sábado, 6 de dezembro de 2008

José Fabrício das Neves (21)

Monumento ao Contestado (Iranai-SC)


Miguel Fragoso na defensiva

Na avaliação dos historiadores paranaenses, no final da madrugada do dia 22 de outubro de 1912, houve uma “espera”, ou seja, uma emboscada, não um combate. As acusações chegaram a seus ouvidos e Miguel Fragoso resolveu se apresentar em Palmas, tendo conversado com as autoridades, transmitindo a imagem de um “sertanejo inteligente que pesava seus sentimentos e seus atos”.

Sua presença irritou praças e oficiais do Regimento de Segurança que “alçaram-se em um motim para linchá-lo, em vindita [vingança] dos companheiros tombados”, o que foi evitado pelo coronel Pyrrho, “que teve de desembainhar a espada afim de contê-los”. Fragoso, segundo Fredericindo Mares de Souza (1987, p. 133), “obedecia à orientação do coronel Soares, este até acusado de lhe dar proteção, talvez por serem ambos antigos maragatos”.

Fragoso tinha uma versão preparada com antecedência, visando convencer as autoridades de Palmas de que “não se envolvera em absoluto nos sucessos. Ao contrário, afastou muita gente de cair no fanatismo”. Ou seja, ele foi convincente, contando o que muitos autores reproduzem. Chamado por José Maria três vezes, não atendera, tendo procurado o coronel Domingos Soares quando ele esteve em Irani conferenciando com o monge. “Enquanto o esperava, conversou com José Maria. Teve com ele um começo de atrito ao tentar convencê-lo a retirar-se”, conta Souza (1987, p. 133). Ao tentar acalma-lo, José Maria o tratou por compadre, ouvindo de Fragoso um “não sou seu compadre”.

Antes de o inquérito ir “parar nas prateleiras do Cartório Criminal de Palmas”, após serem ouvidas dezenas de testemunhas, as autoridades do Paraná estavam convictas de que “a idéia de resistir coube sem dúvida ao monge e dirigiram a ação guerreira vários cabecilhas, entre os quais Juca Fabrício [José Fabrício das Neves] e os fiéis do Taquaruçu”, sendo citados José Nunes Paiva (também chamado José Felisberto), Brito Antônio, Praxedes Gomes Damasceno, Cirino Chato (Cirino Preto) e “o fiel escriba Clementino”, que após o combate “solicitou socorro na casa da família Kades”, tendo que “segurar nas mãos o maxilar arrebentado por um balázio de comblain”. Quanto a José Fabrício, ficou marcado como sendo um “famanaz [afamado] do crime” e que, “processado, fugiu” (SOUZA, 1987, p. 133).


Referência

SOUZA, Fredericindo Mares de. O presidente Carlos Cavalcanti e a revolta do Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987.

Engenho Velho (Concórdia-SC), região de abrigo e
atividades
de Miguel Fragoso e José Fabrício das Neves

O testemunho no Processo do Irani (Palmas)

“Auto de perguntas feitas a Miguel Soares Fragoso”, em 5.11.1912. Tinha 56 anos, viúvo, industrial, natural de Rio Negro, filho de Honório Soares Fragoso, residente no Jacutinga, sabendo ler e escrever.

Disse que no dia 14 ou 15 de outubro (1912), “soube que no Faxinal dos Fabrícios, no Irani, se achava um monge receitando remédios, e como o respondente se achasse doente, ordenou a seu genro Augusto Ruth Schmidt [frei Tambosi escreve Schmitt] fosse ao Faxinal consultar com o tal monge, afim de ver se obtinha algum medicamento para cura de sua moléstia. [...] que tendo seu genro consultado ao Monge nesse sentido este disse ao genro do respondente que remédio não daria sem que o respondente fosse a sua presença”.

No dia 19, “teve ciência que o referido Monge pretendia seguir com seu pessoal para o Jacutinga e também porque desejasse obter [....] com o mesmo”. Fragoso deixou sua casa acompanhado de 20 homens e “dirigiu-se ao acampamento do monge, tendo pernoitado no lugar denominado Engano, de onde saiu no dia seguinte pela manhã, além dos que já tinha em sua companhia, pernoitando nesse mesmo dia no acampamento do Monge onde chegou acompanhado de 38 homens, alguns dos quais lhe alcançaram em caminho”.

Ao chegar ao acampamento de JM, este “ordenou” que os homens de Fragoso recebessem fitas brancas para por nos chapéus, “tendo o respondente recusado-se a isto”. Alegou que “não estava tratando de guerra e que se o Monge quisesse brigar que saísse para o campo e não ficasse [...] sacrificando tantas famílias, porque o respondente não queria ver seus parentes e amigos mutilados por bala, apesar de ter ele Monge feito convencer à sua gente que balas de inimigos não os atingia, pois era sair da boca da arma e cair no chão sem ofendê-los, pois para o inimigo era bastante chegar a facão, tendo então o respondente feito ver ao Monge o que era o resultado de um combate, do qual o respondente tem prática, que feito pelo respondente estas ponderações o Monge demonstrou-se contrariado, não trocando, desde então, mais palavra com o respondente; que nessa noite o respondente encontrou o Monge que disse chamar-se José Maria de Castro Agustinho [assinalado no original], hospedado na casa de Miguel Fabrício das Neves [...] que na casa estavam armadas muitas barracas”.

