quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Violência, coronelismo e cotidiano nos
tempos de José Fabrício das Neves



Detalhe de foto onde aparecem José Fabrício e seus
homens. Acervo: Reinaldo Antunes (Pinhão-PR).


Violências nos sertões

“O mundo do sertão do Contestado”, observa Monteiro (1972, p. 21), “é unanimemente descrito como um mundo de violência. Violência por questões de honra, violência por questões políticas, violência por questões de terra”. De certa forma, segundo o autor, essa violência era “consagrada nos costumes e as virtudes heróicas do campeador decantadas e transformadas em legenda”. Se a disputa era por terras, entram em jogo os interesses de grandes famílias e parentelas. No caso da honra, “agressor e vítima eram vítimas de um destino, que podia levar alguns à morte, lançando outros no banditismo como modo normal de vida: a honra ofendida e defendida constituem patrimônio de um grupo”.

No caso da violência política, a luta era travada em torno de chefes e interesses locais muito concretos, nunca em “torno de princípios ou de interesses materiais estranhos ao universos do sertanejo”. O crime propriamente dito no sertão era o de furto, particularmente o de gado, enquanto “o bandido solitário, que iniciava sua carreira a partir de um homicídio de honra e podia tornar-se um matador profissional, não sofria condenação moral – era vítima do destino”.

Nesse mesmo sentido, o chefe de uma grande família, que “comandava uma vasta clientela, era honrado, mesmo que suas posses de fundamentassem na violência expropriadora contra chefes rivais”, quando “a violência contra adversários políticos estava nos costumes”. Nada disso era crime, ou moralmente condenável. O autor diferencia esse tipo de violência, “costumeira”, com a inovadora, irrompida durante o conflito do Contestado – “se a violência costumeira faz-se entre homens que se representam no nível ideológico como iguais ou potencialmente iguais, ou entre homens efetivamente beneficiados por uma autonomia necessária, a violência inovadora surge como ruptura da consciência do nivelamento” (MONTEIRO, 1972, p. 28).

Fabrício e seu estado-maior. Catanduva-SC, 1919.
Acervo: Cecília Talim (Concórdia-SC).


Coronelismo

Falamos em coronelismo segundo o conceito clássico de Victor Nunes Leal, observados alguns reparos feitos por outros autores, citados adiante, e as conclusões da pesquisa empírica realizada. Para Leal (1997, p. 40), o coronelismo é, “sobretudo”, um “compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras”. Resulta de uma “superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada”, não sendo “mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constituiu fenômeno típico de nossa história colonial”. Estamos diante de uma “forma peculiar de manifestação do poder privado”, ou uma “adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa”.

O autor situa as bases do fenômeno na estrutura agrária brasileira, que sustentam as “manifestações de poder privado ainda tão visíveis [1949] no interior do Brasil” (LEAL, 1997, p. 40). Privatismo alimentado pelo poder público, destaca o autor, sob um “regime representativo, com sufrágio amplo, pois o governo não pode prescindir do eleitorado rural, cuja situação de dependência ainda é incontestável” (LEAL, 1997, p. 41). A principal crítica a esse modelo, feita por autores como José Ibarê Dantas, entre outros, e adotada por Machado (2004, p. 90-104), está na pouca importância que o processo eleitoral teria para o coronelismo. Ou seja, mais do que investir em eleições em que poucos votavam, e cujos resultados podiam ser alterados, os coronéis preferiam investir em milícia armada, na capacidade de mobilizar homens em armas em curto espaço de tempo.

No caso de José Fabrício das Neves, observamos que ele se aproxima do processo eleitoral através de assessores (expressão de Antônio Martins Fabrício das Neves em suas entrevistas). Sabemos que ele acompanha a movimentação eleitoral, mas não aparece como candidato ou dirigente partidário, o que ainda pode ou não ser confirmado com novas pesquisas. Como veremos, seu poder estava realmente em mobilizar tropas armadas.

Outra característica do coronel é a liderança, segundo Leal (1997, p. 41) aspecto que “salta aos olhos”. Segundo o autor, “dentro da esfera própria de influência, o ‘coronel’ como que resume em sua pessoa, sem substituí-las, importantes instituições sociais”, e cujos detalhes empíricos específicos do estudo relacionamos anteriormente.

Ele, o coronel, também exerce ampla “jurisdição sobre seus dependentes, compondo rixas e desavenças e proferindo, às vezes, verdadeiros arbitramentos que os interessados respeitam”. Além disso, controlam “com ou sem caráter oficial, extensas funções policiais, de que freqüentemente se desincumbe com a sua pura ascendência social”, e que “eventualmente pode tornar efetivas com o auxílio de empregados, agregados ou capangas” (LEAL, 1997, p. 42). Também nesse caso, as evidências factuais foram relatadas nos capítulos precedentes.

Preocupado com a proliferação do uso do conceito desenvolvido por Leal, José Murilo de Carvalho discute a “imprecisão e inconsistência” com que é referido, muitas vezes confundido com mandonismo e clientelismo, que são característicos do coronelismo. “O coronelismo é um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos”, sendo um fenômeno datado. Surge na “confluência de um fato político” (o federalismo implantado pela República no lugar do centralismo do Império) numa “conjuntura econômica” específica, se extinguindo na década de 1930. Com a República, continua o autor, surge a figura do governador, “novo ator político”, eleito “pelas máquinas dos partidos únicos estaduais”, arregimentando as “oligarquias locais, das quais os coronéis eram os principais representantes” (CARVALHO, 1997, p. 1).

A conjuntura econômica a que se refere Carvalho, discutida inicialmente por Leal, era a de decadência dos grandes fazendeiros e o conseqüente enfraquecimento do poder político dos coronéis. Para manter esse poder, exigem a presença do Estado, que amplia a influência “na proporção em que diminuía a dos donos de terras”. Desse modo, o coronelismo surgiu da “alteração na relação entre os proprietários rurais e o governo e significava o fortalecimento do poder do Estado antes que o predomínio do coronel” (CARVALHO, 1997, p. 1-2).

Monteiro (1972, p. 10), observa que o poder dos chefes locais ou coronéis, “começa a ser crescentemente utilizado como instrumento do poder público encarnado pelas oligarquias estaduais”, e indiretamente de empresas “nacionais e estrangeiras envolvidas na implantação de projetos econômicos”. De acordo com Leal (1997, p. 64), o coronel usa o prestígio próprio, acrescido do que lhe é emprestado pelo poder público. “Sem a liderança do coronel – firmada na estrutura agrária do país –, o governo não se sentiria obrigado a um tratamento de reciprocidade, e sem essa reciprocidade a liderança do coronel ficaria sensivelmente diminuída”.

Tudo isso esclarece que existiram dezenas, talvez centenas de coronéis Fabrícios em todo o país, e que José Fabrício das Neves não foi um fenômeno isolado, nem alguém que inventou de mandar. Entretanto, devemos observar que o personagem surge em condições peculiares, através de um processo conturbado, sempre movido por um “ideal”, como analisado anteriormente. Por esse motivo, não analisamos até agora as relações entre quem manda e aquele que obedece. “É difícil caracterizar a relação de subordinação entre pecuaristas e seus peões e agregados”, constata Machado (2004, p. 95), questionando o uso generalizado do conceito de “relação patriarcal”.

No planalto catarinense, em especial no caso de José Fabrício, o “costume tradicional” era “balizado religiosamente pelos ensinamentos do monge João Maria como se fossem mandamentos para uma boa vida no sertão”, tendo por base “valores como o respeito, a defesa da vida e da honra, a lealdade, a sinceridade e o equilíbrio”. Ele nunca abandonou por completo os ideais de antigo maragato de luta pela “liberdade”, e continuou adepto da religiosidade cabocla dominante na região. Encarnou o papel de caudilho e coronel por ser a opção mais prática, talvez a única, no tempo e no espaço em que viveu.

Ilustração de Clóvis Medeiros.
O Estado (Florianópolis-SC), 24.7.1983.

Referências

CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. Dados. Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, p. 229-50, 1997. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52581997000200003&script=sci_arttext. Acesso em: 12 abr. 2007.

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. 1972. 283p. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo, 1972.





Um caso ilustrativo

Cecília Boroski (Borowski) Talim, filha de José Fabrício e residente em Concórdia-SC, ouviu repetidas vezes de sua mãe, Josefa, alguns momentos do início da colonização de Itá. O atual município, cuja antiga sede está sob o lago da hidroelétrica, ganhou inicialmente um salão para a realização de missas, com a ajuda do caudilho, que abriu o primeiro armazém. Também construiu uma residência, pois “quando precisava ficar lá, ele ia pra outro lugar lá ele tinha outra, ficava lá, ele sempre teve casa... Não precisava ficar na casa dos outros”, diz.

Por esse tempo, a filha de um dos colonos pioneiros, de origem italiana, engravidou. “Éra uma coisa muito feia uma moça se perder antes de casar, assim os véio contavo”, explica dona Cecília. “Ele diz que ele se perdeu, botaro fora uma moça lá, não sei o que foi, mas foi a primeira vez que foi um escrivão no Ita”, acrescenta. “O meu falecido pai foi buscar e levaram lá, mas só os véio Fabrício que sabia”, e família da moça, “porque que haviam levado esse escrivão lá”. Segundo ela, “ninguém sabia que a moça tava desse jeito e aí ficava tudo escondido. Isso a mãe que cansou de contar, mas depois que eu era casada”.

