguel das Missões incluindo som, luz e imagem com apresentações uma vez por mês" revela.

O historiador faz duras críticas ao poder público, que não valoriza a importância cívica e histórica dos conflitos. "Infelizmente nada se fez sobre a temática do Parque e os poderes públicos seriam responsáveis pelo apoio logístico e de material. A cultura não morreu, ela se mantém com a chama acesa, nós recebemos grupos de escolas aqui, mas, infelizmente, estamos marcados pelas deficiências e ausências das soluções que competem ao poder público".

Detalhe do teto do palco: inacabado e deteriorado.

Vicente Telles adianta que, ainda neste ano, a intenção dele, enquanto entusiasta da cultura relacionada à Guerra do Contestado, é retomar atividades que eram feitas em outras épocas. "A batalha do Irani vai completar 100 anos em 2012 e eu já estou preparando ações ainda neste ano para marcar esta data e retomar a consciência cívica das pessoas. Minha intenção é voltar a realizar os desfiles cívicos que reuniam cerca de 2,5 mil pessoas", revela.

De acordo com Telles, apesar da pouca infra-estrutura na área aberta à visitação, que compreende o Museu do Contestado, o cemitério e o monumento, no ano passado cerca de mil pessoas passaram pelos locais que representam a história da guerra. "Vieram, inclusive, pessoas da Argentina. Também esteve por aqui um professor do Canadá, que estuda a vida do Monge José Maria e recebemos muitos pesquisadores que elaboram teses e recorrem a este local para conhecer mais", afirma.

O historiador pretende mobilizar a sociedade para retomar as obras de infra-estrutura nos pontos turísticos relativos à guerra. "Nós vamos agora estudar as prioridades dentro dos nove módulos para trabalhar com o que for mais urgente, acredito que seja a sede da recepção que é junto ao cemitério e a conclusão do anfiteatro. O Parque é um meio e não é o fim. O fim é a cultura viva, é a chama acesa e isso não apagou apesar de termos encontrado alguns reveses de algumas pessoas que tentaram transformar a cultura em modo, e estes sucumbiram", declara Telles, emocionado.

Outra intenção do historiador é buscar uma parceria com os governos municipais da região ou com o governo estadual para a implantação da disciplina de história do Contestado para as crianças nas escolas. "Nós queremos utilizar os exemplos de bravura dos caboclos para conscientizar o povo de hoje que a única arma que nós dispomos para combater a corrupção é a consciência cívica sobre essa história que está inserida na nossa região", enfatiza.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (46)

Detalhe de uma foto de José Fabrício.
Acervo: Reinaldo Antunes (Pinhão-PR).

A “espera” no vassoural

As lembranças do que aconteceu depois do retorno de Fabrício e Ruas das lutas em São Paulo e Paraná ainda estão presentes entre os descendentes do caudilho. Afonso, o filho mais velho de José Fabrício, estava com cerca de 16 anos quando o pai foi apanhado numa “espera”, o mesmo que tocaia ou emboscada. “Meu pai contava que pegaram o Fabrício numa emboscada numa ponte, fecharam os dois lados da ponte, como um alçapão”, destaca Assis Antunes das Neves. Fabrício e seus homens foram presos e amarrados e “depois mandaram o meu pai embora e ele já estava longe quando escutou os tiros”, acrescenta o filho de Afonso.

Gabriel Fabrício das Neves, já referido por sua participação no combate de Irani, emprestou a Marcelino Ruas alguns cavalos para que ele pudesse seguir com seus homens a São Paulo. Sabendo que ele se encontrava de volta, acampado nas imediações do atual trevo das rodovias BR-282 e BR-153, mandou que o filho Emílio acompanhasse o morador Tomás Freitas até o local para reaver a tropa. Agenor, filho de Emílio e neto de Gabriel, conta o que aconteceu. Ao chegar, Emílio e Tomás Freitas também foram detidos e viram José Fabrício e seus homens amarrados.

“No outro dia até o meio dia continuaram amarrados”, lembra Agenor. Seu pai e Freitas continuavam detidos. “E quando foi uma hora um cara pediu para o meu pai que estava com sede e pediu água”, conta. Emílio pediu um copo de água e ouviu como resposta um “não, bandido não toma água”. Passado algum tempo, mandaram que reunisse a tropa de Gabriel e a levasse embora. “E não olhem para trás”, alguém disse. Emílio pediu seu revólver, não deram, mas “ofereceram uma Winchester, meu pai não quis. Era bem novinho, um revólver que o meu avô tinha comprado em Curitiba”. Emílio e Tomás Freitas já haviam se afastado cerca de 100 metros quando “começou o tiroteio”. O primeiro fez menção de voltar, mas o segundo, mais velho, achou melhor ir embora “que matam nós”, destaca Agenor.

Num artigo publicado no jornal O Estado (Florianópolis-SC) em 24 de julho de 1983, Dante Martorano constrói uma cena peculiar da morte de José Fabrício, que teria sido “carregado como fera, atarraxado quase no lombo da mula cargueira”, “tangido foi para fora do acampamento de Ruas”. Tão logo fora preso, Fabrício e seus homens seguiram “escoltados por um destacamento cruzando os caminhos da Fazenda do Campo Comprido, de Pelegrino Silvestre”, passando a poucos quilômetros de onde as forças do caudilho (“como bicho amarrado”) estavam acampadas, recém retornadas de São Paulo e Paraná. Era “arrastado por seus próprios caminhos”, observa Martorano, onde “força alguma antes ousara enfrentá-lo”. Paisagem onde “a lâmina das armas” do caudilho “atestava o destemor, a violência e a arrogância de quem deixa atrás de si e de seus rastros, a legenda da bravura”.

Waldomiro Silva, já citado por suas informações precisas, informa que no retorno de São Paulo e Paraná, as forças de Marcelino e Fabrício acamparam nos campos de Irani, distantes cerca de seis quilômetros uma da outra. “Constou”, assinala, que Marcelino Ruas “mandou convidar” o caudilho e “seu Estado-Maior para uma visita ao acampamento, o que foi aceito, uma vez que ambos eram amigos e defendiam a mesma causa”. Fabrício e seus “cinco ou seis companheiros” foram presos ao chegar no acampamento e “conduzidos de volta uns seis quilômetros e fuzilados à margem do rio São João, no lugar denominado Caçadorzinho” (SILVA, 1987, p. 62-63).