“[...] no dia seguinte, o respondente notou que o número de homens que ali se achavam era de duzentos e cinqüenta, mais ou menos, entre os quais o respondente lembrasse de ter visto José Fabrício das Neves, José Perão, vulgo José Felisberto, Dezidério Perão, Bento Quiterio, Thomaz Fabrício das Neves, Miguel Mato-Grosso que é um indivíduo de vinte e cinco anos de idade, bigode, cabelo e barba preta, de estatura regular, filho de José Matto-Grosso, um cunhado de Miguel Matto-Grosso de nome Germano de Tal, de estatura regular, gordo, moreno, tipo de Paraguaio, regulando vinte e oito anos, mais ou menos, e um vacariano de nome Pedro Felix que fazia parte dos doze pares do Monge, que tendo chegado no acampamento do Monge no dia vinte, ai pernoitou e passou o dia seguinte vinte e um onde novamente pernoitou”.

“[...] que no dia vinte e um chegou ao acampamento do Monge às onze horas o dia uma comissão composta do Coronel Domingos Soares, Octávio Marcondes, João Varella, José Júlio Farrapo e Déco Cachoeira, que ali foram conferenciar com o Monge de cuja conferência o respondente fez parte, tendo ouvido o Coronel Soares perguntar o que significava aquele pessoal ali acampado e armado, [...] daquela zona, afirmando o Monge que nada tinha com o Governo nem com o povo do Paraná e que ali estava devido terem levantado em Curitibanos uma calúnia contra ele, acusando-o de ter tentado restaurar a Monarquia no povoado denominado Taquaruçu, no Estado de Santa Catarina, tendo então o Coronel Soares aconselhado ao Monge que procurasse seus direitos por meios legais, constituindo para isso um advogado e que reuniões daquela natureza o Governo não consentia, tendo nessa ocasião o Monge feito ver que de Santa Catarina tinha vindo atropelado e se o governo do Paraná o perseguisse também, ele seria obrigado a [...]”.

Na ocasião Soares teria dito que “o Monge podia ir deixando ali as pessoas do lugar que eram homens pacíficos e ordeiros”. José Maria “disse as seguintes palavras: ‘Pois que estóre ou que arrebente”. Diante disso, Soares “muito incomodado, disse ainda algumas palavras ao Monge e em seguida retirou-se para uma sala próxima; neste momento Octávio Marcondes entrou em conversa com o Monge e após ter feito a este muitas ponderações, fez ver ao Monge que diversas pessoas que ali se achavam ao lado deste eram arrendatários da Fazenda Iranÿ e pelos quais Octávio Marcondes se interessava muito, não tendo o respondente ouvido o Monge dizer coisa alguma a Octávio em resposta as suas palavras”.

Fragoso deixou o quarto e se dirigiu a uma sala onde estava Domingos Soares e convidou este, bem como a José Fabrício, para conversarem no sentido de verem se conseguiam retirar o pessoal de José Fabrício, dispersando estes”. Soares e Fragoso aconselharam “a José Fabrício no sentido de ordenar a dissolução do seu pessoal respondeu este que se achava em tratamento de sua saúde em casa de seu irmão Thomaz onde estava acampado um grupo de homens armados ao lado do monge e que se a gente do Governo viesse metia bala [assinalado no original], dizendo o Coronel Soares a José Fabrício que se ele pusesse bala na força que viesse o Governo mandaria para ali força necessária para a manutenção da ordem, perguntando o Coronel Soares a José Fabrício que motivo havia para quererem brigar contra o Governo, tendo nessa ocasião José Fabrício ficado cabisbaixo sem proferir palavra, retirando-se dali o respondente e o Coronel Soares”.

Fragoso teria dito a Soares que o Monge “estava zangado” e que ia falar novamente com ele, para ver se “conseguia encaminhar aquele povo para suas casas; de acordo com o Coronel Soares falou o respondente novamente com o Monge, fazendo ver a este que o Coronel Soares era o chefe do pessoal daquela zona e pelo qual muito se interessava e que por isso ele, Monge, devia entrar em acordo com o Coronel Soares”. José Maria pediu a Fragoso que “este garantisse a passagem dele, Monge, dali para o Estado de Santa Catarina”. Fragoso chamou Soares e transmitiu o pedido, “tendo o Coronel Soares dito-lhe que de sua parte estava garantido; que o Monge podia sair em direção ao Campo-Erê onde nada lhe aconteceria, esta promessa o Coronel Soares fez no sentido de facilitar a prisão do Monge”.

Momentos depois o Coronel Soares “e seus companheiros se despediram do Monge e retiraram-se em direção ao campo; que nesta ocasião o respondente viu Octávio Marcondes tirar do bolso uma carta e entregar ao Monge; que este lendo-a disse o seguinte: ‘Pois eu então sou homem de receber cartas escritas a lápis?’ não tendo o respondente ouvido qual foi a resposta de Octávio; que a tarde o respondente notou que o Monge estava bastante zangado e que daí a pouco encilhar a cavalhada e depois de formado o piquete composto de quarenta homens armados o Monge montou a cavalo e partiu com o piquete a toda disparada em direção a saída do campo, de onde voltou as três horas da madrugada”.