O objetivo era realizar o casamento, mas faltava o padre. “A mãe conta que foram buscar”, e “aí fizeram uma festa grande lá, que deu três dias de festa. A noiva foi mantida em casa, sob o argumento que estava de dieta, enquanto a irmã do noivo, com o rosto coberto pelo véu, compareceu para a cerimônia. Terminada a encenação, o casal arrumou as roupas e uma tropa, seguindo para a cidade de Aratiba-RS. “Vê como é que o véio Fabrício aprontava as coisa... ele é que dava essas aula!”, comenta dona Cecília. O sobrenome da família, citado na entrevista, é omitido.



ESPECIAL

Trabalho produzido por Guilhermina Telles,
residente no Rio de Janeiro, encaminhado
para o Fragmentos do tempo.
(Clic na imagem para ampliar e se quiser imprima)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Genealogia (parcial) dos Fabrício das Neves

A caminho de Pinhão-PR em busca
dos parentes de José Fabrício das Neves.



Primeiro um alerta: vamos voltar a falar do velho José Fabrício das Neves, não do José Fabrício das Neves nosso personagem. O primeiro pode ter sido padrinho e tio do segundo.

Agora a informação: esse velho José Fabrício era casado com Francisca Soares de Miranda (filha de Floriano João Soares), falecida em 8 de novembro de 1925. No Processo do Irani ela é citada como viúva (1912) com 61 anos de idade. Tivemos a oportunidade de apresentar aqui o seu depoimento no Processo do Irani (Palmas-PR, 1912).

Não conseguimos até agora outras informações a respeito desse velho José Fabrício. Ele e dona Francisca Soares de Miranda tiveram os seguintes filhos, pelo que conseguimos apurar:

* João Damas Fabrício das Neves (pai do citado Antônio Martins Fabrício das Neves, aqui citado freqüência). Nasceu em 31 de maio de 1887 no Rio Grande do Sul. Casado com Gertrudes Martins de Lima (filha de Salvador Inácio Cardoso e Emília Martins de Lima). Tiveram ao todo 11 filhos, entre eles o citado Antônio (nascido em 5 de junho de 1922), Sebastião (Bastião, nascido em 1924, afilhado do “nosso” José Fabrício das Neves), Francisca Martins Fabrício, casada com Vicente Lemos das Neves (pais de Elvira Dalla Costa, residente em Palmas), Cezário (tinha 13 anos em 1920), Leopoldino (tinha 11 anos em 1920), José (7 anos em 1920), Pureza (cinco anos em 1920), Emília (três anos em 1920), Gabriel (três meses em 1920).
Informações do Livro 2, Casamentos, Cartório do Irani e entrevistas de Elvira e Antônio.

* Leopoldino Fabrício das Neves, casado com Conceição Lemos da Silva. Filhos: Vicente Lemos das Neves, casada com a prima-irmã Francisca Martins Fabrício (filha de João Damas). Informação de Elvira Dalla Costa (Palmas-PR) que precisa ser confirmada.

* Maria Fabrícia da Neves, casada com Miguel Soares do Espírito Santo.

* Gabriel Fabrício das Neves, natural do Rio Grande do Sul. Era Inspetor de Quarteirão na época do combate do Irani e providenciou o enterro do monge José Maria e de outros combatentes (caboclos e militares). Tinha 47 anos em 1925. Casado com Lúcia Maria Antunes (filha de Francisco José Antunes e Maria Antunes França). Filhos: Maria (nascida em 12 de dezembro de 1923), Antônio Antunes Fabrício (nascido em 6 de janeiro), Emílio Antunes Fabrício (pai de Agenor Antunes Fabrício, aqui entrevistado) e Orestes.


Thomaz e dona Elíbia (Irani-SC, meados da década de 1920).

* Elíbia Fabrício das Neves. Nascida em 30 de dezembro de 1882, no Rio Grande do Sul, tendo falecido em 23 de setembro de 1966. Casada com Thomaz Fabrício das Neves. Tiveram os seguintes filhos: Maria Fabrício (Nica, nascida em 5 de janeiro de 1900, falecida em 16 de março de 1967 na localidade de Passo Fundo, em Coronel Domingos Soares-PR, casada com o primo João Perão/Perón e não tiveram filhos); Dinarte (mais velho, casado com Doralina, espécie de contador dos negócios da família, falecido no interior de Coronel Domingos Soares-PR); Tervina (nascida em 13 de dezembro de 1911, casada com Sebastião Pelentier, casal sem filhos que adotou a sobrinha Elíbia); Cespina (nascida em 4 de março de 1914); Lauro (nascido em 6 de fevereiro de 1916); Domingos (nascido em 6 de dezembro de 1918, pai de Thomaz de Oliveira Neves, motorista de táxi em Palmas-PR, de José Valdomiro de Oliveira Neves, cabeleireiro em Coronel Domingos Soares, Elíbia, Gabriel e outros); Saturnino; Adolpho; Ardino (nascido em 27 de dezembro de 1920); Antoninho (pai de Amélia); Isaltino; Osório e Álvaro (Nenga, nascido no dia 9 de janeiro de 1926). Thomaz e dona Elíbia ainda criaram Saturnino Soares de Oliveira, casado com Maria Pelentier, irmã de Sebastão (casado com Nica).


Família de José Fabrício das Neves

José Fabrício (nascido em Soledade-RS) era casado Maria Crispina Antunes (também grafada Maria Crespina ou Cespina)

Filhos
Afonso. Nascido por volta de 1908. Os detalhes do destino de Afonso e seus descendentes serão tratados adiante.
Elíbia. Nascida (nascida c. 1910). Casada com Natálio Néri, com grande número de filhos. Morou na Argentina, onde deixou descendência com o sobrenome Oliveira.
Hortência. (c. 1911). Teve três filhos: Geraldo, Agnaldo e Jurema.
Domingos. (c. 1912). Caçula da família. Teve 18 filhos e muitos moram na região de Joinville e Jaraguá do Sul (SC) e nos municípios de Ibema e Guaraniaçu (PR).
(Fontes: Registro de óbito de José Fabrício das Neves, em 29 de janeiro de 1925. Cartório do Irani.
Fonte: Registro de Óbito de José Fabrício, Livro nº 1 (Cartório de Irani-SC), e Jurema Fabrício das Neves.


João Perone (Perão).

Os Perão (Perón)

Maria Joana Perão (Perón, sobrenome de procedência argentina, abrasileirado no Cartório do Irani).

Filhos
José Alves Perão (José Felisberto), Dezidério Alves Perão, Elizeu Perão, Antônio Alves Perão, João Alves Perão.

* José Alves Perão, casado com Júlia Olímpia da Silva, pais de Isabel Olímpia da Silva, casada com Heleodoro Telles em 19 de agosto de 1909 (pais de Vicente Telles). Heleodoro era filho de Alexandre Telles da Rocha e Arminda Fabrício das Neves, pais também de Antônia Maria da Rocha (Quena), casada com Francisco Soares Fragoso (filho de Miguel Soares Fragoso e Maria Vieira Machado), pais de um filho também chamado Miguel, nascido em 1926.
Além de Isabel, José Felisberto e Júlia Olímpia da Silva, são pais de José da Silva Perão (Juca, residente em Coronel Vivida-PR)

* Elizeu Perão foi casado com Amélia Fabrício das Neves (Ninha) e morava no Rio do Mato (região da atual Celulose Irani). É possível que Amélia seja irmã de nosso personagem José Fabrício da Neves. Filhos: João Perão, casado com Maria Fabrícia (Nica, filha de Thomaz Fabrício das Neves, já citada); Jerônimo (padrinho de Vicente Telles) e Artidor Alves Perão (Doca, residente em Salto Veloso-SC).

Crédito
O esforço de reconstituição da árvore genealógica dos Fabrício das Neves e dos Perão contou com a participação decisiva de Margaret Grande. Tendo acompanhado boa parte das viagens, ela se encarregou das pesquisas em cartórios (sobretudo o de Irani-SC) e das indagações sobre parentescos com os entrevistados. A pesquisa prossegue. Quem puder ajudar nessa reconstituição, favor entrar em contato pelo e-mail celsodasilveira@gmail.com.





terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Suspensão temporária das postagens

AVISO aos que acompanham o Fragmentos do tempo: as postagens voltam a ser feitas somente na quarta-feira de Cinzas, dia 25.2.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (48)

Familiares de Afonso Antunes das Neves (segundo a partir da direita),
filho de José Fabrício. Acervo: Assis Antunes das Neves (Pinhão-PR).

A diáspora dos Fabrícios

Ao ser confirmada a morte de José Fabrício, teve início a expulsão dos caboclos da região do atual município de Concórdia. “Desprotegidos”, assinala Ferreira (1992, p. 79), os antigos moradores “ficaram sujeitos aos novos métodos adotados, restando duas opções: deixar suas posses ou tornarem-se empregados dos imigrantes que começavam a chegar”. Eram “a cobiça e a espoliação que vinham junto com o progresso”.