Ferreira (1992, p. 63-64) observa que o batalhão de Fabrício estava acampado na Costa do Rio do Mato, “onde atualmente está instalada a Celulose Irani”, e que Marcelino, “argumentando que embora rivais, tornaram-se amigos ao defender a mesma causa”, teria mandado um mensageiro “convidar Fabrício para um churrasco na Fazenda Velha, onde poderiam conversar sobre o resultado da revolução”. Além disso, Ruas “passaria ‘boas novas’ sobre os antigos problemas de Fabrício com o Governo”.

O caudilho não sabia que estava indo em direção a uma emboscada, visando “acabar com os ‘restos de jagunços’, como se referia Ruas a Fabrício e seu grupo”. E ao se dirigir ao local combinado, acompanhado de “seus seguidores, foi cercado pelo grupo de Ruas e assassinado” (FERREIRA, 1992, p. 64). Segundo Agenor Antunes das Neves, alguém no caminho teria avisado que se tratava de uma espera, mas Fabrício não acreditou. “Apearam o amordaçado caudilho no lugar denominado Caçadorzinho, a uma légua mais ou menos do acampamento de Marcelino Ruas”. Retirados das mulas, ele e seus homens foram “amontoados” e “quem de longe ouviu tantos tiros imaginou o festivo fogo de saudações”. Porém, “das carnes de Fabrício e de seus homens que receberam o chumbo, esvaiu-lhes o sangue”, descreve Dante Martorano artigo citado.

Um dos homens de Marcelino era Luiz Adão Jacques. Sua filha, Ana Sílvia Jacques, contou a Antenor Ferreira que cerca de 50 homens aguardaram a chegada de Fabrício, escondidos num “vassoural na beira do caminho”. O caudilho estaria com cerca de 15 homens e foi tomado de surpresa, sem “possibilitar reação”, sendo desarmando. Ruas teria dito que Fabrício “pagaria pelo jaguncismo que praticou na região ao lado de José Maria”. O caudilho afirmou não ter “medo de morrer, que não precisava de cerimônias e que podia atirar”. Um dos homens de Ruas passou o laço de um arreio no pescoço dos homens, “conduzidos às margens do rio Irani, distante mais ou menos 300 metros, onde após libertarem alguns dos acompanhantes de Fabrício, fuzilaram-no no barranco do rio, juntamente com sete companheiros” (FERREIRA, 1992, p. 65).


Frei Tambosi anotou em suas Crônicas da Capela de Engenho Velho que Fabrício estava acompanhado de “seis valentes” quando foi “preso e fuzilado. Diz-se que ao ser baleado deu uma gargalhada, pois queria morrer como valente. E em seguida foi decapitado, não se encontrando mais a cabeça” (TAMBOSI, 1941). José Gomes lembra do aviso dado por Guilherme Rossato para que Fabrício não deixasse “o couro por lá”, como já foi citado. Na ocasião, o caudilho teria dito: “Não tem perigo, os sujeitos são meus amigos. E foi onde ele caiu. Caiu friamente. Acabou o Fabrício”, assinala.

Ferreira (1992, p. 65) ouviu de Sílvia Jacques que Fabrício fora degolado e sua cabeça “levada para Herval do Oeste”, de onde, “pelo trem, foi mandada para Curitiba à viúva do coronel João Gualberto”. Ela teria prometido 40 contos “pela cabeça do assassino do marido”. Outro autor afirma: “Conta-se que a viúva do coronel João Gualberto prometera 40 contos a quem lhe entregasse a cabeça do traidor de seu falecido marido”. O responsável por sua morte, “José Ruas”, segundo frei Tambosi, que era “parente mas inimizado com Fabrício, quis provavelmente receber o prêmio, fugindo em seguida para a Argentina” (TAMBOSI, 1941).

José Gomes, residente em Colombo-PR.

“A mulher do falecido João Gualberto pagou os Ruas para prenderem ele, foi o que eles inventaram lá em Joaçaba, um churrasco”, conta José Gomes. “Levaram a cabeça pra viúva pra provar que estava morto, e daí a viúva mandou levar de volta, botar junto com o corpo dele, onde foi enterrado”, acrescenta, não havendo confirmação de que a devolução tenha sido feita. Segundo Antônio Fabrício das Neves, “o certo da morte dele [José Fabrício] mesmo, diziam eles que era uma vingança, uma empreitada”, contratada pela citada viúva. “Agora se é verdade ou não é eu não sei, segundo o que contavam era isso”.

Dante Martorano, no mesmo artigo, assegura que a notícia da morte do caudilho “andou pelo Brasil”. Ao Palácio do Governo, em Florianópolis, “chegaram telegramas candentes de recriminações e de revolta”, sobretudo pela maneira como tudo ocorreu. Observa que “até do marechal Rondon, veio via telégrafo, a repulsa à traição e ao assassinato de José Fabrício das Neves”. Rondon, segundo Martorano, teria se referido assim a Fabrício: “Valente em armas como o Exército Nacional, na sustentação da legalidade personificada no governo do Presidente da República – Arthur Bernardes”.


Referências

FERREIRA, Antenor Geraldo Zanetti. Concórdia: o rastro de sua história. Concórdia: Fundação Municipal de Cultura, 1992.

SILVA, José Waldomiro. O Oeste Catarinens: memórias de um pioneiro. Florianópolis: Edição do Autor, 1987.

TAMBOSI, Valentin. Livro de Crônicas para a Capela de Nossa Senhora Aparecida de Engenho Velho. Paróquia N. S. do Rosário, Concórdia, Diocese de Lages. [1941]. 50f. [manuscrito]. (Fotocópia das primeiras páginas cedida por José Puntel. Concórdia, abril
2007).



O TÚMULO DE JOSÉ FABRÍCIO DAS NEVES

Repórter-fotográfico Marco Cezar registra o
túmulo de José Fabrício das Neves e seus homens,
localizado na margem direita do rio Irani
(município de Vargem Bonita-SC)
.

Detalhes do túmulo de José Fabrício: um
retangulo de taipa com cerca de 3x11 metros.

Trecho do rio Irani, próximo ao túmulo.

O repórter-cinematográfico Marco Nascimento
se dirigeao local do túmulo e grava imagens
dos butieiros que assinalam a localização.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Claro Jansson, o fotógrafo do Contestado

Claro e a esposa Eleonora na época do Contestado
(1912-1916). Fonte das fotos: MORETTTI, 2008*

Muito da memória visual do Contestado se deve a um fotógrafo – pouco citado quando suas imagens são publicadas: Claro Gustavo Jansson. Sueco de Hedemora, na província de Dalarna, nasceu em 5 de abril de 1877 com o nome de Klas Gustav, ganhou recentemente um perfil escrito por sua filha Dorothy Jansson Moretti, onde sua trajetória como fotógrafo ganha dimensão.