Fragoso viu quando José Maria “entrou na casa de Miguel Fabrício, onde se achava hospedado”. Na manhã seguinte, 22 de oututro de 1912, Fragoso “ordenou que o pessoal que andava com sigo procurassem seus animais para voltarem para o Jacutinga, onde morava”. Por volta das 6h30, “mais ou menos”, “chegou ao acampamento do Monge um indivíduo que o respondente não conhece dizendo ao Monge que as forças do Governo já estavam no campo fazendo tiroteio; sabendo o Monge desta notícia, mandou, a toda pressa, encilhar a cavalhada, que já estava a cabresto, e montou a cavalo saindo na frente da força que era composta de cinqüenta homens mais ou menos, o célebre Monge José Maria [...] pronunciando em frente do piquete as seguintes palavras: Quem experimentar José Maria uma vez, a outra vez, não quererá nem com açúcar [assinalado no original]; e após muitos vivas que partiram do povo da força o Monge disse o seguinte: Alegrem o coração rapaziada, e, em seguida partiu em direção ao campo onde em caminho juntou-se com José Fabrício que com muita gente fazia, no mato, a guarda avançada, em quanto isto o respondente pôs-se a frente de um grupo de cento e tantos homens a pé e conseguiu que todos abandonassem o Monge e se retirassem para suas casas o que fizeram; que momentos depois o respondente ouviu cerrado tiroteio o qual calculou ser efetuado no Banhado Grande próximo ao mato”.

Ao se dirigir para sua casa, disse Fragoso, “foi alcançado por Gabriel Cordeiro que tinha estado no tiroteio que disse ao respondente que o Monge tinha tiroteado com as forças do Governo, constando ter estas acabado com o pessoal do piquete e que o Monge também tinha morrido; que Gabriel apartando-se tomou o rumo da [serra]”, enquanto Fragoso e seus homens seguiram viagem.

“[...] que o respondente sabe que José Fabrício das Neves, José Alves Perão, Miguel Matto-Grosso, Bento Quitério e Dezidério Perão, tomaram parte ativa no combate de vinte e dois, ao lado de José Maria, bem como um indivíduo conhecido por comandante Praxedes, Pedro Felix, Cláudio, João e Antônio Belchior, e Clementino Fabrício que servia de Secretário do Monge”.

Fragoso diz em seu depoimento que “o homem que mais confiança merecia do monge era José Fabrício das Neves que era encarregado de reunir o pessoal para seguir o Monge”. Garante que não lutou ao lado do Monge, e que “apenas alguns dos rapazes que vieram consigo aceitaram o distintivo do Monge, pondo uma fita branca no chapéu; que o respondente desconfia que alguns destes houvessem logrado a sua atividade e acompanhado as forças do Monge, porque em regresso para sua casa verificou que alguns deles não tinham aparecido, entre esses João Leme, Antônio Palhano, Francisco Leme e Paulo de Tal”.

Disse ainda que, a caminho, soube que “o tal comandante Praxedes tinha saído ferido e tinha tomado a direção do Jacutinga”, o que ficou sabendo “por um de seus filhos que tinha ficado na invernada do acampamento procurando um animal que estava extraviado e que encontrou-se com o mesmo Praxedes quando este ferido entrava no mato após o combate; sabendo também que Sebastião Baiano que estava com o Monge também saiu ferido”.

Sobre Miguel Fabrício das Neves disse que até o dia 21 de outubro, este “conservou-se sempre ao lado do Monge”. Tanto é que “na tarde do mesmo dia, quando o Monge saiu do acampamento com todo o seu pessoal, voltando para ali às três horas da madrugada, Miguel Fabrício ficou com o piquete ao lado do Monge, voltando Miguel Fabrício adoentado devido ter destroncado seu pé proveniente de ter rodado o animal em que montava, motivo este que fez Miguel ficar em casa no dia do combate”. Fragoso, entretanto, “acredita que se Miguel não estivesse doente teria tomado parte saliente no combate ao lado do Monge”.

A caminho de Palmas, onde ia depor, soube que no lugar Macaquinhos tinha aparecido diversas pessoas do grupo do Monge que fugiram depois do combate e que lá mesmo tinha chegado um indivíduo gravemente ferido que faleceu no dia seguinte”, [...] e alguns deixaram no local animais do Governo. Soube por Eleodoro Silveira que onze pessoas haviam morrido, inclusive o coronel João Gualberto.

O coronel viu “os doze pares do Monge, todos montados em animais claros os quais viviam garrados ao Monge; que o Monge dava a esses homens o título de ‘Doze Pares de França’”. Através de José Fragoso, Miguel Fragoso “também soube que depois do combate José Fabrício das Neves ficou no campo de luta recadando tudo quanto ali estava, inclusive tudo quanto o Monge tinha em seu poder assim como dinheiro, relógio e outros objetos, sendo provável que a mesma coisa fizesse Fabrício levando o dinheiro e objetos do Coronel João Gualberto”. Que no acampamento do Monge, “falavam que este carregava consigo muito dinheiro”.