A empresa colonizadora Mosele, através de “seus encarregados pela segurança”, assegurou os despejos com métodos “geralmente violentos”. Assim, “a ferro e fogo, o Alto Uruguai Catarinense ficou ‘limpo’ para os imigrantes”. Por volta de 1925, segundo a mesma fonte, existiam entre dois e três mil caboclos, “alguns armados, não aceitando a demarcação dos lotes”, e outros “protegidos pelo acordo de Fabrício, conquistando legalmente suas terras junto a Brazil Development and Colonization Company”. Os “mais valentes dentre os caboclos”, como Fernando Osório Marques da Silveira, Brasil Bueno e Joaquim Barroso, “passaram a exercer o papel de capangas da Companhia”. Segundo Kurudz, os caboclos que até antes da morte de Fabrício se mostravam “humanitários e até mesmo infantis”, depois disso mudaram de postura. “Se tornara mais complicado após a morte de Fabrício [a relação com os caboclos], mesmo com a oferta de preços especiais, requerendo, sendo o entendimento da Companhia, medidas drasticamente mais fortes”, ou seja, a expulsão (FERREIRA, 1992, p. 80).

Um grupo desses caboclos, liderado por Teodoro Tristão, José Paulino e Vergílio Castilho, resolveu se deslocar para as regiões de Irani-SC e Pato Branco-PR. “Era impossível resistir. O sofrimento e as mortes do Contestado ainda estavam presentes em suas memórias”, enfatiza Ferreira (1992, p. 82).

Tropa formada por militares, capangas da Companhia Mosele e cidadãos para ‘caçar’ jagunços, antigos combatentes do Contestado.
1- Na porta da janela está Dogello Goss, Almerinda Goss, Jairo Goss e Djalma Goss.
2- Na janela levantando a cortina deve ser a empregada.
3- Sentado na escada, com o chapéu na cabeça é o João Estivalet Pires, então professor, depois secretário da prefeitura (gestão Dogello Goss), depois deputado estadual, presidente da Assembléia e conselheiro do Tribunal de Contas.
4- Abaixo do Pires, com a capa redonda está o Domingos Machado de Lima. (ex-prefeito de Concórdia).
5- Em pé no meio, parece que é o velho Crippa;.
6- Na escada com o chapéu na mão está o Dr. Arno Heschel, juiz de direito, futuro desembargador e nome de rua em Florianópolis.

As informações encontram-se no verso da fotografia. Dogello Goss foi prefeito nomeado do município de Concórdia, para o período entre 30 de março de 1937 até 12 de dezembro de 1945. Domingos Machado de Lima foi vereador em Concórdia, pelo Partido Social Democrático - PSD entre 1951 e 1955, posteriormente, foi eleito vice-prefeito de Concórdia para o período entre 31 de janeiro 1951 até 31 de janeiro de 1956. Domingos Machado de Lima assumiu como prefeito eleito para o período de 31 de janeiro de 1961 até 31 de janeiro de 1966.

A foto e a legenda são cortesias de Carlos Comassetto para o Fragmentos do Tempo. Foto do arquivo particular Gil Goss (Concórdia S.C).


Rumo ao Paraná

Por outro lado, cerca de 30 famílias mais ligadas a José Fabrício, se juntaram à família do falecido em busca do exílio, formando a caravana da diáspora com muitos carroções abarrotados de pertences, homens montados ou a pé, todos no rumo da localidade de Patcho Velho, no atual município de Porto União-SC, na divisa com o Paraná, segundo relato de um neto de José Fabrício, Assis Antunes das Neves (filhos de Afonso).

A comitiva era liderada por Afonso Antunes das Neves, então com 17 a 18 anos de idade, mas homem formado, experimentado na companhia do pai desde cedo, quando ainda tinha por volta de 11 a 12 anos. Segundo relatos dos familiares, ele não gostava do que via e ouvia nas andanças com o pai, e por isso não guardou boas lembranças daquele tempo. Passou o resto de sua vida ocupado em cuidar da família, fazendo um esforço para esquecer o passado. “Meu pai era muito resguardado”, lembra Assis. Sua esposa, Marli Terezinha Antunes, 62 anos, filha do imigrante de origem ucraniana João Lichevicz, lembra que “ainda menino [Afonso] seguia o pai, via o pai correr risco de vida”. Talvez por isso continuasse o resto da vida “quieto, não era um homem alegre, bem sério”, diz dona Marli.

Afonso pode ter ficado um pouco desnorteado com a morte do pai, principalmente da forma como ela se deu. E por algum motivo, demorou para contar à mãe, Crespina Maria, o que havia ocorrido com Fabrício. “Foi o Thomaz que insistiu para que ele contasse”, destaca Assis. Não existem informações mais precisas sobre o tempo de permanência da família na região após a morte do caudilho, apenas que “o Marcelino Ruas mandou que meu pai sumisse e levasse a família junto”.

Antes de partir, Afonso e dona Crespina Maria reuniram cerca de 30 famílias de caboclos ameaçadas ou já expulsas de suas terras, aqueles que “ficaram sem o Fabrício”, observa Assis. Numa das carroças, Afonso empilhou diversas caixas de rifles e munição que pertenciam a José Fabrício. Elas poderiam ser úteis caso precisassem se defender, o que não foi necessário. Anos mais tarde, foram descartadas no rio da Barra, no município de Marquinho-PR. Afonso levou ainda um revólver que jamais usaria, mesmo no tempo em que todos andavam armados. “Deixaram o Irani sem nada. E eram gente muito rica. Vieram pobres”, acrescenta dona Marli, que conviveu e conversou muito com Afonso.

Dona Crespina, que se manteve todo o tempo ao lado do filho e demais parentes e não voltou a se casar, “via o sofrimento dele” desde os tempos em que acompanhava o pai. “Naquela época estava sempre de prontidão para sair ou se esconder”, segundo dona Marli. “Tinha muito medo”, diz, de origem incerta. E “respeitava bastante a Crespina”. Era comum que permanecesse “horas e horas olhando as coisas, sem falar nada”.

Segundo Assis, a jornada de seu pai e sua avó terminou na localidade de Patcho Velho, em Porto União-SC, onde Afonso se casou com Angelina Vera, com quem teve seis filhos: Antônio, Geraldo, Emílio, Assis, Hortência e Sebastião – os três últimos nascidos no município de Marquinho-PR. Depois que Angelina faleceu, na década de 1940, Afonso se casou com Jorgina Camargo (filha do tropeiro de José Fabrício, Ozires Marques), tendo dois filhos, Paulo Camargo Antunes das Neves, 60 anos, e Daniel.

Em Marquinho-PR, Afonso se dedicou à lavoura, plantando milho e feijão e criando porcos, informa seu filho Paulo. Gostava muito de churrasco, sobretudo de costela gorda, tomava chimarrão com freqüência, mas não usava a indumentária gaúcha. Devoto de São Jorge e extremamente religioso, batizou todos os filhos e respeitava a Quaresma, época em que não se ouvia música, e “quem tinha instrumento em casa, guardava”, assinala Assis. O jejum nessa época era sagrado. Lia sempre a Bíblia, mas só ia à missa uma vez por mês, pois a capela da região era distante. Ouvia a rádio Gaúcha quase todos os dias e não perdia o programa “Farroupilha”, tendo sido fã de Teixeirinha.

Apesar de estar sempre amuado, triste, Afonso era “caprichoso”, segundo o filho Assis. Ou seja, “depois que a minha mãe morreu, ele não deixou os filhos se espalharem. Ficaram todos trabalhando na roça, derrubando a mata com machado”, assinala. As irmãs e o irmão de Afonso que vieram da região de Irani após a morte de José Fabrício, também se instalaram pela região. Hortência se casou com Rogério Vera, irmão de Angelina, primeira esposa de Afonso, tendo morado muitos anos no município de Cruz Machado-PR. Elíbia foi morar em Guarani-Açu depois de se casar. Domingos, que teve 18 filhos de seu casamento com Mantina Camargo, do grupo que veio de Irani, morreu no início da década de 1990. “Era animado, contador de casos, tocador de gaita”, lembra Assis.

Na época em que Afonso apresentou um ferimento na perna e precisou de tratamento, o filho Assis já estava morando em Pinhão, casado com Marli desde o início da década de 1960. Ele foi levado para lá. Mais tarde chegou dona Crespina, voltando para o lado do filho e assim permanecendo até perder a visão, quando retornou para a casa de Hortência, em Cruz Machado. Ali permaneceu até morrer por volta de 1961, tendo sido enterrada no cemitério da localidade de Palmeirinha-PR. Ela também não gostava de “comentar o passado, era quieta, pelo sofrimento que passou. Ela e o Afonso tinham muito medo. Havia alguma coisa que se viesse a público, relacionada com a vida que José Fabrício tinha levado... do que aconteceu com ele”, observa dona Marli.

Afonso continuou em Pinhão, morando na localidade de Faxinal dos Ribeiros, cuja casa ainda está de pé, ocupada por seu filho Daniel. Segundo relato de Assis, “a morte do meu pai foi a coisa mais linda”. Ele jantou, sentou para escutar a rádio Gaúcha como sempre fazia e foi se deitar. Já estava dormindo quando o filho Daniel ouviu um gemido vindo do quarto, se levantou para ver o que estava acontecendo e encontrou o pai morto. Afonso está sepultado no cemitério de Faxinal dos Ribeiros, no meio de pinheiros e campos de lavoura.


Referência

FERREIRA, Antenor Geraldo Zanetti. Concórdia: o rastro de sua história. Concórdia: Fundação Municipal de Cultura, 1992.