Viveu na cidade natal até os 12 anos, mudando-se com a família para a cidade portuária de Sudsval, ao norte de Estocolmo. Pouco depois toda a família imigrou: o pai, André, a madrasta Ana Cristina, e seis meninos. Anna, a filha mais velha, permaneceu na Suécia. No Brasil os Jansson se dedicaram ao cultivo de uvas e bananas. Em 1893, já com o nome abrasileirado para Claro, o futuro fotógrafo residia na cidade da Lapa-PR, quando ocorreram os episódios da Revolução Federalista.

Algum tempo depois já estava em União da Vitória-PR/Porto União-SC, atuando em serrarias e olarias, e onde foi capataz de turma na extração de erva mate no Brasil, Argentina e Paraguai. Foi quando se aproximou da fotografia. Casado pela primeira vez em 1898 com Benedita Mattozo, ficou viúvo e tornou a se casar com Eleonora Deflon, também sueca (1910). Durante todo o ano de 1912, residiu em Barracón (hoje Bernardo Irigoyen), retornando a Porto União-SC/União da Vitória-PR na véspera do início do Contestado.

Após adquirir “excelentes aparelhos fotográficos” passou a se dedicar ao ramo. Era “meticuloso e sistemático”, assegura Dorothy, procurando se manter “atualizado, adquirindo os melhores materiais e as mais modernas máquinas fotográficas que surgem”. Entre as fotos famosas, está a do coronel João Gualberto em sua passagem por Porto União rumo ao Irani – seria a última. Contratado pela Serraria Lumber, fez um excelente ensaio das instalações da empresa em Três Barras-SC, para onde se mudou com a família, sendo também delegado e juiz de paz.

Claro se manteve profundamente ligado a Lumber. Nas greves de 1919 e 1926, serviu como intermediário com os operários poloneses, alemães, espanhóis suecos e outros, cujos idiomas que dominava. Além disso, era o comprador de erva mate para a Lumber e encontrava tempo para administrar sua fábrica de refrigerantes e o cinema da cidade. Ao fazer a cobertura de uma filial da Lumber em Itararé-SP, se afeiçoou à cidade, para onde acabou se mudando com a família em 1928. Foi ali que ele fez uma foto famosa da passagem de Getúlio Vargas em 1930, rumo ao poder no Rio de Janeiro. Também cobriu eventos e combates da revolução de 1932.

“Homem de invulgar cultura geral”, assinala a filha, se envolveu com a educação, tendo registrado até 1953 os principais momentos de Itararé. “Um prefeito inaugurava uma escola... lá estava ‘Seu’ Jansson com a sua famosa câmera. Os desfiles e as festas cívicas daqueles anos foram todos registrados por ele”. Faleceu no dia 10 de março de 1954, sendo sepultado em Curitiba, onde residia a maioria dos filhos.

Recentemente, o acervo de Claro foi restaurado por iniciativa da Agfa e reunido no livro Claro Jansson, O fotógrafo viajante (Editora Dialeto Latin American Documentary. Textos de Vito D'Alessios).


* MORETTI, Dorothy Jansson. Alguns instantâneos da vida de Claro Gustavo Jansson. In ESPIG, Márcia Janete; ACHADO, Paulo Pinheiro (ORG). A Guerra Santa revisitada: novos estudos sobre o movimento do Contestado. Florianópolis: EdUFSC, 2008.


"Alemãozinho", fotógrafo, se uniu aos rebeldes
e depois prestou serviços às forças legais.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (45)

Foto já conhecida do grupo de José Fabrício encontrada numa
parede na casa da família Machado - interior de Vargem Bonita-SC.


Cenários e personagens de uma emboscada

Vamos conhecer algumas pessoas e situações relacionadas diretamente com a emboscada e morte de José Fabrício das Neves, ocorrida em janeiro de 1925 - aparentemente no dia 29. Os capítulos "Os Ruas" e "A compra da Fazenda Velha" foram publicados (com pequenas alterações) no livro "O mato do tigre e o campo do gato - José Fabrício das Neves e o combate do Irani" (Florianópolis: Insular, 2007).

Além disso, são reproduzidas as cinco páginas do contrato de compra e venda de uma fazenda entre os Ruas e José Fabrício, negócio apontado como um dos motivos da emboscada. O valor da transação nos dá uma idéia da riqueza acumulada por José Fabrício, um antigo maragato de 1893 e "jacunço" do Contestado, alçado a condição de "coronel". Ele controlava toda a região dos atuais municípios de Concórdia, Arabutã e Itá, entre outros, com iarticulação e nfluência em Campos Novos, todos em Santa Catarina, e cidades do Rio Grande do Sul e do Paraná.


Os Ruas

Simão Ruas e Marcelino Ruas são citados como “pioneiros” de Joaçaba por Alexandre Muniz de Queiroz (QUEIROZ, 1967, p. 212), sendo comerciantes. Simão, “comerciante e comprador de erva-mate”, morava na margem direita do rio do Peixe, no lado oposto a então Estação Capinzal, desde os tempos em que a região pertencia ao Paraná. “O acesso era por uma balsa, tocada por Afonsinho Silva”, recorda Waldomiro Silva. Seu irmão, Francisco, conhecido por Chico Ruas, morava nas imediações (SILVA, 1987, p. 20).

Marcelino se casou com Elvira Pedrini, filha do coronel Pedrini Primo Biggin, de origem italiana, comerciante e um dos mais antigos moradores de Joaçaba. Outro filho de Biggin, Roberto Pedrini, se casou com Benvinda Ruas (QUEIROZ, 1967, p. 45). Chico Ruas seria mais tarde sogro desse mesmo Roberto. Pouco depois chegou de Passo Fundo-RS, Thomaz Camilo Ruas, “que tomou conta da casa comercial e compra de erva-mate”, enquanto Simão “viajava constantemente para o Rio Grande do Sul e Argentina” a negócios (SILVA, 1987, p. 21).

José Waldomiro Silva acompanhou de perto essa movimentação comercial, pois na época trabalhava como “caixeiro ou balconista do sr. Simão Ruas, onde também era empregado o caboclo Antônio de Oliveira, vulgo Antônio Lambança”. Simão “foi homem de muita sorte, pois chegou a acertar por duas vezes na loteria e ganhar o prêmio maior, que na época era de 50 contos de réis”, vindo se tornar um “grande empresário de erva-mate e proprietário de grandes fazendas (ervais)”, inclusive no Paraná, na localidade de Covó e município de Mangueirinha, na região de Clevelândia.