Miguel Fragoso “ouviu propalarem que parte das forças do Governo não tinha [enfrentado] os fanáticos, tendo logo recuado, deixando assim enfraquecido o pessoal que se batia, no entrevero, aparecendo ao respondente que se a força do Governo fizesse resistência parelha teria feito completa derrota no pessoal do Monge, pois quando partiu o Monge com seu pessoal, o respondente calculou que nenhum deles voltasse com vida, pois, o respondente estava certo que as forças do Governo seriam vitoriosas”. No final, disse não reconhecer uma “guampa” e um “arreador” que lhes foram mostrados - “não reconhece, ignorando que sejam seus donos”.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Parque do Contestado: ruína e desperdício

Recursos públicos jogados fora em Irani-SC. Estruturas estão se deteriorando.







Fotos de março a julho de 2007. O abandono continua.



Tentativa de uso do espaço abandonado. Fotos: Acervo Vicente Telles.






Museu do Contestado funciona precáriamente,
apesar dos esforços dos que atendem os visitantes.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

José Fabrício das Neves (20)


O papel de Miguel Soares Fragoso (1ª parte)

Miguel Fragoso foi apontado pela historiografia paranaense como o comandante dos caboclos no combate de 22 de outubro de 1912 em Irani. “A figura sombria de Miguel Fragoso, indigitado cabecilho da malta assassina”, escreve Fredericindo Marés de Souza, “evidenciava-se torva dentro de uma negra legenda do crime”, pois “duvidava-se da capacidade guerreira do místico José Maria”. O jornal A República, conforme o mesmo autor, apontava José Maria como um homem bom, mas que estaria servindo “apenas de gato morto a Fragoso e seus sequazes”, segundo Souza (1987, p. 125).

Pouco antes da meia-noite de 23 de outubro de 1912, o chefe de polícia do Paraná escreveu de Palmas ao governador Carlos Cavalcanti, do Paraná, relatando o temor existente na cidade quanto a uma possível invasão dos caboclos. Fala em 500 homens “armados e municiados”, dirigidos pelo “indivíduo Miguel Fragoso” (SOUZA, 1987, p. 125-126). No dia seguinte, 24, são enviados reforços para a região de Palmas, enquanto o governador paranaense se dirige ao presidente Hermes da Fonseca pedindo a intervenção do Exército. Isso resultou na organização de uma expedição sob o comando do coronel Antônio Sebastião Basílio Pyrrho, comandante do 5º Regimento de Infantaria aquartelado em Ponta Grossa-PR (SOUZA, 1987, p. 128-129).

As forças estaduais em Palmas foram incorporadas à coluna do coronel Pyrrho, composta por regimentos de infantaria e cavalaria, uma companhia de metralhadoras e “duas bocas de fogo de artilharia montada”, segundo Rosa Filho (1988). Acrescenta que de Florianópolis seguiu uma coluna constituída pelo 54ª Batalhão de Caçadores e a Força Pública (Polícia Militar) do Estado. O coronel (Guarda Nacional) Manuel Fabrício Vieira, por outro lado, que havia se oferecido para enfrentar os homens de José Maria no Irani e recebera um não precisa, se incorporou à expedição, assim como outros grandes fazendeiros e caudilhos de Santa Catarina e do Paraná (SOUZA, 1987, p. 129).

A primeira providência de Pyrrho, foi enviar oficiais e praças a paisana para buscar informações nas regiões do Irani e Jacutinga, sob o comando do capitão Antônio Ribeiro dos Santos, “guiados por vaqueanos”. Esses homens andaram 10 dias pela área, percorrendo cerca de 400 quilômetros (60 léguas) e constataram que “em certos quarteirões, os sitiantes haviam fugido”, informa Souza. “O facínora José Fabrício, vulgo Juca Fabrício, sumira. Quatro membros da família Germano e o preto Sebastião”, este acusado de ter se apossado da arma de um policial no combate, “não foram encontrados no lugar” (Catanduvas). “Da família Fabrício só se achava em casa Miguel, por estar doente” (SOUZA, 1987, p. 130).

Esses militares relataram que “no Faxinal dos Fabrícios, povoado de 13 casas”, havia uma “decente capela, onde se notava, no altar, entre outros santos, o retrato de João Maria”. O restante de Irani “é todo de sítios isolados, em geral, cômodos, providos do necessário, próximo das roças. Aparentava zona próspera”, cita o autor. No local onde ocorrera o combate e “na casa de Bentinho”, os mesmos militares encontraram 20 gorros, cantis, bandoleiras, quatro capotes da polícia e um chapéu “com fita branca que pertenceu ao monge”, segundo “A república” de 19 de dezembro de 1912 (SOUZA, 1987, p. 130-131).

De acordo com Rosa Filho (1998), tropas da cavalaria do Exército percorreram todas as estradas de acesso a Irani e o “local do encontro anterior foi minuciosamente batido e explorado nos seus arreadores. Nada foi encontrado. Informações dos poucos moradores, ainda apavorados, resultaram no retrocesso da coluna”. Dessa forma, “depois de peregrinar quase um mês pelos arredores palmeirenses, a esperançosa Coluna Pyrrho era dissolvida, sem ter um só encontro com os rebeldes sertanejos”.