Assis e dona Marli no interior da fábrica de erva-mate (Pinhão-PR).

Familiares de Assis Antunes das Neves em dia de casamento.

Jurema F. das N. Zunker, neta de José Fabrício, filha de
Hortência, e Reinaldo Antunes (bisneto), em Pinhão-PR.


Hortência Antunes das Neves, filha de José Fabrício, entre as
noras Larissa e Irene. Cruz Machado-PR, 1977.
Acervo: Jurema Fabrício das Neves Zunker (Guarapuava-PR).

Hortência Antunes das Neves com familiares.
Acervo: Jurema Fabrício das Neves Zunker (Guarapuava-PR).


Paulo Antunes das Neves, neto de José Fabrício e residente em
Pinhão-PR, mostra a chaleira usada pelo avô para tomar chimarrão.



terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O caudilho do Contestado
A reconstituição de um assassinato (*)

Por Dante Martorano

Ilustração: Clóvis Medeiros.

Como anda a pesquisa histórica em Santa Catarina? Como contar a violência dos primeiros tempos do Contestado? A narração de hoje, sóbria e verdadeira se assenta no testemunho oral de muitos que contemplaram as feições ou ouviram de seus pais o másculo e amedrontador retrato do caudilho José Fabrício das Neves, com torpeza assassinado à custa de um ardil traiçoeiro.

- Apeie-se Fabrício...

- Comandante Marcelino, com honra aqui estão os seus convidados. Início do quase discurso do caudilho. Ereto na postura de destemor, à altura dum acampamento de beligerantes, José Fabrício nos músculos ostentava o vigor do corpo, nos traços de leveza, no rosto existia coragem.

Dava-se assim, àquela manhã de 31 de março de 1925, o encontro de dois companheiros de armas. Marcelino Ruas e José Fabrício das Neves. Cada um comandante de seu próprio corpo de combatentes, que de volta, a cavalo, retornam de São Paulo. Não viajaram com o Batalhão Bormann, formando pelo Coronel Passos Maia, que embarcara no Erval. Todos, entretanto, haviam marchado contra a insurreição de 1924. Apoio catarinense a Bernardes. Mas logo derrotados os revoltosos, não foi dado vez aos nossos três contingentes de combater os paulistas.

Linda manhã a de 31 de março de 1925. A pouca distância do Banhado Grande, fileiras de barracas armadas pelos homens de Ruas brilhavam ao sol. Perto dali os jagunços haviam “picado” a facão o cadáver do Coronel João Gualberto e mutilado os corpos dos soldados paranaenses. Perto também da cova rasa em que a fé jagunça depositara na ressurreição do monge José Maria.

José Fabrício das Neves e todos os homens de seu estado maior deram cuidado especial na preparação à visita. No caudilhesco cavalheirismo a um convite corresponde o zelo e o esmero na aceitação. Roupas da gala sertaneja. Rusticidade na beleza selvagem dos cavalos fogosos. As melhores armas na cintura. Espadas brilhando na guerreira ostentação.

Mas se desmoronou toda esta sobranceria minutos após a chegada. A um gesto de Ruas, dezenas de homens armados caíram sobre os visitantes. Desprevenidos e embasbacados não puderam reagir. Desarmados, presos, amarrados a cordas e num instante amordaçados. Só a convulsão do ódio e da revolta lhes estremecia os corpos no desespero.

Vida de turbulência, valentia e dominação fora até aquele momento a de Fabrício. A gente esparsa nos campos do Irani impunha a inflexibilidade de comando. Muitos eram seus parentes. Outros prepostos. Todos vassalos.

Em todas as terras cortadas pelo rio Irani o domínio de Fabrício – atingia bravos maragatos ou a seus filhos. Vencidos federalistas do Rio Grande do Sul, no último decênio do século passado [XIX] fugitivos da repressão. Bastou-lhe a travessia do Uruguai para se a acoitar nos ínvios sertões do Contestado. A pregação do monge João Maria fora estímulo para a libertação da miséria, na Terra da Promissão que o místico adivinhara no Irani.

Naquele dia, carregando como fera, atarraxado quase no lombo da mula cargueira, José Fabrício das Neves tangido foi para fora do acampamento de Ruas. Imediatamente após serem presos, ele e seus homens foram escoltados por um destacamento cruzando os caminhos da Fazenda do Campo Comprido, de Pelegrino Silvestre. A poucos quilômetros estava o acampamento das forças comandas pelo próprio caudilho prisioneiro. Muita gente que tudo enfrentava! Sem medo de nada e de ninguém. Ávidos da sangria de seus inimigos. Mas o cortejo se desviou na ocultação do humilhado caudilho, como bicho amarrado.

José Fabrício das Neves arrastado em seus próprios caminhos. Mesmo onde força alguma antes ousara enfrentá-lo. Terras agrestes em que tiniu o ferro de sua espada. Ali no verde daqueles campos, do emaranhado dos fachinais, na fertilidade daquele solo, à vista dos vales das grotas dos sertões do Contestado. Pedaço de Brasil onde a lâmina das armas de José Fabrício das Neves atestava o destemor, a violência e arrogância de quem deixa atrás de si e de seus rastros, a legenda da bravura.

Quando todas aquelas imensidões eram contestadas, o Paraná não conseguiu dali desalojar os Fabrícios. Nem a troca proposta das terras que eles se apossaram, por outros legalizadas na margem direita do rio do Peixe. Resistiram ao banimento. Daqueles paranaenses acirrados na paixão da luta pelas terras do Contestado, mais tarde fizeram com que nunca mais pudessem os Fabrícios terem o perdão. Era a lembrança de seu apoio ou tolerância ao monge José Maria. O ressentimento contra a gente do Arraial do Irani – pela imprensa de Curitiba dada como formado por ‘invasores catarinenses’. Muitos dos homens do caudilho chegaram a brigar junto com os fanáticos.

Fabrício teria entendido àquela manhã tudo como vingança? Das famílias dos mortos paranaenses no entrechoque com os jagunços? Porque fora preso? Perguntas sem respostas para ele e não encontradas pela pesquisa. Boatos houveram e ainda persistem. Gente de Palmas teria posto a prêmio as orelhas do caudilho.

Apearam o amordaçado caudilho no lugar denominado Caçadorzinho. A uma légua mais ou menos do acampamento de Marcelino Ruas. Descidos – das mulas e amontoados em seguida todos os presos. Quem de longe ouviu tantos tiros imaginou o festivo fogo de saudação. Mas das carnes de Fabrício e de seus homens que receberam o chumbo, esvaiu-lhes o sangue.

O pior é que a ciência deste assassinato não se limitou àqueles sertões do antigo Contestado, Não ficou só materializado nas covas ali mesmo abertas e cobertas com pedras. Andou pelo Brasil inteiro a notícia. À Ilha, ao Palácio do Governo, chegaram telegramas candentes de recriminações e de revolta...

Até do marechal Rondon, veio via telégrafo, a repulsa à traição e ao assassinato de José Fabrício das Neves. Valente em Armas como o Exército Nacional, na sustentação da legalidade personificada no governo do Presidente da República – Arthur Bernardes.


(*) Artigo publicado no jornal O Estado (Florianópolis-SC, 24.7.1983), junto com a ilustração de Clóvis Medeiros. Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina.


sábado, 7 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (47)

Cuidados com um sepultamento


Lançados num poço ou parte mais profunda do rio Irani, os corpos de José Fabrício das Neves e seus homens só foram retirados e enterrados cerca de seis dias depois da emboscada que resultou em mortes e degolas. O enterro foi providenciado por Thomaz Fabrício das Neves, irmão de José Fabrício por parte de mãe, com a ajuda de João Damas Fabrício das Neves, conta o filho Antônio Martins Fabrício das Neves, junto com "outros Fabrício".

Depois que Marcelino Ruas e seus homens se retiraram, “foram procurar, acharam ele jogado dentro da água”, junto com os demais, segundo Antônio. Em março de 2007, o túmulo retangular cercado de taipa, com cerca de três por onze metros, estava coberto pela vegetação e por isso de difícil localização. Junto há uma cruz de madeira, muito antiga. “Esse Thomaz Fabrício plantou flores, tem roseiras lá da grossura desse cano, subiu nas árvores, então floresce as árvores em cima”, acrescenta Antônio.

Estado-maior de José Fabrício das Neves em dia de festa.
Catanduvas-SC, 1919. Acervo: Cecília Boroski (Concórdia-SC).

As roseiras continuam no local, próximo a ponte da BR-153 sobre o rio Irani, com acesso dificultado devido a extensão de uma cerca de arame farpado até o curso d’água. Ali, José Fabrício das Neves foi colocado numa cova separada. Em outra cova, um pouco maior, seus principais auxiliares. Um deles, Agostinho Ferreira, aparece de terno e gravata em uma foto ao lado de José Fabrício. José Gomes informa que nas ausências do caudilho, ele assumia o comando das atividades. “Era um homem muito bom, deixou lembrança para muita gente”, salienta Gomes.

Na foto já referida, também de terno e gravata, ao lado de Agostinho, está Cesário de Mattos, um dos “três irmãos Cesário” citados por Antônio das Neves. Eles teriam ficado juntos no túmulo e sobre os quais existem poucas informações, além de que seriam homens de extrema confiança de Fabrício. Outro que foi degolado e enterrado no mesmo túmulo é Teobaldo Madeira.