Comércio de Simão Ruas. (Fonte: Queiroz, 1967)

Mais tarde, por volta de 1921, Simão e seus irmãos adquiriram as casas, armazéns e outras instalações de Eugênio Lamaison, em Limeira (Joaçaba), que atuava no ramo de compra e venda da erva-mate. Simão construiu no local “a primeira casa de material” em Erval”, próximo a ponte Jorge Lacerda, com dois pavimentos, “onde residiu com sua família e manteve escritório no andar térreo”. Simão, entretanto, ao mesmo tempo que ganhava muito dinheiro, “gostava muito de corridas de cavalo e também de jogo de pôquer, talvez uma das razões de ter morrido em dificuldades financeiras (pobre)” (SILVA, 1987, p. 21).

Na época em que inaugurou o estabelecimento, um cidadão de Porto União também se instalou na cidade e no mesmo ramo de erva-mate, abrindo seu negócio na casa e ferraria de João Perez, na região central do atual município de Joaçaba. “Para evitar concorrência”, conta José Waldomiro, “a firma Ruas começou a pressionar o concorrente”, que não se intimidou e prosseguiu com a empresa. Certo dia, os “rapazes dos Ruas”, segundo o citado autor, “armados de winchesteres e revólveres”, atacaram o escritório do concorrente e, “em número de cinco ou seis, entre os quais o de nome Nefre que tinha fama de bem bom”.

O comerciante de Porto União já esperava o ataque e assim que o grupo agressor chegou, “vindo da Empresa Ruas”, foi recebido à bala, “travando-se a seguir violento tiroteio, tendo os agressores se retirado com dois feridos”. Ninguém morreu, mas cinco ou seis pessoas de ambos os lados saíram feridas e “a vista disso, o moço de Porto União resolveu desistir de comprar erva-mate em Limeira” (SILVA, 1987, p. 39-40).

Fonte: Queiroz, 1967. (Clique para ampliar)


A compra da Fazenda Velha

A memória oral em Irani registra a presença de uma fazenda como motivo das divergências entre Marcelino Ruas e José Fabrício. “Os irmãos Ruas lá de Limeira se davam bem com ele [Fabrício], depois eu sei lá o que, eles se desentenderam, então ficaram de contra, por causa de terra”, diz Antônio Fabrício das Neves, que cita a presença de uma “sociedade” e uma “fazenda”, “banco”, “dinheiro dos bois”. Os Ruas, segundo Antônio, “só vinham aqui pra querer matá ele, como de fato mataram. Não sei qual era o motivo, mas era por causa do terreno”.

Agenor Antunes das Neves acrescenta outras informações. Fabrício teria adquirido de Marcelino Ruas uma fazenda, “mas ele [Marcelino] não contou que era hipotecada” e “quando estava quase terminando de fazer o pagamento, faltava pouco, ele não podia, ele já tinha gastado o dinheiro, e diz que tinha de desempenhorar a fazenda”, ou seja, retirá-la da penhora em que se encontraria junto a algum banco. Agenor diz que para efetuar o pagamento da fazenda, Fabrício “derrubava não sei quantas mil toras por mês”, despachadas pelo rio Uruguai até São Tomé, na Argentina. Fabrício “pegava o recurso e ia pagar pro Ruas”, garante.

As falas de Antônio e Agenor fazem mais sentido quando examinamos um “Contrato de promessa de compra e venda”, assinado entre os proprietários da Simão Ruas & Cia, “industriais estabelecidos na Estação de Erval”, e “o comprador o cidadão Jozé Fabrício das Neves, casado, fazendeiro e residente em sua fazenda denominada Laranjeira”. O documento foi lavrado e assinado no dia 15 de junho de 1924, no Cartório de Paz do Distrito de Sertãzinho, município de Cruzeiro (Joaçaba), sob a guarda do Cartório de Paz de Irani. Como representante da firma Simão Ruas & Cia aparece Marcelino Camilo Ruas, “residente em Erval”.

O contrato possui 12 cláusulas. A primeira especifica o objeto de compra – a Fazenda Velha, “parte da Fazenda Irani”, com 21 milhões de metros quadrados – e define os limites do imóvel. A segunda estabelece o preço em seis contos de réis o milhão de metros quadrados e a terceira, quarta e quinta detalham a forma de pagamento. A primeira prestação, a ser paga em 30 dias, seria em terras e José Fabrício deveria entregar aos Ruas a escritura de compra e venda obtida da Companhia São Paulo-Rio Grande, num total de 12 colônias. Elas deveriam ser “escolhidas pelos outorgantes”, ou seja os irmãos Ruas.

A segunda prestação deveria ser paga até o dia 30 de agosto seguinte (1924), correspondente a “200 vigas de cedro classificados de primeira qualidade para exportação e com uma média de setenta centímetros de diâmetro da ponta fina”, e 23 palmos de comprimento, organizadas em duas balsas, atadas e em “condições de viajar para São Thomé”. Elas deveriam ser entregues “no porto da sede da colônia Itá”. Essa segunda prestação previa a entrega de “porco gordo”, no valor equivalente a cinco contos de réis. A mercadoria devia ser deixada na Estação de Erval até o dia 15 de agosto daquele mesmo ano. Os porcos seriam “pesados vivos” e cada quilo equivaleria a 1.200 réis.

A terceira prestação da compra da Fazenda Velha, a ser paga até 15 de setembro daquele ano de 1924, seria em 300 vigas de cedro (40 mil réis por unidade), com as mesmas dimensões das citadas anteriormente, e teriam que ser deixadas nas barrancas do rio Uruguai. O restante do pagamento, segundo o contrato, “será dividido em dez prestações iguais em madeira de cedro e louro”, em vigas, a ser feito a cada trimestre.

A sexta cláusula do referido contrato previa que os Ruas “obrigam-se” a emitir “recibo bem claro de todas as prestações que este [Fabrício] for efetuando em madeiras, porcos ou dinheiro”. Ao final dos pagamentos, os Ruas estariam obrigados a entregar a “competente e pública escritura de venda”. A cláusula seguinte (sétima), estabelece que na entrega da escritura, José Fabrício devolveria aos Ruas “os valores correspondentes ao imposto territorial que estes houverem pago, de esta data a data em que for escriturada”.