Os resultados foram decepcionantes para os dois autores paranaenses, enquanto o Ministério da Guerra se justificava, “dizendo que era impossível o Exército organizar um plano de combate e, vista de ser desconhecida a topografia do terreno”. Isso significava a ausência de mapas precisos, tornando o local “quase inatacável”, já que a “formação acidentada do terreno assegurava aos fanáticos magníficas posições”. A tudo isso se somou a falta de vias de transporte adequadas, tornando a perseguição uma “verdadeira inércia”. Uma vez “desbaratados, mas vencedores no primeiro encontro, os fanáticos sobreviventes retrocederam para a margem esquerda do rio do Peixe”, indo se refugiar na região de Campos Novos (ROSA FILHO, 1998).

Enquanto as buscas aconteciam, foi aberto um inquérito policial em Palmas, visando apurar os detalhes do combate de Irani, visando satisfazer a opinião pública que “exigia a punição dos culpados”. Ao mesmo tempo, um conselho de guerra investigou a participação dos oficiais sobreviventes do combate. “Do lado dos bandoleiros”, destaca Souza (1987, p. 131-132), “apontava-se como o maior responsável, como se observa nos primeiros comunicados, Miguel Fragoso”, um “posseiro na zona do Irani chamada Sertãozinho, no lugar Engenho Velho”, nas margens do rio Uruguai, hoje município de Concórdia. “Teria sido ele o comandante de briga, uma espécie de general fanático, na polvorosa espera do Banhado Grande”.


Nascido em Rio Negro (PR) por volta de 1856, Miguel Soares Fragoso era filho de Honório Soares Fragoso e Maria do Pilar, tendo se casado em 17 de maio de 1874 com Maria Vieira Machado, filha de Manoel Vieira Machado e Anna do Rosário [informações enviadas por um descendente dos Fragoso, Henrique Fendrich]. Estava com cerca de 38 anos de idade quando participou da Revolução Federalista (1893-1895), tendo ingressado nas tropas de Gumercindo Saraiva. Sua presença nas frentes de combate foi registrada pelo médico Ângelo Dourado, que acompanhou as forças federalistas (DOURADO, 1977, p. 220-221; 227).

Outras informações sobre ele são do frei Valentin Tambosi, autor da primeira parte do Livro de Crônicas da Capela de Nossa Senhora Aparecida de Engenho Velho (Paróquia N. S. do Rosário, Concórdia). O texto de frei Tambosi foi reproduzido pelo lavrador e funcionário público José Antônio Puntel e entregue ao autor. Nascido em 10 de julho de 1943, em Engenho Velho, Puntel reúne depoimentos de antigos moradores e escritos sobre a história do lugar.

“Engenho Velho é uma localidade situada na confluência do lajeado dos Fragosos com o rio Jacutinga, uns 25 quilômetros de Concórdia, na estrada Concórdia-Itá”, escreve frei Tambosi na década de 1940, com base em antigos relatos de franciscanos. “É um dos lugares mais antigos de Concórdia e está ligado ao nome e a ação do coronel Miguel Soares Fragoso”, assinala. Fragoso teria chegado à região por volta de 1900, permanecendo “18 meses nos campos do Irani”. Pelas contas do frei, por volta de 1903, Miguel já se encontrava no atual distrito de Santo Antônio da Boa Vista (Concórdia), transferindo-se em 1909 para a barra do lajeado Fragoso (Engenho Velho), um lugar conhecido antigamente como barra de Santa Cruz, no mesmo município (TAMBOSI, 1941).

O fotógrafo Júlio Gomes conheceu as estruturas remanescentes de um engenho hidráulico, mandado construir por Miguel Fragoso. Serrava madeira, fabricava aguardente e açúcar. “Tudo isso está hoje lá embaixo, com cerca de 60 metros de água por cima”, diz, mostrando a paisagem do lago de Itá na altura da foz do rio Jacutinga.

“Por toda a região”, prossegue frei Tambosi, “viviam espalhadas várias famílias, que tinham vindo do Rio Negro com o coronel”, citando os nomes de Augusto, Pedro e Miguel Ruth Schmitt, “e uma irmã casada com Ponciano dos Passos”, além de José e Constante Gren, Joaquim Fragoso (irmão de Miguel) e seu sobrinho José Fragoso. “Em sua maioria moravam perto do atual Engenho Velho, onde cuidavam das plantações e da criação do coronel”, diz frei Tambosi. “Era o sistema feudal dos fazendeiros, sendo Fragoso o cabeça, que de tudo cuidava, indo buscar com cargueiros o necessário em Palmas e Porto União”, acrescenta. Em troca, “trabalhavam todos para o coronel” (TAMBOSI, 1941).