“Dentre os mortos”, informa outra fonte, estava Augustinho Frederico Wilke, “que se achava em Fragosos quando da visita do Sr. Victor Rauen a Itá em 1923”. (SILVA, 1987, p. 63) Paulo Antunes das Neves, neto de José Fabrício e filho de Afonso, residente em Pinhão-PR, diz que Wilke era conhecido por “Augustinho Pitoco”, um “segurança” do caudilho, e que teria sido o autor da morte do monge Nemézio, citado anteriormente.


No local podem estar sepultadas outras pessoas, mas foram esses os nomes que ficaram na memória oral ou registros escritos. Durante muitos anos o túmulo foi visitado por amigos e familiares. A vegetação era retirada periodicamente e a cruz de madeira substituída ao envelhecer, entre outros cuidados. Entre os que visitavam o túmulo, estava Vicente Lemos das Neves, casado com Francisca Martins Fabrício, que levava a família ao local pelo menos uma vez por ano, sempre em 20 de março, a data em que, na memória de Elvira Dalla Costa, filha do casal, seu antepassado teria morrido.

Vicente Lemos das Neves com a esposa Francisca e os filhos.
Dona Elvira está junto ao pai. Acervo: Vicente Telles (Irani-SC).

Nessas ocasiões, levavam muitos biscoitos, doces variados e vidrinhos com água, “porque eles morreram com sede e com fome”, diz dona Elvira. Estendiam uma “lona ou manta” no chão para que todos pudessem se acomodar e passavam o dia ali rezando. “O pai mandava levar foice para limpar o cemitério”, assinala. Certo dia, uma irmã de Elvira, Terezinha, se engasgou com um pedaço de casca de milho de pipoca e o pai mandou que ela fosse até o túmulo de José Fabrício. “O pai falava que aquelas águas”, armazenadas nos vidrinhos e que ficavam no local, eram “milagrosas, curavam qualquer coisa que se queira curar”.


Cerca impede acesso ao local do túmulo de José Fabrício.


Procurando sepulturas

Quando fomos ao Irani-SC pela primeira vez, em março de 2007, buscando os rastros da participação de José Fabrício das Neves no combate inicial do movimento do Contestado, tinha em mente a localização de seu túmulo. Antônio Martins Fabrício das Neves, numa entrevista ao Museu Histórico de Concórdia (Concórdia-SC), faz diversas referências a esse túmulo, ao pé de roseira que foi plantado no local e sua localização nas margens do rio Irani, próximo a uma ponte.
Depois de conversar com Vicente Telles e almoçar num restaurante junto ao trevo das rodovias BR-282 e BR-153, decidimos eu e Margaret Grando procurar por conta própria o túmulo. Seguimos na direção da ponte sobre o rio Irani pela SC-282, a mesma que liga a Capital do Estado, Florianópolis, ao Extremo-Oeste catarinense, na fronteira com a Argentina. Ao desembarcar do carro e observar o local, notei a falta de alguns elementos descritos pelo sr Antônio. Talvez não fosse alí, pensamos.
Avistamos um grupo de pessoas próximo a um restaurante e nos dirigimos até elas.
- Boa tarde!
- Boa tarde! Podem chegar.
- Tudo bem com o senhor?
- Tudo bem enquanto estivermos apertando as mãos.
Explicamos a ele nosso interesse, a localização do túmulo de José Fabrício das Neves.
- Mas não é nessa ponte...! Fica perto da ponte sobre o rio Irani na BR-153 - a famosa Transbrasiliana.
Ele se dispôs a nos acompanhar até o local. Foi até sua casa, colocou botas e um facão na cintura.
- Vamos lá!
O carro ficou estacionado próximo a ponte, com o pisca-alerta ligado. Tivemos que nos esgueirar por uma cerca de arame-farpado para entrar na área da Celulose Irani e alcançar a margem do rio. Seguimos por dentro da densa mata ciliar.
- Se a gente for por aqui não tem como não achar...
E seguimos. Com o facão ele abria caminho. As árvores encobriam o sol das 15 horas diminuindo o calor. Havia uma profusão de flores nativas, orquídeas, bromélias e outras espécies pelo caminho. Cerca de 400 a 500 metros a frente ele ficou em dúvida, olhou para os lados, mas seguiu em frente. Os pássaros trinavam.
- Chegamos!
Foi então que avistamos pela primeira vez um retângulo de taipa escondido entre árvores de médio e grande portes. Uma cruz de madeira esverdeada por musgos assinala o local. Ao lado uma vela apagada. Mais a frente restos de velas derretidas. Sinais de que o túmulo continua sendo visitado. Margaret tratou de medir com passos a área: três por onze metros, aproximadamente.
- Vem muita gente pescar aqui, informa o senhor que nos levou até o local.
De fato, existem lixos em vários pontos e uma área sem vegetação junto ao rio. Também há um pé de louro tombado, escavado em vários pontos para ganhar placas sem nenhuma inscrição.
- Dizem que cada placa é para um morto...
Permanecemos no local por cerca de meia hora, fizemos fotos e fomos embora. Nossa missão por aqueles dias estava cumprida. Não retornamos pela mesma trilha. Cerca de 30 metros adiante há uma estrada paralela ao curso do rio, onde existem três pés de butieiros "indicando" o local do túmulo. E retornamos ao ponto em que havíamos deixado o carro por esse caminho, ladeado pela mata ciliar à direita e uma floresta de pinus à esquerda.


Nota

O primeiro texto - Água milagrosa -, integra o livro O mato do tigre e o campo do gato: José Fabrício das Neves e o Combate do Irani (Florianópolis: Insular, 2007).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

FRAIBURGO

Área do primeiro reduto de Taquaruçu. Foto: Marco Cezar

Combatentes do Contestado
recebem homenagem da Câmara


Segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009. A Câmara Municipal de Fraiburgo-SC, realiza sessão solene em homemagem aos combatentes mortos da Guerra do Contestado. A iniciativa inédita acontece na emblemática Taquaruçu, localidade que abrigou o "núcleo duro" da revolta - os portadores da religiosidade de São João Maria, onde residem muitos descendentes dos chamados "jagunços" do Contestado. Participação especial de Vicente Telles, pesquisador, músico e compositor, residente em Irani-SC, que vai realizar uma performance com o tema central da sessão - o massacre de 1913 em Taquaruçú.


Presença em Frei Rogério

Canhão do Museu do Jagunço. Foto: Marco Cezar.

Domingo, 8 de fevereiro de 2009, 15 horas. O município de Frei Rogério (antigo Taquaruçu de Cima), realiza a 1ª Festa dos Frutos da Paz, visando "a integração das culturas existentes no município", explica Israel Mello Ferreira, secretario municipal de Administração e Finanças. "Em virtude da Guerra do Contestado ser uma marca importante na história do município e na vida da população cabocla", explica, o evento vai abrigar uma exposição do acervo do Museu do Jagunço, localizado em Taquaruçu. Também vão ocorrer apresentações de dança com temática do Contestado.


Músico do Contestado em sua casa no Irani-SC.

Um perfil de Vicente Telles
"A história ainda respira
"

Texto publicado no dia 23.1.2009 no site de O Jornal (Concórdia-SC).

A História do Contestado é uma chama viva, que ainda não apagou, apesar de tudo". Assim o historiador Vicente Telles resume o sentimento sobre a situação da área considerada como berço do Contestado em Irani. As obras previstas para formarem o Parque Temático do Contestado estão paradas há pelo menos dois anos. Em 2012 o Combate do Irani completa 100 anos e a intenção do historiador é retomar os eventos cívicos alusivos à guerra e implantar o ensino da história do conflito nas escolas da região.

Telles explica que o projeto do Parque Temático previa inicialmente a construção de nove módulos que retratassem os aspectos históricos da guerra armada entre caboclos e coronéis, ligados ao governo federal, motivada por conflitos sociais e que resultou na morte de seis a nove mil pessoas, principalmente caboclos. Eles habitavam o local e buscavam a garantia das terras, cobiçadas em razão da abundância de recursos, especialmente madeira de araucárias e erva-mate.

Palco do Parque Temático está abandonado.

"O mais difícil foi feito, que é a imaginação, a fórmula, o embasamento histórico e filosófico. Apenas um dos módulos teve início. É uma ilha artificial com anfiteatro e a cobertura é uma coroa que representa a sonhada sociedade utópica e igualitária", comenta o historiador. Ele destaca que a intenção era tornar Irani definitivamente como principal ímã de atração turística da história do Contestado. "Tem havido muita visitação aqui, mas é uma decepção também. Seria um projeto nos moldes de São Miguel das Missões incluindo som, luz e imagem com apresentações uma vez por mês" revela.

O historiador faz duras críticas ao poder público, que não valoriza a importância cívica e histórica dos conflitos. "Infelizmente nada se fez sobre a temática do Parque e os poderes públicos seriam responsáveis pelo apoio logístico e de material. A cultura não morreu, ela se mantém com a chama acesa, nós recebemos grupos de escolas aqui, mas, infelizmente, estamos marcados pelas deficiências e ausências das soluções que competem ao poder público".

Detalhe do teto do palco: inacabado e deteriorado.