José Fabrício poderia usufruir o imóvel desde o momento da assinatura do contrato (15 de junho de 1924) e em caso do não pagamento de uma das prestações, teria 90 dias para fazê-lo. Se deixasse de quitar a dívida, o contrato ficaria anulado (cláusulas oitava e nona). Se os Ruas não cumprissem o previsto no contrato, deveriam indenizar Fabrício com o dobro das prestações pagas até o momento em que surgisse o problema (cláusula décima). O contrato teria vigor por dois anos e meio e caso o pagamento integral fosse efetuado dentro de um ano, haveria um desconto de 10%, segundo a cláusula décima primeira.

Por fim, prevê a 12ª cláusula, os 21 milhões de metros quadrados da Fazenda Velha custariam um total de 126 contos de réis. A assinatura do contrato entre José Fabrício e Marcelino Ruas (Simão Ruas & Cia), foi testemunhada por Sílvio Neves Bley, e Dinarte José Antunes, que também assina o documento. Não foi possível prosseguir as pesquisas e acompanhar os detalhes do cumprimento desse contrato, estando disponível num primeiro momento apenas parte da memória oral e escrita e outras informações daqueles tempos.

Neto de José Fabrício das Neves, residente em Pinhão-PR, Assis Antunes das Neves também garante que seu avô pagou rigorosamente as prestações. Essa informação ele ouviu mais de uma vez de seu pai, Afonso Antunes das Neves. “O José Fabrício comprou os campos do Irani, pagou o combinado, mas o Marcelino Ruas não tinha como dar a escritura por causa da penhora no banco”, explica Assis. “A única saída dele era matar o Fabrício e os capangas dele”, pois caso contrário seria morto. Afinal, seu avô “lidava com erva-mate, madeira, porco, tinha armazém, trabalhava com muita gente, dava serviço para muita gente. E ele tinha o povo das batalhas e o povo que trabalhava", garante.

Agenor Antunes das Neves é primo de Assis, os dois nunca se conheceram, mas a versão deles é semelhante, ou seja, Marcelino Ruas ficou sem saída. “Ele sabia que o Fabrício tinha muita gente lá, tinha gente da pesada”, então “fizeram essa emboscada”. Em outro momento da entrevista enfatiza: “Ele [Fabrício] tinha muitos capangas, se trouxesse virava em nada os Ruas”, observa Assis.


Referências

QUEIROZ, Alexandre Muniz de. Álbum comemorativo do centenário do município de Joaçaba. Joaçaba: IP-Paraná, 1967.

SILVA, José Waldomiro. O Oeste Catarinens: memórias de um pioneiro. Florianópolis: Edição do Autor, 1987.



Contrato de compra e venda da Fazenda Velha
(Irani-SC),
assinado no dia 15 de junho de 1924,
no Cartório de
Paz do Distrito de Sertãzinho,
município então de Cruzeiro (Joaçaba-SC)

(Clique na imagem para ampliar)


O documento original se encontra no Cartório do Irani
(Irani-SC). Livro de Notas aberto em 7 de maio de 1918.
As cinco folhas foram copiadas e autenticadas.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Lumber e o Contestado, segundo Valentini


A instalação da Southern Brazil Lumber and Colonization
e o desencamendo da guerra na região do Contestado.



Por Delmir José Valentini

A história da madeireira e colonizadora Lumber, edificada pelo norte-americano Percival Farquhar, na Região do Contestado, no início do Século XX, está intrinsecamente ligada à história da Guerra do Contestado. Farquhar, com ampla visão dos aspectos econômicos dos países em que atuou e com ampla bagagem de experiências em investimentos desta natureza, iniciou, no ano de 1909, a instalação da grande madeireira e colonizadora em Três Barras.

O brasilianista, Todd Diacon, observou que Farquhar, com “olhos de águia”, percebeu as reservas de pinheiros do Paraná e Santa Catarina como grande fonte de riqueza natural para serem industrializadas e comercializadas (DIACON, 2002, p. 51). O processo começou com a construção da ferrovia e continuou com a exploração da madeira. Assim, justificaria grandes investimentos que culminariam com a colonização da região e garantiriam elevados lucros aos investidores.

A atividade cafeeira, no Centro Oeste, absorveu centenas de milhares de imigrantes. Segundo Farquhar, era visível o anseio destes imigrantes de se tornarem proprietários de terras, e que também seria de interesse público a ocupação efetiva na Região do Contestado. A concessão, por parte do governo brasileiro, de vasta faixa de terra ao longo das margens dos trilhos, facilitaria os interesses mútuos.

Ligada ao processo de industrialização e urbanização brasileira, a demanda por madeira exerceu forte pressão sobre a Floresta Ombrófila Mista (KLEIN, 1984) e grande parte desta fabulosa riqueza natural foi destinada aos incipientes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro. No plano externo, o mercado da madeira se expandiu com as exportações, principalmente pelos portos de São Francisco e Paranaguá, de onde o pinho retirado desta Região ganhava os mercados mundiais.

Entre 1900 e 1910, observa-se uma atividade crescente, passando de 189:094$210 para 626:402$911. Segundo Rufino P. Almeida, neste período, aproximadamente 3% da receita catarinense advinha da madeira. Com a instalação da Lumber (1909), foi grande o aumento da produção e exportação, elevando os índices, com algumas variáveis em determinados momentos (Durante a Primeira Guerra Mundial e no contexto da quebra da bolsa de valores de Nova Yorque em 1929), sendo possível perceber a expansão e importância econômica nos anos que antecedem a sua nacionalização, chegando, a partir de 1932, a um crescimento vertiginoso. Os índices do período (1910 a 1930) elevam-se a mais de 8%. (ALMEIDA, 1979)

O aproveitamento comercial da madeira retirada da Floresta Ombrófila Mista (KLEIN, 1984) está ligado às pressões dos desmatamentos para abrir áreas agrícolas e formação de pastagens. Tornou-se comum as empresas colonizadoras venderem as terras e garantirem a reserva da madeira sobre a área, uma vez que o colono tinha interesse na terra sem mata para proceder nos lavrados o cultivo de lavouras e a criação de animais.

Da primitiva área de mais de 200.000 quilômetros quadrados no Sul do Brasil, coberta de araucárias, do início do Século XX, em aproximadamente um século, encontramos nos mesmos locais apenas 3% da cobertura original, mostrando que o desaparecimento da vasta floresta procedeu a um processo rápido de transformações que merecem atentos estudos.