Nilson Thomé traça um perfil interessante desse personagem. “Fragoso era amigo dos principais fazendeiros da região, muitos deles ex-maragatos, como o coronel Domingos Soares, líder político em Palmas”, assinala. Também “mantinha boas relações com a numerosa família Fabrício das Neves, posseira e proprietária de grandes extensões no Irani”. Federalista e monarquista “convicto”, após “se revelar pela coragem em combate, entre 1895 e 1912, mostrou-se pacífico e religioso, vindo a pregar a palavra de Deus”, adotando o uso de “plantas medicinais para curar doentes, com o que passou a ser muito estimado pelos habitantes da região”. Por isso, os caboclos o tinham como um “homem de paz de forte liderança e dispunham-se a defendê-lo ante qualquer ameaça, com o uso de armas, se necessário”. Era chamado de coronel Fragoso como “sinal de respeito”(THOMÉ. 1999, p. 122).

Maurício Vinhas de Queiroz o situa “junto ao rio Jacutinga e sobre a fronteira do Rio Grande”, onde havia um “largo trato ocupado por Miguel Fragoso e seu pessoal desde os tempos que se seguiram ao fracasso do Movimento Federalista”. (1981, p. 92) O “antigo chefe maragato” era “capaz de levantar a qualquer momento 100 homens em armas”, afirma Queiroz, que destaca as ligações entre Fragoso e José Maria (QUEIROZ, 1981. p. 93) .

Em relação a sua participação no combate de 22 de outubro de 1912, no Irani, Queiroz diz o seguinte: “Miguel Fragoso ficara seguramente na reserva, com o grosso de seu pessoal, pronto parta intervir em caso de necessidade para socorrer o monge, embora isto nunca tivesse ficado de todo comprovado nos vários inquéritos policiais e militares que se seguiram aos acontecimentos”. E mais: “O que ficou indubitavelmente apurado é que, se bem não tivesse participado pessoalmente da refrega, grande parte de seu pessoal ali atuou, sem que ele o tivesse podido ou querido impedir”. O autor destaca ainda a “sólida proteção” recebida por Miguel Fragoso do coronel de Palmas Domingos Soares e a “benevolência das autoridades federais” (QUEIROZ, 1981, p. 101).



Voltemos ao frei Tambosi, para que Miguel Fragoso era “homem de muita religião”, e “cuidou que viessem os padres em visita a este lugar”. Além disso, mandou construir uma “capelinha, que seria dedicada a Nossa Senhora da Conceição”. Enquanto a edificação era erguida, Fragoso providenciou a vinda de padres de Palmas, passando por Irani, entre eles os freis Solano Schmitt, Luiz e Dimas, que “celebravam a santa missa na própria casa do coronel”, em Engenho Velho.

Pouco antes da conclusão da capela, entretanto, “deu-se o desastre. Faltando os pregos, empilharam a madeira dentro da igreja. Na queima de uma roça vizinha, queimou também a capela”, em 1910. Desde o ano anterior, devido a problemas de saúde com a esposa, Miguel Fragoso havia construído uma casa próximo do engenho. Sobre ele, frei Solano Schmitt escreveu várias crônicas em edições da revista “Vida Franciscana” (TAMBOSI, 1941). Segundo Nilson Thomé (THOMÉ, 1999, p. 125), o monge José Maria teria conhecido Miguel Fragoso por volta de 1910, com quem teria “aprendido, ao menos em parte, lições de religião e homeopatia”.


Barra do rio Jacutinga (Concórdia-SC), ligada ao lago de Itá-SC.
Território de Miguel Fragoso e José Fabrício das Neves.

Referencias
SOUZA, Fredericindo Marés de. O presidente Carlos Cavalcanti e a revolta do Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987.
ROSA FILHO, João Alves. Combate de Irani. Curitiba: Associação da Vila Militar, 1998.
DOURADO, Ângelo. Voluntários do martírio: narrativa da revolução de 1893. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1977.
TAMBOSI, Valentin. Livro de Crônicas para a Capela de Nossa Senhora Aparecida de Engenho Velho. Paróquia N. S. do Rosário, Concórdia, Diocese de Lages. [1941]. 50f. [manuscrito]. (Fotocópia das primeiras páginas cedida por José Puntel. Concórdia, abril 2007).
THOMÉ, Nilson. Os iluminados: personagens e manifestações místicas e messiânicas no Contestado. Florianópolis: Insular, 1999.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Casamento" em Coronel Vivida (PR)

José da Silva Perão, o Juca Perão, representa com sua esposa Sebastiana Perão, Vó Bástia, um casamento do passado. Juca Perão é filho do combatente do Contestado José Alves Perão (José Felisberto), que se refugiou na localidade de Jacutinga, em Coronel Vivida-PR, para fugir das perseguições. A iniciativa integrou as comemorações de criação do município de Coronel Vivida ocorrida em 14 de dezembro de 1955. A região serviu de refúgio a centenas de outras famílias da região do Contestado, em Santa Catarina, algumas por iniciativa própria e outras instaladas em colônias, como Pato Branco, pelo governo paranaense. Fotos em 14.12.2007.

















terça-feira, 2 de dezembro de 2008

José Fabrício das Neves (19)

O papel de João Gualberto é importante para se compreender o desfecho do combate de Irani, evento que marcou a vida de José Fabrício das Neves e outros personagens.


O CORONEL JOÃO GUALBERTO

Pernambucano de Recife nascido em 11 de outubro de 1874, se tornou oficial na Escola Militar do Rio de Janeiro, sendo alferes em 1894, com 16 anos de idade. Continuou nos estudos, fez Engenharia (1901), obteve o diploma de bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e concluiu o curso do Estado Maior de Engenharia. Em julho de 1910, chegou a capitão do Exército, tendo assumido o comando do então Regimento de Segurança, atual Polícia Militar do Estado do Paraná. Era, portanto, um sujeito preparado.

