O CORONEL JOÃO GUALBERTO
Pernambucano de Recife nascido em 11 de outubro de 1874, se tornou oficial na Escola Militar do Rio de Janeiro, sendo alferes em 1894, com 16 anos de idade. Continuou nos estudos, fez Engenharia (1901), obteve o diploma de bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e concluiu o curso do Estado Maior de Engenharia. Em julho de 1910, chegou a capitão do Exército, tendo assumido o comando do então Regimento de Segurança, atual Polícia Militar do Estado do Paraná. Era, portanto, um sujeito preparado.
Nos primeiros dias de outubro de 1912 chegaram a Curitiba informações de uma invasão do território paranaense, promovida por agentes de Santa Catarina. “Invasão catarinense. O Paraná se levantará como um só homem para defender seus direitos, embora odeie o derramamento de sangue”, afirma a manchete de capa do Diário da Tarde na edição de 1º de outubro, segundo Rosa Filho. Esse foi o tom adotado pela mídia da época. No jornal Comércio do Paraná, o jornalista Generoso Borges afirma que sendo “pacíficos rezadores ou bandidos perigosos, não podem ser recebidos em nosso território como elementos aproveitadores”. E pede que o Regimento de Segurança realize “uma manobra a sério”, visando a tranqüilidade dos habitantes da região.
“Era o sensacionalismo gerando confusões em torno da polêmica que vinha se alastrando há longos anos”, destaca Rosa Filho. Liz Dalfré estudou o comportamento da mídia na ocasião e chegou a conclusões semelhantes. A cobertura naquele momento e depois da morte de João Gualberto, “propiciava e criava um clima onde o leitor se entregava à notícia e também aos valores e idéias que ela trazia consigo”, destaca a autora. “Ao ler, ele se identificava com o discurso proferido pelo periódico, afinal de contas, o jornal se apresentava como defensor dos interesses do Paraná”.
Isso se refletia nas ruas. E nos telegramas. “As populações ameaçadas telegrafavam ao presidente Carlos Cavalcanti, apreensivas, a pedir garantias”, diante da aproximação da “malta”, relata Souza. Em muitos lugares as populações se armam, como em Palmas e “de Xanxerê informam que a mocidade reagirá ante a invasão do rio do Peixe”. Ao mesmo tempo, “coronéis chefes políticos, como justificativa do posto honorífico, dispõem-se para a luta armada”, como fez Manoel Fabrício Vieira. Rapidamente as forças policiais são mobilizadas e uma expedição organizada em poucos dias. João Gualberto, “brilhante oficial”, estava “preso da mesma indignação do povo paranaense, militar de temperamento impulsivo, arrebatado, generoso e bravo” (Souza), queria partir o quanto antes.
Um dia antes do embarque rumo a Palmas, João Gualberto foi visitar o pai do historiador paranaense David Carneiro, em Curitiba. Era um homem de “1,70 pouco mais ou menos de altura, ombros largos, corpulento, já um tanto barrigudo, grisalho, fisionomia aberta e de simpatia espontânea, dessas que atraem imediatamente”, salienta Carneiro, “inspirando confiança”. Durante a visita, “não deixou de andar, como se fosse um dos antigos peripatéticos”, mantendo as duas mãos para trás, fumando um “grosso charuto já meio mastigado”. Andava de um “extremo a outro da nossa sala de jantar, contando o que se dizia e o que se faria”.
Na ocasião, falou do que “pretendia fazer: levava cordas, e havia de trazer os 39 bandidos todos, amarrados”, contou anedotas e casos, “rindo e fazendo rir”. Apenas a “agitação, o andar constante, mostrava que estava preocupado com a sua missão”. Ele chegara à casa de Carneiro no início da noite e por volta das 21h45 anunciou a saída. Mas, ao pegar o chapéu, observou uma mesa de xadrez e se deteve. Perguntou ao anfitrião se jogava e ouviu um sim.
“Pois então vamos a uma partidinha. Até as 10 eu lhe dou dois cheque mate, e ainda faço o que tenho a fazer hoje”, disse. “Permaneceu até a 1 hora da madrugada, indo embora após perder duas partidas seguidas”, assinala Carneiro. E foi com essa “adrenalina” toda que ele rumou para a região do entrevero fatal, onde foi descartando uma a uma qualquer possibilidade de evitar o choque. Entre União da Vitória e os arredores de Palmas, por exemplo, numa extensão de 148 quilômetros, levou 51 horas de marcha (Souza).
E não deu o devido crédito aos esforços do superintendente de Palmas, coronel Domingos Soares, que obteve a garantia de José Maria de se retirar de Irani, e dispensou a opinião do chefe de polícia do Paraná, desembargador Vieira Cavalcanti, que o acompanhava, conforme veremos a seguir. A chuva lhe acompanhou por toda a jornada, com breves períodos de sol.
Referências
CARNEIRO, David. Duas histórias em três vidas. Curitiba: Papelaria Universal, 1939.
DALFRÉ, Liz Andréa. Outras narrativas da nacionalidade: o Movimento do Contestado. 2004. 154f. Dissertação (Mestrado em História) - Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
SOUZA, Fredericindo Marés de. O presidente Carlos Cavalcanti e a revolta do Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987.