Vicente Telles adianta que, ainda neste ano, a intenção dele, enquanto entusiasta da cultura relacionada à Guerra do Contestado, é retomar atividades que eram feitas em outras épocas. "A batalha do Irani vai completar 100 anos em 2012 e eu já estou preparando ações ainda neste ano para marcar esta data e retomar a consciência cívica das pessoas. Minha intenção é voltar a realizar os desfiles cívicos que reuniam cerca de 2,5 mil pessoas", revela.

De acordo com Telles, apesar da pouca infra-estrutura na área aberta à visitação, que compreende o Museu do Contestado, o cemitério e o monumento, no ano passado cerca de mil pessoas passaram pelos locais que representam a história da guerra. "Vieram, inclusive, pessoas da Argentina. Também esteve por aqui um professor do Canadá, que estuda a vida do Monge José Maria e recebemos muitos pesquisadores que elaboram teses e recorrem a este local para conhecer mais", afirma.

O historiador pretende mobilizar a sociedade para retomar as obras de infra-estrutura nos pontos turísticos relativos à guerra. "Nós vamos agora estudar as prioridades dentro dos nove módulos para trabalhar com o que for mais urgente, acredito que seja a sede da recepção que é junto ao cemitério e a conclusão do anfiteatro. O Parque é um meio e não é o fim. O fim é a cultura viva, é a chama acesa e isso não apagou apesar de termos encontrado alguns reveses de algumas pessoas que tentaram transformar a cultura em modo, e estes sucumbiram", declara Telles, emocionado.

Outra intenção do historiador é buscar uma parceria com os governos municipais da região ou com o governo estadual para a implantação da disciplina de história do Contestado para as crianças nas escolas. "Nós queremos utilizar os exemplos de bravura dos caboclos para conscientizar o povo de hoje que a única arma que nós dispomos para combater a corrupção é a consciência cívica sobre essa história que está inserida na nossa região", enfatiza.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (46)

Detalhe de uma foto de José Fabrício.
Acervo: Reinaldo Antunes (Pinhão-PR).

A “espera” no vassoural

As lembranças do que aconteceu depois do retorno de Fabrício e Ruas das lutas em São Paulo e Paraná ainda estão presentes entre os descendentes do caudilho. Afonso, o filho mais velho de José Fabrício, estava com cerca de 16 anos quando o pai foi apanhado numa “espera”, o mesmo que tocaia ou emboscada. “Meu pai contava que pegaram o Fabrício numa emboscada numa ponte, fecharam os dois lados da ponte, como um alçapão”, destaca Assis Antunes das Neves. Fabrício e seus homens foram presos e amarrados e “depois mandaram o meu pai embora e ele já estava longe quando escutou os tiros”, acrescenta o filho de Afonso.

Gabriel Fabrício das Neves, já referido por sua participação no combate de Irani, emprestou a Marcelino Ruas alguns cavalos para que ele pudesse seguir com seus homens a São Paulo. Sabendo que ele se encontrava de volta, acampado nas imediações do atual trevo das rodovias BR-282 e BR-153, mandou que o filho Emílio acompanhasse o morador Tomás Freitas até o local para reaver a tropa. Agenor, filho de Emílio e neto de Gabriel, conta o que aconteceu. Ao chegar, Emílio e Tomás Freitas também foram detidos e viram José Fabrício e seus homens amarrados.

“No outro dia até o meio dia continuaram amarrados”, lembra Agenor. Seu pai e Freitas continuavam detidos. “E quando foi uma hora um cara pediu para o meu pai que estava com sede e pediu água”, conta. Emílio pediu um copo de água e ouviu como resposta um “não, bandido não toma água”. Passado algum tempo, mandaram que reunisse a tropa de Gabriel e a levasse embora. “E não olhem para trás”, alguém disse. Emílio pediu seu revólver, não deram, mas “ofereceram uma Winchester, meu pai não quis. Era bem novinho, um revólver que o meu avô tinha comprado em Curitiba”. Emílio e Tomás Freitas já haviam se afastado cerca de 100 metros quando “começou o tiroteio”. O primeiro fez menção de voltar, mas o segundo, mais velho, achou melhor ir embora “que matam nós”, destaca Agenor.

Num artigo publicado no jornal O Estado (Florianópolis-SC) em 24 de julho de 1983, Dante Martorano constrói uma cena peculiar da morte de José Fabrício, que teria sido “carregado como fera, atarraxado quase no lombo da mula cargueira”, “tangido foi para fora do acampamento de Ruas”. Tão logo fora preso, Fabrício e seus homens seguiram “escoltados por um destacamento cruzando os caminhos da Fazenda do Campo Comprido, de Pelegrino Silvestre”, passando a poucos quilômetros de onde as forças do caudilho (“como bicho amarrado”) estavam acampadas, recém retornadas de São Paulo e Paraná. Era “arrastado por seus próprios caminhos”, observa Martorano, onde “força alguma antes ousara enfrentá-lo”. Paisagem onde “a lâmina das armas” do caudilho “atestava o destemor, a violência e a arrogância de quem deixa atrás de si e de seus rastros, a legenda da bravura”.

Waldomiro Silva, já citado por suas informações precisas, informa que no retorno de São Paulo e Paraná, as forças de Marcelino e Fabrício acamparam nos campos de Irani, distantes cerca de seis quilômetros uma da outra. “Constou”, assinala, que Marcelino Ruas “mandou convidar” o caudilho e “seu Estado-Maior para uma visita ao acampamento, o que foi aceito, uma vez que ambos eram amigos e defendiam a mesma causa”. Fabrício e seus “cinco ou seis companheiros” foram presos ao chegar no acampamento e “conduzidos de volta uns seis quilômetros e fuzilados à margem do rio São João, no lugar denominado Caçadorzinho” (SILVA, 1987, p. 62-63).

Ferreira (1992, p. 63-64) observa que o batalhão de Fabrício estava acampado na Costa do Rio do Mato, “onde atualmente está instalada a Celulose Irani”, e que Marcelino, “argumentando que embora rivais, tornaram-se amigos ao defender a mesma causa”, teria mandado um mensageiro “convidar Fabrício para um churrasco na Fazenda Velha, onde poderiam conversar sobre o resultado da revolução”. Além disso, Ruas “passaria ‘boas novas’ sobre os antigos problemas de Fabrício com o Governo”.

O caudilho não sabia que estava indo em direção a uma emboscada, visando “acabar com os ‘restos de jagunços’, como se referia Ruas a Fabrício e seu grupo”. E ao se dirigir ao local combinado, acompanhado de “seus seguidores, foi cercado pelo grupo de Ruas e assassinado” (FERREIRA, 1992, p. 64). Segundo Agenor Antunes das Neves, alguém no caminho teria avisado que se tratava de uma espera, mas Fabrício não acreditou. “Apearam o amordaçado caudilho no lugar denominado Caçadorzinho, a uma légua mais ou menos do acampamento de Marcelino Ruas”. Retirados das mulas, ele e seus homens foram “amontoados” e “quem de longe ouviu tantos tiros imaginou o festivo fogo de saudações”. Porém, “das carnes de Fabrício e de seus homens que receberam o chumbo, esvaiu-lhes o sangue”, descreve Dante Martorano artigo citado.

Um dos homens de Marcelino era Luiz Adão Jacques. Sua filha, Ana Sílvia Jacques, contou a Antenor Ferreira que cerca de 50 homens aguardaram a chegada de Fabrício, escondidos num “vassoural na beira do caminho”. O caudilho estaria com cerca de 15 homens e foi tomado de surpresa, sem “possibilitar reação”, sendo desarmando. Ruas teria dito que Fabrício “pagaria pelo jaguncismo que praticou na região ao lado de José Maria”. O caudilho afirmou não ter “medo de morrer, que não precisava de cerimônias e que podia atirar”. Um dos homens de Ruas passou o laço de um arreio no pescoço dos homens, “conduzidos às margens do rio Irani, distante mais ou menos 300 metros, onde após libertarem alguns dos acompanhantes de Fabrício, fuzilaram-no no barranco do rio, juntamente com sete companheiros” (FERREIRA, 1992, p. 65).


Frei Tambosi anotou em suas Crônicas da Capela de Engenho Velho que Fabrício estava acompanhado de “seis valentes” quando foi “preso e fuzilado. Diz-se que ao ser baleado deu uma gargalhada, pois queria morrer como valente. E em seguida foi decapitado, não se encontrando mais a cabeça” (TAMBOSI, 1941). José Gomes lembra do aviso dado por Guilherme Rossato para que Fabrício não deixasse “o couro por lá”, como já foi citado. Na ocasião, o caudilho teria dito: “Não tem perigo, os sujeitos são meus amigos. E foi onde ele caiu. Caiu friamente. Acabou o Fabrício”, assinala.

Ferreira (1992, p. 65) ouviu de Sílvia Jacques que Fabrício fora degolado e sua cabeça “levada para Herval do Oeste”, de onde, “pelo trem, foi mandada para Curitiba à viúva do coronel João Gualberto”. Ela teria prometido 40 contos “pela cabeça do assassino do marido”. Outro autor afirma: “Conta-se que a viúva do coronel João Gualberto prometera 40 contos a quem lhe entregasse a cabeça do traidor de seu falecido marido”. O responsável por sua morte, “José Ruas”, segundo frei Tambosi, que era “parente mas inimizado com Fabrício, quis provavelmente receber o prêmio, fugindo em seguida para a Argentina” (TAMBOSI, 1941).

José Gomes, residente em Colombo-PR.

