
Entrei no Contestado por acaso, como expliquei anteriormente. Seguia o rastro de José Fabrício das Neves sem imaginar seu envolvimento e a extensão dos compromissos com a liderança rebelde. Nem o próprio Vicente Telles tinha a exata noção de quem havia sido seu antepassado. “Ele era visto como bandido, inclusive pela família”, disse mais ou menos assim. E a medida que ele foi se convencendo de que a má-fama era injusta, foi indicando as fontes a conta-gotas, um a um.
Pude conhecer e conversar com o sr Tranqüilo Petini e sua esposa Isaura Kades, Agenor Antunes das Neves (Irani-SC) e dona Maria Antunes Lemos (Catanduva-SC). Em Concórdia-SC já havia localizado e entrevistado dona Cecília Boroski Talim, filha de José Fabrício das Neves fora do casamento, sempre acompanhado do fotógrafo e músico Júlio Gomes, que me foi apresentado pelo jornalista Rubens Lunge, presidente reeleito do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina. Gomes já havia me apresentado a José Antônio Puntel, residente no Engenho Velho (Concórdia). O mesmo Júlio Gomes articulou uma entrevista minha com seu pai, José Gomes, hoje residente em Colombo_PR, na região metropolitana de Curitiba, cujo pai era amigo de José Fabrício.
No Paraná
Pesquisando no Google, descobri a existência da professora Aurora Fabrício das Neves Tortelli, residente em Coronel Domingos Soares-PR, para onde seguimos. É importante destacar que minha companheira Margaret Grando me acompanhou em quase todas essas viagens, se encarregando da parte talvez mais chata e complicada: a árvore genealógica dos Fabrício das Neves obtida em cartórios, consulta a documentos particulares e entrevistas em todas essas viagens. Outro que me acompanhou em muitas jornadas foi o repórter cinematográfico Marco Nascimento, gravando 40 horas para um documentário sobre o tema (falarei disso mais adiante).
Em Coronel Domingos Soares encontramos alguns descendentes de Thomaz Fabrício das Neves, irmão de José Fabrício, e que havia se instalado na extensa fazenda São Pedro lá pelo final da década de 1930. O imóvel que pertencia a Alexandre Telles da Rocha (avô de Vicente Telles), fora trocado por duas propriedades na região do Irani. Também fomos muito bem recebidos por José Valdomiro Oliveira Neves, neto de Thomaz Fabrício das Neves, e seus familiares. Depois fomos a Palmas, onde tivemos a oportunidade de conhecer uma figura humana extraordinária, dona Elvira Dalla Costa, além do taxista Thomaz de Oliveira Neves (neto de Thomaz, irmão do barbeiro José Valdomiro), Saturnino Soares de Oliveira (filho adotivo do velho Thomaz) e sua esposa Maria Pelentier de Oliveira. Aqui também a recepção foi calorosa.
Pinhão
Mas e os descendentes diretos de José Fabrício? Não os conseguia localizar. Apelei para o Telles, que andou pesquisando e através de Agenor Antunes das Neves, me encaminhou um número de telefone em Pinhão-PR. Devia falar com um Reinaldo. Estava fechando o TCC do curso de História na Udesc, faltavam algumas semanas para a apresentação. Liguei. “Sim, eu sou bisneto do José Fabrício”, respondeu Reinaldo Antunes no outro lado da linha. Isso foi numa quinta-feira. No sábado eu estava em Pinhão. Reinaldo é filho de Assis que é filho de Afonso que é filho de José Fabrício das Neves. O Antunes que a família ajeitou vem da avó materna – uma forma de fugir à perseguição no pós-Contestado.
Vicente Telles, velho de tantas “guerras”, acompanhava tudo de longe, com vivo interesse e o conta-gotas nas mãos. Só depois que localizei a família de José Fabrício em Pinhão é que ele nos fez a maior de todas as revelações: o paradeiro dos Perão (Perón), no município de Coronel Vivida-PR, um pouco acima de Pato Branco. Lá conheci outra grande figura humana, Juca Perão, filho do velho José Alves Perão (José Felisberto), casado com outra fantástica figura, dona Sebastiana, carinhosamente chamada pelos netos de Vó Bástia. Citei todos esses personagens por que eles vão nos ajudar a contar o restante da história.
















Genealogia de Thomaz
Thomaz Fabrício das Neves (irmão do “nosso” José Fabrício), era filho de Antônio Fabrício das Neves e Josefina Pereira Maia, segundo os registros no Cartório do Irani. No combate do Irani, segundo o Processo aberto em Palmas-PR, aparece entre os rebeldes um Antônio Fabrício das Neves, tendo como apelido Sinhoca Fabrício, possivelmente o pai de Thomaz e José Fabrício. Antônio Martins Fabrício das Neves diz que o pai deles se chamava Sinhuca Fabrício. A tradição oral na família indica que eles iram meio-irmãos, ou seja, filhos do mesmo pai. Dona Cecília Boroski, em Concórdia-SC, diz que um era bem “claro” e o outro mais “escuro”.

Túmulo de dona Elíbia
Elíbia Fabrício das Neves, nascida em 30 de dezembro de 1882 (possivelmente no Rio Grande do Sul), falecida em 23 de setembro de 1966, casada com Thomaz Fabrício das Neves. Era filha de José Fabrício das Neves (outro José Fabrício, não o personagem central desse blog) e Francisca Soares de Miranda (faleceu no Irani no dia 8 de novembro de 1925, com 76 anos de idade, e que aparece no Processo do Irani, em 1912-1913, já como viúva). Sua sepultura (foto) está no cemitério da localidade de Passo Fundo, no município de coronel Domingos Soares.