Nos primeiros dias de outubro de 1912 chegaram a Curitiba informações de uma invasão do território paranaense, promovida por agentes de Santa Catarina. “Invasão catarinense. O Paraná se levantará como um só homem para defender seus direitos, embora odeie o derramamento de sangue”, afirma a manchete de capa do Diário da Tarde na edição de 1º de outubro, segundo Rosa Filho. Esse foi o tom adotado pela mídia da época. No jornal Comércio do Paraná, o jornalista Generoso Borges afirma que sendo “pacíficos rezadores ou bandidos perigosos, não podem ser recebidos em nosso território como elementos aproveitadores”. E pede que o Regimento de Segurança realize “uma manobra a sério”, visando a tranqüilidade dos habitantes da região.

“Era o sensacionalismo gerando confusões em torno da polêmica que vinha se alastrando há longos anos”, destaca Rosa Filho. Liz Dalfré estudou o comportamento da mídia na ocasião e chegou a conclusões semelhantes. A cobertura naquele momento e depois da morte de João Gualberto, “propiciava e criava um clima onde o leitor se entregava à notícia e também aos valores e idéias que ela trazia consigo”, destaca a autora. “Ao ler, ele se identificava com o discurso proferido pelo periódico, afinal de contas, o jornal se apresentava como defensor dos interesses do Paraná”.

Isso se refletia nas ruas. E nos telegramas. “As populações ameaçadas telegrafavam ao presidente Carlos Cavalcanti, apreensivas, a pedir garantias”, diante da aproximação da “malta”, relata Souza. Em muitos lugares as populações se armam, como em Palmas e “de Xanxerê informam que a mocidade reagirá ante a invasão do rio do Peixe”. Ao mesmo tempo, “coronéis chefes políticos, como justificativa do posto honorífico, dispõem-se para a luta armada”, como fez Manoel Fabrício Vieira. Rapidamente as forças policiais são mobilizadas e uma expedição organizada em poucos dias. João Gualberto, “brilhante oficial”, estava “preso da mesma indignação do povo paranaense, militar de temperamento impulsivo, arrebatado, generoso e bravo” (Souza), queria partir o quanto antes.

Um dia antes do embarque rumo a Palmas, João Gualberto foi visitar o pai do historiador paranaense David Carneiro, em Curitiba. Era um homem de “1,70 pouco mais ou menos de altura, ombros largos, corpulento, já um tanto barrigudo, grisalho, fisionomia aberta e de simpatia espontânea, dessas que atraem imediatamente”, salienta Carneiro, “inspirando confiança”. Durante a visita, “não deixou de andar, como se fosse um dos antigos peripatéticos”, mantendo as duas mãos para trás, fumando um “grosso charuto já meio mastigado”. Andava de um “extremo a outro da nossa sala de jantar, contando o que se dizia e o que se faria”.

Na ocasião, falou do que “pretendia fazer: levava cordas, e havia de trazer os 39 bandidos todos, amarrados”, contou anedotas e casos, “rindo e fazendo rir”. Apenas a “agitação, o andar constante, mostrava que estava preocupado com a sua missão”. Ele chegara à casa de Carneiro no início da noite e por volta das 21h45 anunciou a saída. Mas, ao pegar o chapéu, observou uma mesa de xadrez e se deteve. Perguntou ao anfitrião se jogava e ouviu um sim.

“Pois então vamos a uma partidinha. Até as 10 eu lhe dou dois cheque mate, e ainda faço o que tenho a fazer hoje”, disse. “Permaneceu até a 1 hora da madrugada, indo embora após perder duas partidas seguidas”, assinala Carneiro. E foi com essa “adrenalina” toda que ele rumou para a região do entrevero fatal, onde foi descartando uma a uma qualquer possibilidade de evitar o choque. Entre União da Vitória e os arredores de Palmas, por exemplo, numa extensão de 148 quilômetros, levou 51 horas de marcha (Souza).

E não deu o devido crédito aos esforços do superintendente de Palmas, coronel Domingos Soares, que obteve a garantia de José Maria de se retirar de Irani, e dispensou a opinião do chefe de polícia do Paraná, desembargador Vieira Cavalcanti, que o acompanhava, conforme veremos a seguir. A chuva lhe acompanhou por toda a jornada, com breves períodos de sol.


Referências

CARNEIRO, David. Duas histórias em três vidas. Curitiba: Papelaria Universal, 1939.

DALFRÉ, Liz Andréa. Outras narrativas da nacionalidade: o Movimento do Contestado. 2004. 154f. Dissertação (Mestrado em História) - Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.

SOUZA, Fredericindo Marés de. O presidente Carlos Cavalcanti e a revolta do Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987.


Óleo do cel João Gualberto. Acervo do Museu da Polícia Militar do Paraná. Reprodução: J. L. Cibils.