“A mulher do falecido João Gualberto pagou os Ruas para prenderem ele, foi o que eles inventaram lá em Joaçaba, um churrasco”, conta José Gomes. “Levaram a cabeça pra viúva pra provar que estava morto, e daí a viúva mandou levar de volta, botar junto com o corpo dele, onde foi enterrado”, acrescenta, não havendo confirmação de que a devolução tenha sido feita. Segundo Antônio Fabrício das Neves, “o certo da morte dele [José Fabrício] mesmo, diziam eles que era uma vingança, uma empreitada”, contratada pela citada viúva. “Agora se é verdade ou não é eu não sei, segundo o que contavam era isso”.

Dante Martorano, no mesmo artigo, assegura que a notícia da morte do caudilho “andou pelo Brasil”. Ao Palácio do Governo, em Florianópolis, “chegaram telegramas candentes de recriminações e de revolta”, sobretudo pela maneira como tudo ocorreu. Observa que “até do marechal Rondon, veio via telégrafo, a repulsa à traição e ao assassinato de José Fabrício das Neves”. Rondon, segundo Martorano, teria se referido assim a Fabrício: “Valente em armas como o Exército Nacional, na sustentação da legalidade personificada no governo do Presidente da República – Arthur Bernardes”.


Referências

FERREIRA, Antenor Geraldo Zanetti. Concórdia: o rastro de sua história. Concórdia: Fundação Municipal de Cultura, 1992.

SILVA, José Waldomiro. O Oeste Catarinens: memórias de um pioneiro. Florianópolis: Edição do Autor, 1987.

TAMBOSI, Valentin. Livro de Crônicas para a Capela de Nossa Senhora Aparecida de Engenho Velho. Paróquia N. S. do Rosário, Concórdia, Diocese de Lages. [1941]. 50f. [manuscrito]. (Fotocópia das primeiras páginas cedida por José Puntel. Concórdia, abril
2007).



O TÚMULO DE JOSÉ FABRÍCIO DAS NEVES

Repórter-fotográfico Marco Cezar registra o
túmulo de José Fabrício das Neves e seus homens,
localizado na margem direita do rio Irani
(município de Vargem Bonita-SC)
.

Detalhes do túmulo de José Fabrício: um
retangulo de taipa com cerca de 3x11 metros.

Trecho do rio Irani, próximo ao túmulo.

O repórter-cinematográfico Marco Nascimento
se dirigeao local do túmulo e grava imagens
dos butieiros que assinalam a localização.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Claro Jansson, o fotógrafo do Contestado

Claro e a esposa Eleonora na época do Contestado
(1912-1916). Fonte das fotos: MORETTTI, 2008*

Muito da memória visual do Contestado se deve a um fotógrafo – pouco citado quando suas imagens são publicadas: Claro Gustavo Jansson. Sueco de Hedemora, na província de Dalarna, nasceu em 5 de abril de 1877 com o nome de Klas Gustav, ganhou recentemente um perfil escrito por sua filha Dorothy Jansson Moretti, onde sua trajetória como fotógrafo ganha dimensão.

Viveu na cidade natal até os 12 anos, mudando-se com a família para a cidade portuária de Sudsval, ao norte de Estocolmo. Pouco depois toda a família imigrou: o pai, André, a madrasta Ana Cristina, e seis meninos. Anna, a filha mais velha, permaneceu na Suécia. No Brasil os Jansson se dedicaram ao cultivo de uvas e bananas. Em 1893, já com o nome abrasileirado para Claro, o futuro fotógrafo residia na cidade da Lapa-PR, quando ocorreram os episódios da Revolução Federalista.

Algum tempo depois já estava em União da Vitória-PR/Porto União-SC, atuando em serrarias e olarias, e onde foi capataz de turma na extração de erva mate no Brasil, Argentina e Paraguai. Foi quando se aproximou da fotografia. Casado pela primeira vez em 1898 com Benedita Mattozo, ficou viúvo e tornou a se casar com Eleonora Deflon, também sueca (1910). Durante todo o ano de 1912, residiu em Barracón (hoje Bernardo Irigoyen), retornando a Porto União-SC/União da Vitória-PR na véspera do início do Contestado.

Após adquirir “excelentes aparelhos fotográficos” passou a se dedicar ao ramo. Era “meticuloso e sistemático”, assegura Dorothy, procurando se manter “atualizado, adquirindo os melhores materiais e as mais modernas máquinas fotográficas que surgem”. Entre as fotos famosas, está a do coronel João Gualberto em sua passagem por Porto União rumo ao Irani – seria a última. Contratado pela Serraria Lumber, fez um excelente ensaio das instalações da empresa em Três Barras-SC, para onde se mudou com a família, sendo também delegado e juiz de paz.

Claro se manteve profundamente ligado a Lumber. Nas greves de 1919 e 1926, serviu como intermediário com os operários poloneses, alemães, espanhóis suecos e outros, cujos idiomas que dominava. Além disso, era o comprador de erva mate para a Lumber e encontrava tempo para administrar sua fábrica de refrigerantes e o cinema da cidade. Ao fazer a cobertura de uma filial da Lumber em Itararé-SP, se afeiçoou à cidade, para onde acabou se mudando com a família em 1928. Foi ali que ele fez uma foto famosa da passagem de Getúlio Vargas em 1930, rumo ao poder no Rio de Janeiro. Também cobriu eventos e combates da revolução de 1932.

“Homem de invulgar cultura geral”, assinala a filha, se envolveu com a educação, tendo registrado até 1953 os principais momentos de Itararé. “Um prefeito inaugurava uma escola... lá estava ‘Seu’ Jansson com a sua famosa câmera. Os desfiles e as festas cívicas daqueles anos foram todos registrados por ele”. Faleceu no dia 10 de março de 1954, sendo sepultado em Curitiba, onde residia a maioria dos filhos.

Recentemente, o acervo de Claro foi restaurado por iniciativa da Agfa e reunido no livro Claro Jansson, O fotógrafo viajante (Editora Dialeto Latin American Documentary. Textos de Vito D'Alessios).


* MORETTI, Dorothy Jansson. Alguns instantâneos da vida de Claro Gustavo Jansson. In ESPIG, Márcia Janete; ACHADO, Paulo Pinheiro (ORG). A Guerra Santa revisitada: novos estudos sobre o movimento do Contestado. Florianópolis: EdUFSC, 2008.


"Alemãozinho", fotógrafo, se uniu aos rebeldes
e depois prestou serviços às forças legais.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

José Fabrício das Neves (45)

Foto já conhecida do grupo de José Fabrício encontrada numa
parede na casa da família Machado - interior de Vargem Bonita-SC.


Cenários e personagens de uma emboscada

Vamos conhecer algumas pessoas e situações relacionadas diretamente com a emboscada e morte de José Fabrício das Neves, ocorrida em janeiro de 1925 - aparentemente no dia 29. Os capítulos "Os Ruas" e "A compra da Fazenda Velha" foram publicados (com pequenas alterações) no livro "O mato do tigre e o campo do gato - José Fabrício das Neves e o combate do Irani" (Florianópolis: Insular, 2007).

Além disso, são reproduzidas as cinco páginas do contrato de compra e venda de uma fazenda entre os Ruas e José Fabrício, negócio apontado como um dos motivos da emboscada. O valor da transação nos dá uma idéia da riqueza acumulada por José Fabrício, um antigo maragato de 1893 e "jacunço" do Contestado, alçado a condição de "coronel". Ele controlava toda a região dos atuais municípios de Concórdia, Arabutã e Itá, entre outros, com iarticulação e nfluência em Campos Novos, todos em Santa Catarina, e cidades do Rio Grande do Sul e do Paraná.


Os Ruas

Simão Ruas e Marcelino Ruas são citados como “pioneiros” de Joaçaba por Alexandre Muniz de Queiroz (QUEIROZ, 1967, p. 212), sendo comerciantes. Simão, “comerciante e comprador de erva-mate”, morava na margem direita do rio do Peixe, no lado oposto a então Estação Capinzal, desde os tempos em que a região pertencia ao Paraná. “O acesso era por uma balsa, tocada por Afonsinho Silva”, recorda Waldomiro Silva. Seu irmão, Francisco, conhecido por Chico Ruas, morava nas imediações (SILVA, 1987, p. 20).

Marcelino se casou com Elvira Pedrini, filha do coronel Pedrini Primo Biggin, de origem italiana, comerciante e um dos mais antigos moradores de Joaçaba. Outro filho de Biggin, Roberto Pedrini, se casou com Benvinda Ruas (QUEIROZ, 1967, p. 45). Chico Ruas seria mais tarde sogro desse mesmo Roberto. Pouco depois chegou de Passo Fundo-RS, Thomaz Camilo Ruas, “que tomou conta da casa comercial e compra de erva-mate”, enquanto Simão “viajava constantemente para o Rio Grande do Sul e Argentina” a negócios (SILVA, 1987, p. 21).

José Waldomiro Silva acompanhou de perto essa movimentação comercial, pois na época trabalhava como “caixeiro ou balconista do sr. Simão Ruas, onde também era empregado o caboclo Antônio de Oliveira, vulgo Antônio Lambança”. Simão “foi homem de muita sorte, pois chegou a acertar por duas vezes na loteria e ganhar o prêmio maior, que na época era de 50 contos de réis”, vindo se tornar um “grande empresário de erva-mate e proprietário de grandes fazendas (ervais)”, inclusive no Paraná, na localidade de Covó e município de Mangueirinha, na região de Clevelândia.