Até o ano de 1912, Farquhar recebeu grandes empréstimos de bancos europeus e promoveu grandes investimentos. A partir de 1912, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, cessaram os empréstimos e os altos custos dos investimentos levaram Farquhar a falência. Em 1914, W. Cameron Forbes foi nomeado pela Corte do Maine como interventor da Companhia Brazil Railway Company, que operou no Brazil até o ano de 1940, quando foi nacionalizada, através do Decreto Lei 2436 do Governo de Getúlio Vargas. (DIACON, 2002, p. 50)

Em toda a história da Lumber, podemos destacar a presença de grande número de trabalhadores, principalmente imigrantes ou descendentes destes e as profundas mudanças causadas pela presença do capital internacional na Região. Em 1912, trabalhavam 400 homens na madeireira de Três Barras, aumentando para 655 em 1915. Existem registros que confirmam que a serraria de Três Barras ficou parada entre agosto de 1914 e junho de 1915. A crise foi contornada com grandes vendas para a Argentina, no ano de 1916, segundo Diacon, de US$ 166.500 (DIACON, 2002, p. 51).

Analisando os livros onde constam os pagamentos durante os anos de 1923 até fevereiro de 1929, encontramos um número pouco variável de trabalhadores, tanto na parte interna da madeireira, onde geralmente o número de operários ficava numa média de 230 e externamente, nas matas, onde o número aproximava-se de 310 homens.

Internamente, entre as diversas atividades, predominavam os trabalhadores da cepilhadeira com dois turnos (dia e noite) com aproximadamente 50 homens em cada turno. Além da empilhação e oficina, que também reuniam grande número de trabalhadores, existiam as tarefas que demandavam menos operários e, ainda, as atividades de escritório, armazém, farmácia, hospital entre outras, delegadas aos chefes, encarregados e dirigentes.

Externamente, chama a atenção o número de operários cortadores de toros, entre 30 e 50, em constante deslocamento nas matas, e um número menor de operários em atividades de operação de guinchos, donkeys, corte de lenha, locomoção, carregadores, apontadores e conservas.

Tanto internamente, quanto externamente, a presença de operários estrangeiros, imigrantes ou descendentes, é maciça, e pode-se observar a presença polonesa em praticamente todas as atividades. No donkey número 2, em outubro de 1923, trabalhavam 12 operários. Eis os sobrenomes: Kozak, Scorey, Kozakevicz, Repula, Jankok, Scheuky, Holowka, Sczerbisky, Wiescosky, Maralevicz, Wolk e Nicolau Budi.

Valdemiro Noga, antigo trabalhador da Lumber, veio da Grande Ucrânia e trabalhou até depois da empresa ser incorporada ao patrimônio nacional. Contou sua experiência enquanto operador de guinchos, atuando na retirada das araucárias da Floresta Ombrófila Mista.

Praticamente, não existem estudos sobre a atuação da Southern Brazil Lumber and Colonization Company no Brasil no início do Século XX. Estimativas dão conta de que a Lumber cortou e beneficiou milhões de metros cúbicos de madeira durante os anos de 1909 e 1939. Teve como engenho central a grande serraria de Três Barras e filiais em Calmon e Valões, em Santa Catarina. Atuou com fazendas no Paraná. Com escritórios em São Paulo, São Francisco - SC e em Paranaguá - PR. Na época, transformou-se em grande complexo produtor e exportador de madeireiro.

O sistema de mecanização e a divisão dos trabalhos desde a retirada das árvores da floresta até o processo final de embarque revelam o meio mais eficaz de obter lucros com os investimentos em alta tecnologia, mecanização e qualificada mão-de-obra de imigrantes. Sistema de empilhamento para secagem, aproveitamento de madeira para fábrica de caixas e até na venda de sobras, como lenha, para os funcionários, revelam a complexidade e atenção aos possíveis lucros, procurados até nos mínimos detalhes.

Mesmo depois de nacionalizada, continuou operando através da Southern Brazil Lumber and Colonization Company Incorporada. Registros de contratos entre fazendeiros e a Lumber Incorporada mostram que no ano de 1942 foram adquiridos centenas de milhares de árvores de araucárias, próximas à Serra do Espigão, vendidas por fazendeiros que firmavam contratos de retirada das árvores das suas propriedades. Um levantamento dos contratos feitos com fazendeiros, registrados no Cartório de Paz de Curitibanos , onde se encontram várias dezenas destes documentos, apontam negócios envolvendo milhões de árvores em áreas de terras onde, após a exploração comrecial da madeira, as terras eram comercializadas ou regularizadas as posses.

No Cartório de Paz de Curitibanos, estão os contratos registrados, através de escritura pública de arrendamento, assinados pelo procurador da Lumber, Sr. João Pacheco Sobrinho, da Vila de Três Barras, que percorria a região comprando o direito de extração de pinho, imbuia e outras madeiras para exploração industrial e comercial. Diversas condições eram estabelecidas nos contratos, entre outras, as árvores cortadas deveriam medir 1(um) metro acima do solo ao serem derrubadas (quinze polegadas inglesas). O valor estabelecido era de 3$000 (Três mil réis) cada uma e seriam marcadas na presença de ambas as partes. O prazo de retirada ficava estabelecido em 10 anos, podendo ser prorrogados por mais dez.

Ao assinar os documentos do arrendamento, o procurador também reservava o direito da Lumber de também construir linhas, caminhos, estradas de rodagem, de vias férreas sem condições de indenizar se isso causasse qualquer dano ao terreno. Podia também tirar lenha, nó de pinho e dormentes do terreno arrendado e, ainda, o direito de sublocar a quem lhe conviesse, pois o direito do contrato continuava valendo mesmo em caso de transmissão do terreno por qualquer título.

Torna-se impossível, pelos registros existentes precisar todos os contratos de arrendamentos para retirada posterior da madeira ou mesmo de contratos de compra das terras. No entanto, alguns chamam a atenção pela quantidade de terra e pela localização. Assim, encontram-se nos arquivos do Cartório de Curitibanos, registrados no ano de 1948, entre o procurador da Lumber e os proprietários, contratos de arrendamento dos seguintes locais: distrito de Caragoatá, da Comarca de Curitibanos, e Alto da Serra do Espigão, somando, juntos, milhões de hectares de terra.