Biografia (oficial)

Cel João Gualberto Gomes de Sá Filho

Herói do 'Combate do Irani'

O coronel João Gualberto nasceu no Recife/Pernambuco no dia 11 de outubro de 1874. Filho de João Gualberto Gomes de Sá e Dona Júlia Bezerra Cavalcanti de Sá.

Em 26 de setembro de 1890, com apenas 16 anos de idade, ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro, graduando-se alferes em 1894.

Anos mais tarde escolheu o Paraná como seu segundo lar. Em Curitiba constituiu família casando-se com dona Leonor de Moura Brito.

Já como tenente retornou ao Rio de Janeiro onde prosseguiu seus estudos, formando-se engenheiro militar com a turma de 1901.

Retornando à Curitiba, passou a servir no 13º Regimento de Cavalaria, do Exército Nacional, ocupando, ao mesmo tempo, papel de destaque junto à Associação Cívica Paranaense 'Sete de Setembro'.

Antes de ser indicado para o comando do Regimento de Segurança (atual PMPR), desempenhou cargos de relevo: engenheiro da Linha Telegráfica Curitiba/Foz do Iguaçu, comandante do Tiro de Guerra 'Barão do Rio Branco”', que fundou em 1908 e Ajudante de Ordens do comando da 5ª Região Militar.

Era também bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas.

Em 1912 foi escolhido para prefeito de Curitiba, no entanto, desistiu desse cargo para assumir o comando do Regimento de Segurança do Paraná (PMPR).

No comando da PMPR
No dia 21 de agosto de 1912, tendo sido posto pelo Ministro da Guerra à disposição do governo do Estado, assumiu com entusiasmo o cargo de comandante da Corporação, comissionado no posto de coronel.

Movimentação dos fanáticos no campo de Palmas
No início do mês de outubro de 1912, começaram a chegar as primeiras notícias sobre o movimento dos jagunços chefiados pelo falso 'monge' José Maria- Miguel Lucena de Boa ventura, que bem aparelhados promoviam todo tipo de desordens nos campos de Palmas.

Embarque da tropa paranaense
No dia 13 de outubro, o governador do Estado determinou o seguimento da tropa (Regimento de Segurança do Paraná-PMPR), para a localidade de Palmas. De trem, até União da Vitória, de onde prosseguiu a pé e a cavalo, até os campos de Palmas e Irani.

O 'Combate do Irani'
Pela manha do dia 22 de outubro, no lugar chamado 'RANI', deu-se o sangrento encontro da pequena força do Regimento de Segurança contra os fanáticos em número superior a quatrocentos. O combate foi renhido. Os jagunços armados com vários tipos de armas primitivas e facões saíam de todos os lados.

A metralhadora não funcionou
O coronel João Gualberto, 'com os punhos cortados por vários golpes de facão, viu-se rodeado por um grupo de uma dúzia que discutiam se o matavam ou não. Surgiu então o assassino José Fabrício das Neves que tomou a iniciativa, dando-lhe o golpe de misericórdia, produzindo profundo ferimento frontal, provocando um movimento, instintivo, do moribundo levantar os dois braços para defender a cabeça encarnecida e descoberta. Seu corpo ficou irreconhecível'.

O coronel João Gualberto morreu bravamente, no Combate do Irani, no dia 22 de outubro de 1912, sem recuar, sem acovardar-se um só instante.

Medalha 'Coronel João Gualberto'
Criada em 24 de junho de 1968, pela Lei n.º5.798 em 'ouro', 'prata' e 'bronze' para premiar os cadetes que concluem o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar, em 1º, 2º e 3º lugar, respectivamente.

12º Batalhão de Polícia Militar- 'Coronel João Gualberto'
Pelo decreto n.º 4.048, de 18 de outubro de 1977, sancionado pelo governador do Estado do Paraná- Jayme Canet Júnior, o 12º Batalhão de Polícia Militar, passou a ter a denominação histórica de 'Batalhão Coronel João Gualberto', como homenagem ao bravo militar que tombou morto no 'Combate do Irani', quando era comandante da PMPR. A memória do coronel é cultuada em solenidade cívica organizada pelo 12º BPM, anualmente, na data do seu nascimento, 11 de outubro.

Avenida João Gualberto
Uma das mais belas avenidas da capital do Estado ostenta o seu nome: Av. João Gualberto.

Faleceu no dia 22 de outubro de 1912, com 39 anos de idade”.


Fonte: Site da Polícia Militar do Paraná. Acesso em 19.11.2008, às 11h50.


IMAGENS DO CEL JOÃO GUALBERTO
Acervo: Sérgio Rubin. Reproduções: Dario de Almeida Prado


João Gualberto e a esposa Leonor de Moura Brito.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Travessia do rio Chopim (PR)
















Travessia do rio Chopim no município de Coronel Vivida (PR). Evento organizado por centros de tradições gaúchas (CTGs) das regiões de Pato Branco, Palmas e Guarapuava. Muitos descendentes de ex-combatentes do Contestado vivem nessa região, como os Perão, os Fabrício das Neves e os Antunes, personagens do presente estudo. Um tradicionalista comentou mais ou menos assim: "Nós somos privilegiados em relação aos gaúchos que moram no Rio Grande do Sul, pois sentimos saudades do pago e eles não". Fotos em 13.12.2007.