Comércio de Simão Ruas. (Fonte: Queiroz, 1967)

Mais tarde, por volta de 1921, Simão e seus irmãos adquiriram as casas, armazéns e outras instalações de Eugênio Lamaison, em Limeira (Joaçaba), que atuava no ramo de compra e venda da erva-mate. Simão construiu no local “a primeira casa de material” em Erval”, próximo a ponte Jorge Lacerda, com dois pavimentos, “onde residiu com sua família e manteve escritório no andar térreo”. Simão, entretanto, ao mesmo tempo que ganhava muito dinheiro, “gostava muito de corridas de cavalo e também de jogo de pôquer, talvez uma das razões de ter morrido em dificuldades financeiras (pobre)” (SILVA, 1987, p. 21).

Na época em que inaugurou o estabelecimento, um cidadão de Porto União também se instalou na cidade e no mesmo ramo de erva-mate, abrindo seu negócio na casa e ferraria de João Perez, na região central do atual município de Joaçaba. “Para evitar concorrência”, conta José Waldomiro, “a firma Ruas começou a pressionar o concorrente”, que não se intimidou e prosseguiu com a empresa. Certo dia, os “rapazes dos Ruas”, segundo o citado autor, “armados de winchesteres e revólveres”, atacaram o escritório do concorrente e, “em número de cinco ou seis, entre os quais o de nome Nefre que tinha fama de bem bom”.

O comerciante de Porto União já esperava o ataque e assim que o grupo agressor chegou, “vindo da Empresa Ruas”, foi recebido à bala, “travando-se a seguir violento tiroteio, tendo os agressores se retirado com dois feridos”. Ninguém morreu, mas cinco ou seis pessoas de ambos os lados saíram feridas e “a vista disso, o moço de Porto União resolveu desistir de comprar erva-mate em Limeira” (SILVA, 1987, p. 39-40).

Fonte: Queiroz, 1967. (Clique para ampliar)


A compra da Fazenda Velha

A memória oral em Irani registra a presença de uma fazenda como motivo das divergências entre Marcelino Ruas e José Fabrício. “Os irmãos Ruas lá de Limeira se davam bem com ele [Fabrício], depois eu sei lá o que, eles se desentenderam, então ficaram de contra, por causa de terra”, diz Antônio Fabrício das Neves, que cita a presença de uma “sociedade” e uma “fazenda”, “banco”, “dinheiro dos bois”. Os Ruas, segundo Antônio, “só vinham aqui pra querer matá ele, como de fato mataram. Não sei qual era o motivo, mas era por causa do terreno”.

Agenor Antunes das Neves acrescenta outras informações. Fabrício teria adquirido de Marcelino Ruas uma fazenda, “mas ele [Marcelino] não contou que era hipotecada” e “quando estava quase terminando de fazer o pagamento, faltava pouco, ele não podia, ele já tinha gastado o dinheiro, e diz que tinha de desempenhorar a fazenda”, ou seja, retirá-la da penhora em que se encontraria junto a algum banco. Agenor diz que para efetuar o pagamento da fazenda, Fabrício “derrubava não sei quantas mil toras por mês”, despachadas pelo rio Uruguai até São Tomé, na Argentina. Fabrício “pegava o recurso e ia pagar pro Ruas”, garante.

As falas de Antônio e Agenor fazem mais sentido quando examinamos um “Contrato de promessa de compra e venda”, assinado entre os proprietários da Simão Ruas & Cia, “industriais estabelecidos na Estação de Erval”, e “o comprador o cidadão Jozé Fabrício das Neves, casado, fazendeiro e residente em sua fazenda denominada Laranjeira”. O documento foi lavrado e assinado no dia 15 de junho de 1924, no Cartório de Paz do Distrito de Sertãzinho, município de Cruzeiro (Joaçaba), sob a guarda do Cartório de Paz de Irani. Como representante da firma Simão Ruas & Cia aparece Marcelino Camilo Ruas, “residente em Erval”.

O contrato possui 12 cláusulas. A primeira especifica o objeto de compra – a Fazenda Velha, “parte da Fazenda Irani”, com 21 milhões de metros quadrados – e define os limites do imóvel. A segunda estabelece o preço em seis contos de réis o milhão de metros quadrados e a terceira, quarta e quinta detalham a forma de pagamento. A primeira prestação, a ser paga em 30 dias, seria em terras e José Fabrício deveria entregar aos Ruas a escritura de compra e venda obtida da Companhia São Paulo-Rio Grande, num total de 12 colônias. Elas deveriam ser “escolhidas pelos outorgantes”, ou seja os irmãos Ruas.

A segunda prestação deveria ser paga até o dia 30 de agosto seguinte (1924), correspondente a “200 vigas de cedro classificados de primeira qualidade para exportação e com uma média de setenta centímetros de diâmetro da ponta fina”, e 23 palmos de comprimento, organizadas em duas balsas, atadas e em “condições de viajar para São Thomé”. Elas deveriam ser entregues “no porto da sede da colônia Itá”. Essa segunda prestação previa a entrega de “porco gordo”, no valor equivalente a cinco contos de réis. A mercadoria devia ser deixada na Estação de Erval até o dia 15 de agosto daquele mesmo ano. Os porcos seriam “pesados vivos” e cada quilo equivaleria a 1.200 réis.

A terceira prestação da compra da Fazenda Velha, a ser paga até 15 de setembro daquele ano de 1924, seria em 300 vigas de cedro (40 mil réis por unidade), com as mesmas dimensões das citadas anteriormente, e teriam que ser deixadas nas barrancas do rio Uruguai. O restante do pagamento, segundo o contrato, “será dividido em dez prestações iguais em madeira de cedro e louro”, em vigas, a ser feito a cada trimestre.

A sexta cláusula do referido contrato previa que os Ruas “obrigam-se” a emitir “recibo bem claro de todas as prestações que este [Fabrício] for efetuando em madeiras, porcos ou dinheiro”. Ao final dos pagamentos, os Ruas estariam obrigados a entregar a “competente e pública escritura de venda”. A cláusula seguinte (sétima), estabelece que na entrega da escritura, José Fabrício devolveria aos Ruas “os valores correspondentes ao imposto territorial que estes houverem pago, de esta data a data em que for escriturada”.

José Fabrício poderia usufruir o imóvel desde o momento da assinatura do contrato (15 de junho de 1924) e em caso do não pagamento de uma das prestações, teria 90 dias para fazê-lo. Se deixasse de quitar a dívida, o contrato ficaria anulado (cláusulas oitava e nona). Se os Ruas não cumprissem o previsto no contrato, deveriam indenizar Fabrício com o dobro das prestações pagas até o momento em que surgisse o problema (cláusula décima). O contrato teria vigor por dois anos e meio e caso o pagamento integral fosse efetuado dentro de um ano, haveria um desconto de 10%, segundo a cláusula décima primeira.

Por fim, prevê a 12ª cláusula, os 21 milhões de metros quadrados da Fazenda Velha custariam um total de 126 contos de réis. A assinatura do contrato entre José Fabrício e Marcelino Ruas (Simão Ruas & Cia), foi testemunhada por Sílvio Neves Bley, e Dinarte José Antunes, que também assina o documento. Não foi possível prosseguir as pesquisas e acompanhar os detalhes do cumprimento desse contrato, estando disponível num primeiro momento apenas parte da memória oral e escrita e outras informações daqueles tempos.

Neto de José Fabrício das Neves, residente em Pinhão-PR, Assis Antunes das Neves também garante que seu avô pagou rigorosamente as prestações. Essa informação ele ouviu mais de uma vez de seu pai, Afonso Antunes das Neves. “O José Fabrício comprou os campos do Irani, pagou o combinado, mas o Marcelino Ruas não tinha como dar a escritura por causa da penhora no banco”, explica Assis. “A única saída dele era matar o Fabrício e os capangas dele”, pois caso contrário seria morto. Afinal, seu avô “lidava com erva-mate, madeira, porco, tinha armazém, trabalhava com muita gente, dava serviço para muita gente. E ele tinha o povo das batalhas e o povo que trabalhava", garante.

Agenor Antunes das Neves é primo de Assis, os dois nunca se conheceram, mas a versão deles é semelhante, ou seja, Marcelino Ruas ficou sem saída. “Ele sabia que o Fabrício tinha muita gente lá, tinha gente da pesada”, então “fizeram essa emboscada”. Em outro momento da entrevista enfatiza: “Ele [Fabrício] tinha muitos capangas, se trouxesse virava em nada os Ruas”, observa Assis.


Referências

QUEIROZ, Alexandre Muniz de. Álbum comemorativo do centenário do município de Joaçaba. Joaçaba: IP-Paraná, 1967.

SILVA, José Waldomiro. O Oeste Catarinens: memórias de um pioneiro. Florianópolis: Edição do Autor, 1987.



Contrato de compra e venda da Fazenda Velha
(Irani-SC),
assinado no dia 15 de junho de 1924,
no Cartório de
Paz do Distrito de Sertãzinho,
município então de Cruzeiro (Joaçaba-SC)

(Clique na imagem para ampliar)


O documento original se encontra no Cartório do Irani
(Irani-SC). Livro de Notas aberto em 7 de maio de 1918.
As cinco folhas foram copiadas e autenticadas.