sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

FRAIBURGO

Área do primeiro reduto de Taquaruçu. Foto: Marco Cezar

Combatentes do Contestado
recebem homenagem da Câmara


Segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009. A Câmara Municipal de Fraiburgo-SC, realiza sessão solene em homemagem aos combatentes mortos da Guerra do Contestado. A iniciativa inédita acontece na emblemática Taquaruçu, localidade que abrigou o "núcleo duro" da revolta - os portadores da religiosidade de São João Maria, onde residem muitos descendentes dos chamados "jagunços" do Contestado. Participação especial de Vicente Telles, pesquisador, músico e compositor, residente em Irani-SC, que vai realizar uma performance com o tema central da sessão - o massacre de 1913 em Taquaruçú.


Presença em Frei Rogério

Canhão do Museu do Jagunço. Foto: Marco Cezar.

Domingo, 8 de fevereiro de 2009, 15 horas. O município de Frei Rogério (antigo Taquaruçu de Cima), realiza a 1ª Festa dos Frutos da Paz, visando "a integração das culturas existentes no município", explica Israel Mello Ferreira, secretario municipal de Administração e Finanças. "Em virtude da Guerra do Contestado ser uma marca importante na história do município e na vida da população cabocla", explica, o evento vai abrigar uma exposição do acervo do Museu do Jagunço, localizado em Taquaruçu. Também vão ocorrer apresentações de dança com temática do Contestado.


Músico do Contestado em sua casa no Irani-SC.

Um perfil de Vicente Telles
"A história ainda respira
"

Texto publicado no dia 23.1.2009 no site de O Jornal (Concórdia-SC).

A História do Contestado é uma chama viva, que ainda não apagou, apesar de tudo". Assim o historiador Vicente Telles resume o sentimento sobre a situação da área considerada como berço do Contestado em Irani. As obras previstas para formarem o Parque Temático do Contestado estão paradas há pelo menos dois anos. Em 2012 o Combate do Irani completa 100 anos e a intenção do historiador é retomar os eventos cívicos alusivos à guerra e implantar o ensino da história do conflito nas escolas da região.

Telles explica que o projeto do Parque Temático previa inicialmente a construção de nove módulos que retratassem os aspectos históricos da guerra armada entre caboclos e coronéis, ligados ao governo federal, motivada por conflitos sociais e que resultou na morte de seis a nove mil pessoas, principalmente caboclos. Eles habitavam o local e buscavam a garantia das terras, cobiçadas em razão da abundância de recursos, especialmente madeira de araucárias e erva-mate.

Palco do Parque Temático está abandonado.

"O mais difícil foi feito, que é a imaginação, a fórmula, o embasamento histórico e filosófico. Apenas um dos módulos teve início. É uma ilha artificial com anfiteatro e a cobertura é uma coroa que representa a sonhada sociedade utópica e igualitária", comenta o historiador. Ele destaca que a intenção era tornar Irani definitivamente como principal ímã de atração turística da história do Contestado. "Tem havido muita visitação aqui, mas é uma decepção também. Seria um projeto nos moldes de São Miguel das Missões incluindo som, luz e imagem com apresentações uma vez por mês" revela.

O historiador faz duras críticas ao poder público, que não valoriza a importância cívica e histórica dos conflitos. "Infelizmente nada se fez sobre a temática do Parque e os poderes públicos seriam responsáveis pelo apoio logístico e de material. A cultura não morreu, ela se mantém com a chama acesa, nós recebemos grupos de escolas aqui, mas, infelizmente, estamos marcados pelas deficiências e ausências das soluções que competem ao poder público".

Detalhe do teto do palco: inacabado e deteriorado.

Vicente Telles adianta que, ainda neste ano, a intenção dele, enquanto entusiasta da cultura relacionada à Guerra do Contestado, é retomar atividades que eram feitas em outras épocas. "A batalha do Irani vai completar 100 anos em 2012 e eu já estou preparando ações ainda neste ano para marcar esta data e retomar a consciência cívica das pessoas. Minha intenção é voltar a realizar os desfiles cívicos que reuniam cerca de 2,5 mil pessoas", revela.

De acordo com Telles, apesar da pouca infra-estrutura na área aberta à visitação, que compreende o Museu do Contestado, o cemitério e o monumento, no ano passado cerca de mil pessoas passaram pelos locais que representam a história da guerra. "Vieram, inclusive, pessoas da Argentina. Também esteve por aqui um professor do Canadá, que estuda a vida do Monge José Maria e recebemos muitos pesquisadores que elaboram teses e recorrem a este local para conhecer mais", afirma.

O historiador pretende mobilizar a sociedade para retomar as obras de infra-estrutura nos pontos turísticos relativos à guerra. "Nós vamos agora estudar as prioridades dentro dos nove módulos para trabalhar com o que for mais urgente, acredito que seja a sede da recepção que é junto ao cemitério e a conclusão do anfiteatro. O Parque é um meio e não é o fim. O fim é a cultura viva, é a chama acesa e isso não apagou apesar de termos encontrado alguns reveses de algumas pessoas que tentaram transformar a cultura em modo, e estes sucumbiram", declara Telles, emocionado.

Outra intenção do historiador é buscar uma parceria com os governos municipais da região ou com o governo estadual para a implantação da disciplina de história do Contestado para as crianças nas escolas. "Nós queremos utilizar os exemplos de bravura dos caboclos para conscientizar o povo de hoje que a única arma que nós dispomos para combater a corrupção é a consciência cívica sobre essa história que está inserida na nossa região", enfatiza.

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