A preocupação com a retirada das araucárias de forma indiscriminada começou somente após a nacionalização da Lumber. Uma portaria assinada em 01 de fevereiro de 1940 instituiu um serviço administrativo geral para a comercialização do pinho brasileiro, estabelecendo regras e limitando a quantidade de pinheiro para ser retirada e comercializada. No ano seguinte, o Decreto-Lei 3124, de 19 de março de 1941 criou o Instituto Nacional do Pinho. Sem dúvidas, a atitude mais enérgica veio em 1946, através do Decreto-Lei, Número 9647, de 22 de agosto do mesmo ano, quando o governo brasileiro adotou normas proibitivas para a exportação de madeira bruta ou industrializada no País.

Ainda dentro das iniciativas oficiais, encontramos, em período recente da história da Floresta Ombrófila Mista, um amplo programa de incentivos fiscais ao reflorestamento com espécies exóticas do gênero “Pinus”, assinado pelo Marechal Castelo Branco em !966 e, no ano seguinte, a criação do IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) que substituiu o INP (Instituto Nacional do Pinho).


Um desastre ecológico, o fim de um ecossistema que tinha como fundamento a gigante árvore de pinhas, com sementes nutritivas, para a fauna, índios e caboclos? O progresso que chegou com os trilhos da ferrovia São Paulo - Rio Grande? A colonização que depositou nesta terra sementes diferentes e braços europeus para o seu cultivo? Substituição da floresta preta de pinheiros pelo deserto verde do pinus illiotis, efêmera floresta lucrativa?

A edificação da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, iniciada em 1909, a construção da ferrovia São Paulo Rio Grande, entre os Rios Iguaçu e Uruguai, inaugurada em 1910, e o conflito armado que ocorreu entre os anos de 1912 e 1916 na Região do Contestado, constituem eventos cruciais no entendimento da formação social, econômica, política, religiosa, cultural e ambiental nas terras contestadas. O estudo comparado em cada contexto possibilita a compreensão das profundas mudanças, principalmente econômicas e ambientais, e os fatores do desencadeamento do maior conflito social brasileiro ocorrido durante as primeiras décadas do Século XX.

A instalação da Southern Brazil Lumber and Colonization Company nas proximidades da linha tronco da ferrovia São Paulo - Rio Grande, está relacionada ao projeto grupo econômico liderado por Percival Farquhar que começou a instalar a Lumber na Região do Contestado ainda no ano de 1909, mesmo antes da inauguração da ferrovia que cortou as terras contestadas. Estava nascendo o maior complexo madeireiro do mundo e as transformações ambientais que alteraram profundamente o panorama regional.

A construção da ferrovia São Paulo Rio Grande, cujo planejamento remonta o segundo império brasileiro, só foi concluída no ano de 1910 e desencadeou um amplo processo de ocupação e povoamento, valorização das terras circunvizinhas, institucionalização da propriedade privada, espoliação de antigos moradores, entre outras significativas transformações.

Maurício Vinhas de Queiroz destacou que, “em 1911 ocorreram os primeiros despejos” dos antigos moradores da Região do Contestado, expulsos das proximidades da ferrovia, cujas terras agora pertenciam para a empresa Brazil Railway Company. (VINHAS DE QUEIROZ, 1977)

O primeiro ajuntamento de sertanejos na Região do Contestado ocorreu em seguida, no ano de 1912. Algúns fatos ocorridos, no ano que antecedeu, chamam a atenção. Os sertanejos juntaram-se em torno de José Maria, um benzedor e curandeiro que receitava ervas, benzia e aconselhava, poderes antes exercidos pelos monges João Maria de Agostini e João Maria de Jesus. Com José Maria, principiou a aglutinação que gerou a Guerra do Contestado iniciada em 1912, estendida até 1916 e que deixou um saldo de aproximadamente oito mil brasileiros mortos, a grande maioria sertanejos pobres que viviam na Floresta Ombrófila Mista.

O desencadeamento da Guerra do Contestado está relacionada diretamente aos fatos que ocorreram na véspera do conflito. Não há como negar que a construção da ferrovia, a exploração comercial da madeira e o processo de colonização foram elementos condicionantes no desencadeamento do conflito armado que foi denominado Guerra do Contestado.

A chegada de colonos, descendentes de europeus, para trabalharem na Lumber e desbravar a floresta Ombrófila Mista, abriu espaço para os colonos que desembarcaram ao longo das estações da ferrovia São Paulo Rio Grande e se internaram nas terras novas para o cultivo de cereais e criação de animais e despertaram a ira dos caboclos que partiram para a desforra. Entre os fatos que podem exemplificar, está o ataque do grupo liderado por Francisco Alonso à Colônia do Rio das Antas, em novembro de 1914, resultando em mortes em ambas as partes, entre outras, a do próprio líder sertanejo.

No dia 06 de setembro de 1914, o alvo dos sertanejos rebeldes foi a própria Lumber, quando a Estação de Calmon foi queimada e a filial da madeireira norte-americana foi alvo de saque e incêndio. Herculano Assumpção registrou que, na porta de uma venda, escrito a lápis, ficou uma carta onde os sertanejos reclamam do governo que “toca os filhos brasileiros dos terreno que pertence à nação e vende para o estrangeiro (....) Nois não tem direito de terras tudo é para as gentes da Oropa” (ASSUMPÇÃO, 1917, p. 245).

O desbaratamento total das cidades santas, o final da Guerra do Contestado, o processo de limpeza para impedir novos ajuntamentos e a assinatura do acordo entre Santa Catarina e Paraná, determinando os limites para jurisdição de cada Estado litigante, colocou colonos e caboclos no mesmo chão, com forte atuação das Companhias Colonizadoras na instalação dos núcleos coloniais e acesso à terra por meio de pagamentos e legalizações de propriedades em cartórios públicos.

Não precisa nem escrever que os caboclos continuaram com dificuldades para ter acesso àquilo que tinham antes da chegada da ferrovia. Segundo Paulo Pinheiro, ao findar a Guerra do Contestado, o General Setembrino de Carvalho trocou telegramas com os governadores de Santa Catarina e do Paraná, sugerindo o estabelecimento dos sertanejos prisioneiros em colônias na própria Região. O General recebeu da Inspetoria Federal de Povoamento do Solo (Ministério da Agricultura) a informação de que “não existem terras disponíveis, sendo as colônias existentes organizadas para a recepção de imigrantes europeus”(MACHADO, 2006, 324).


Bibliografia

ALMEIDA, Rufino Porfírio. Um aspecto da economia de Santa Catarina: A Indústria Ervateira. Dissertação de mestrado em História. UFSC, 1979.