CARNEIRO, David. Duas histórias em três vidas. Curitiba: Papelaria Universal, 1939.
DALFRÉ, Liz Andréa. Outras narrativas da nacionalidade: o Movimento do Contestado. 2004. 154f. Dissertação (Mestrado em História) - Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
SOUZA, Fredericindo Marés de. O presidente Carlos Cavalcanti e a revolta do Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987.
Biografia (oficial)
“Cel João Gualberto Gomes de Sá Filho
Herói do 'Combate do Irani'
O coronel João Gualberto nasceu no Recife/Pernambuco no dia 11 de outubro de 1874. Filho de João Gualberto Gomes de Sá e Dona Júlia Bezerra Cavalcanti de Sá.
Em 26 de setembro de 1890, com apenas 16 anos de idade, ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro, graduando-se alferes em 1894.
Anos mais tarde escolheu o Paraná como seu segundo lar. Em Curitiba constituiu família casando-se com dona Leonor de Moura Brito.
Já como tenente retornou ao Rio de Janeiro onde prosseguiu seus estudos, formando-se engenheiro militar com a turma de 1901.
Retornando à Curitiba, passou a servir no 13º Regimento de Cavalaria, do Exército Nacional, ocupando, ao mesmo tempo, papel de destaque junto à Associação Cívica Paranaense 'Sete de Setembro'.
Antes de ser indicado para o comando do Regimento de Segurança (atual PMPR), desempenhou cargos de relevo: engenheiro da Linha Telegráfica Curitiba/Foz do Iguaçu, comandante do Tiro de Guerra 'Barão do Rio Branco”', que fundou em 1908 e Ajudante de Ordens do comando da 5ª Região Militar.
Era também bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas.
Em 1912 foi escolhido para prefeito de Curitiba, no entanto, desistiu desse cargo para assumir o comando do Regimento de Segurança do Paraná (PMPR).
No comando da PMPR
No dia 21 de agosto de 1912, tendo sido posto pelo Ministro da Guerra à disposição do governo do Estado, assumiu com entusiasmo o cargo de comandante da Corporação, comissionado no posto de coronel.
Movimentação dos fanáticos no campo de Palmas
No início do mês de outubro de 1912, começaram a chegar as primeiras notícias sobre o movimento dos jagunços chefiados pelo falso 'monge' José Maria- Miguel Lucena de Boa ventura, que bem aparelhados promoviam todo tipo de desordens nos campos de Palmas.
Embarque da tropa paranaense
No dia 13 de outubro, o governador do Estado determinou o seguimento da tropa (Regimento de Segurança do Paraná-PMPR), para a localidade de Palmas. De trem, até União da Vitória, de onde prosseguiu a pé e a cavalo, até os campos de Palmas e Irani.
O 'Combate do Irani'
Pela manha do dia 22 de outubro, no lugar chamado 'RANI', deu-se o sangrento encontro da pequena força do Regimento de Segurança contra os fanáticos em número superior a quatrocentos. O combate foi renhido. Os jagunços armados com vários tipos de armas primitivas e facões saíam de todos os lados.
A metralhadora não funcionou
O coronel João Gualberto, 'com os punhos cortados por vários golpes de facão, viu-se rodeado por um grupo de uma dúzia que discutiam se o matavam ou não. Surgiu então o assassino José Fabrício das Neves que tomou a iniciativa, dando-lhe o golpe de misericórdia, produzindo profundo ferimento frontal, provocando um movimento, instintivo, do moribundo levantar os dois braços para defender a cabeça encarnecida e descoberta. Seu corpo ficou irreconhecível'.
O coronel João Gualberto morreu bravamente, no Combate do Irani, no dia 22 de outubro de 1912, sem recuar, sem acovardar-se um só instante.
Medalha 'Coronel João Gualberto'
Criada em 24 de junho de 1968, pela Lei n.º5.798 em 'ouro', 'prata' e 'bronze' para premiar os cadetes que concluem o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar, em 1º, 2º e 3º lugar, respectivamente.
12º Batalhão de Polícia Militar- 'Coronel João Gualberto'
Pelo decreto n.º 4.048, de 18 de outubro de 1977, sancionado pelo governador do Estado do Paraná- Jayme Canet Júnior, o 12º Batalhão de Polícia Militar, passou a ter a denominação histórica de 'Batalhão Coronel João Gualberto', como homenagem ao bravo militar que tombou morto no 'Combate do Irani', quando era comandante da PMPR. A memória do coronel é cultuada em solenidade cívica organizada pelo 12º BPM, anualmente, na data do seu nascimento, 11 de outubro.
Avenida João Gualberto
Uma das mais belas avenidas da capital do Estado ostenta o seu nome: Av. João Gualberto.
Faleceu no dia 22 de outubro de 1912, com 39 anos de idade”.
Fonte: Site da Polícia Militar do Paraná. Acesso em 19.11.2008, às 11h50.
IMAGENS DO CEL JOÃO GUALBERTO
Acervo: Sérgio Rubin. Reproduções: Dario de Almeida Prado
Acervo: Sérgio Rubin. Reproduções: Dario de Almeida Prado
a historia não morre ; quando a gente sonha.
ResponderExcluirPOMBO VOI