ASSUMPÇÃO, Herculano Teixeira. A Campanha do Contestado. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1917, V. I.

ASSUMPÇÃO, Herculano Teixeira. A Campanha do Contestado. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1918, V. II.

DEAN, Warren. A ferro e fogo – a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

DIACON, Todd A. Millenarian Vision, Capitalist Reality – Brazil’s Contestado Rebellion, 1912-1916. Fourth printing, Duke University Press, 2002.

GAULD, Charles A. Farquhar o Último Titã – Um Empreendedor Americano na América Latina. Tradução Eliana Nogueira do Vale. São Paulo: Editora de Cultura, 2006.

GUERRA, Miguel Pedro e outros. Exploração, Manejo, e Conservação da Araucária (Araucária Angustifólia). In Sustentável Mata Atlântica – A exploração dos seus recursos florestais. 2 ed., São Paulo: SENAC, 2003.

HEINSFELD, Adelar. A Questão de Palmas entre Brasil e Argentina e o Início da Colonização no Baixo Vale do Rio do Peixe-SC. Joaçaba: UNOESC, 1996.
KLEIN, R. M. Aspectos dinâmicos da vegetação do Sul do Brasil. Sellowia, Itajaí, Nr. 36, P. 5-54, 1984.

KLEIN, R. M. Aspectos dinâmicos da vegetação do Sul do Brasil. Sellowia, Itajaí, Nr. 12, P. 17-44, 1960.

MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a Formação e a Atuação das Chefias Caboclas (1912-1916). Campinas – SP: Editora da UNICAMP, 2004.

SILVA, R. Cavallazzi. Terras Públicas e Particulares – o Impacto do Capital Estrangeiro sobre a Institucionalização da Propriedade Privada (um Estudo da Brazil Railway Company no Meio Oeste Catarinense). Dissertação de Mestrado. Florianópolis SC: UFSC, 1983.

VALENTINI, Delmir José. Da Cidade Santa à Corte Celeste: Memórias de Sertanejos e a Guerra do Contestado. 3 ed. Caçador SC: UnC, 2003.

VINHAS DE QUEIROZ, Maurício. Messianismo e Conflito Social (A Guerra Sertaneja do Contestado 1912-1916). São Paulo: Ática, 1977.


Produção

Delmir José Valentini natural de Sul Brasil-SC é mestre em História do Brasil pela PUC-RS e acaba de defender sua tese de Doutorado em História do Brasil na PUC-RS sobre o tema do presente artigo.


Livros

VALENTINI, Delmir José (2004). História política e trajetória do Legislativo Caçadorense. Caçador SC: Universidade do Contestado/Câmara Municipal de Caçador SC, 440p. 1v.: ISBN 85-98641-02-2 (anexo 1 – cópia da capa 1a. Edição)

VALENTINI, Delmir José (2003). Da cidade santa à corte celeste: memórias de sertanejos e a guerra do contestado. 3. ed. Caçador SC, Universidade do Contestado-UnC. 166 p. 1v.: ISBN 85-98641-01-4 (anexo 2 – cópia da capa 2a. Edição) (Apresentado como Dissertação de Mestrado em História do Brasil na PUC-RS no ano de 1997. Em 1998 foi publicada a primeira edição)


Co-autoria

VALENTINI, Delmir José (2001). A utilização da História Oral como fonte de pesquisa sobre a Guerra do Contestado. In FRÓES, Vânia Leite (organizadora). Livro de Resumo do XXI Simpósio Nacional de História “A História no Novo Milênio:entre o individual e o coletivo”. Niterói: ANPUH; Niterói: UFF, 2001. (anexo 3 – cópia da capa e da citação)

VALENTINI, Delmir José (2003). Guerra do Contestado: Construção da Imagem do Caboclo. In RAMPINELLI, Waldir José (organizador). História e Poder: a reprodução das elites em Santa Catarina. Florianópolis, Insular. 224 p. 1 v.: ISBN 85-7474-172-8 (anexo 4 – cópia da capa e sumário)

VALENTINI, Delmir José (2003). História do Contestado: Identidade Cultural e Importância para a Educação. In LOMBARDI, José Claudinei (organizador). Temas de Pesquisa em Educação. Campinas SP: Autores Associados; HISTEDBR; Caçador, SC: UnC, (Coleção educação contemporânea). 262 p. 1 v.: ISBN 85-7496-072-1 (anexo 5 – cópia da capa e sumário)

VALENTINI, Delmir José e outros (2004). Tropeirismo Regional: O singular tropeiro de suínos pelos caminhos históricos de Curitibanos. In SANTOS, Lucila Maria Sbarbi e BARROSO, Vera Lucia Maciel (organizadoras). Bom Jesus na Rota do Tropeirismo no Cone Sul. Porto Alegre: EST. 763 p. 1 v.: ISBN 98-13 981.651 355.692.3 (anexo 6 – cópia da capa e o sumário)

VALENTINI, Delmir José (2005). Guerra do Contestado. In DOLBERT, Aldo (organizador). Maria Rosa – A virgem comandante da Guerra Sertaneja do Taquaruçu. Curitibanos SC: Thipograf, 2005. (anexo 7 – cópia da capa e sumário)

VALENTINI, Delmir José (2006). O tropeirismo de suínos na região do Contestado e sua influência no incipiente processo agroindustrial. In ZOTTI, Solange Aparecida(organizadora). História faz História – Contribuições ao estudo da História Regional. Concórdia SC: Universidade do Contestado: HISED, 2006 (anexo 8 – cópia da capa e sumário)


Artigos

VALENTINI, Delmir José e WITTE, Gerson (2003). Contextualização Histórica e Leitura Visual do Painel “Contestado – Terras Contestadas”, de Hassis. Revista Virtual Contestado e Educação n. 003, janeiro – março de 2003. ISSN n. 1678-0264 (anexo 9 –cópia da capa)

VALENTINI, Delmir José (1999). Tropeiros, Ervateiros e Balseiros: memoráveis personagens da História do sertão catarinense. Caçador SC – Revista ÁGORA. ISSN 0104-7507 (anexo 10 – cópia da capa)

VALENTINI, Delmir José (2000). Brasil 500 anos: a sociedade que estamos construindo. Caçador SC – Revista ÁGORA. ISSN 0104-7507(anexo 11 – cópia da capa)


Nota - A foto de Delmir Valentini é de Marco Cezar, que também reproduziu as imagens do Museu do Contestado (Caçador-SC) usadas na postagem.