segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

José Fabrício das Neves (24)

O entrevero do Irani - 3ª parte



Imagens do transporte do corpo do coronel João
Gualberto de Irani a Palmas-PR.
Acervo: Museu Histórico
Professor José Alexandre Vieira. Palmas (PR)



A versão de João Alves da Rosa

A mula que conduzia a metralhadora era guiada pelo anspeçada Rodolpho Severiano Paixão. "A noite estava bastante escura. Não se enxergava um palmo diante do nariz. Muitos policiais-militares riscavam fósforos para acertar o estreito caminho. Alguns civis usavam até velas com a mesma finalidade. Ao atravessarem um ribeirão cheio de pedras e avolumado pelas chuvas dos dias antecedentes, o muar assustou-se com a claridade da vela com a qual o tropeiro Roque procurava iluminar o carreiro, lançando a metralhadora e as bruacas dentro do riacho, enchendo estas de águas, areia e barro".

O comandante ficou "irado" e disse ao anspeçada Paixão a frase já citada por David Carneiro: "Você, Paixão, nem morto pagava o serviço que acaba de fazer". Paixão apontou o tropeiro Roque como culpado que, "sem pronunciar qualquer palavra, retirou-se cabisbaixo, abandonando a tropa".

A arma foi recolocada no lombo da mula, sendo resgatadas as bolsas de couro alguns metros rio abaixo. "Devido a pressa, não foi tomada a cautela de escorrer a água e retirar outros detritos do seu interior", um "desleixo", segundo o autor citado.


A marcha seguiu. Quando apareceram os primeiros raios de sol, um piquete tomou a dianteira visando cercar "as três casas existentes no lugar Banhado Grande, onde poderiam estar ocultos alguns asseclas de José Maria. conforme havia sido observado pelo lavrador João Pedrozo de Camargo. Pederam logo de vista a infantaria e aproximaram-se das casas. Quando apeavam de suas montarias, ouviram [...] um tiro ao qual não deram a mínima importância, supondo que tivesse sido disparado por um caçador".

A casa de Bento Quitério foi a primeira a ser revistada. Depois a segunda, logo abaixo, passando por um curso d'água, distante cerca de 150 metros. "Ali a tropa encontrou duas mulheres e sete crianças. Interrogadas, aquelas declararam que seus maridos estavam em companhia do monge". Tiros partiram das terceira casa, distante cerca de 200 metros, numa elevação, após outros riacho.

O tenente Busse chegou a tirotear com "oito a dez homens que corriam em direção oposta a mata. Alguns deles, de vez em quanto, paravam e, com os joelhos no chão, apontavam as armas e atiravam", sem atingir ninguém. "Era a guarda avançada do monge. Os jagunços serviam apenas de chamariz", anunciando o combate próximo. "O tiroteio cessou assim que os caboclos adentraram no mato". Soldados chamaram a atenção do comandante para alguns "vultos que pareciam mover-se entre as árvores". Foram feitos disparos nessa direção.

"Não supondo que iria ser atacado", João Gualberto "fez com que um praça fosse até a casa mais próxima a fim de trazer milho para os animais", retornando com um "balaio cheio de espigas. Logo, todos, inclusive João Gualberto, puderam-se a debulhá-las no próprio chão". Estavam nesse serviço quando "irrompeu, em coro, enorme gritaria. Notando aquela balbúdia infernal, o comandante caiu em si e, num relance, compreendeu que havia perigo". Retornou imediatamente para onde estava a cavalaria, distante dois quilômetros. "Os homens estão aí", disse à tropa, que seguiu na direção da casa de Bento Quitério.


Disposição da tropa por volta as 6h30
* Duas esquadras sob o comando dos alferes Sarmento e Libindo ficaram num alto em frente as casas dos Quitério. No meio a metralhadora, um pouco a retaguarda.
* A direita das duas esquadras havia dois piquetes de cavalaria.
* A esquadra do capitão Miranda foi deslocada cerca de 150 metros das demais facções, "sobre um morro ali existente".


João Gulaberto tentou pessoalmente fazer funcionar a metralhadora, auxiliado pelo alferes Sarmento, tendo se sentado no selim e efetuado disparos para os lados onde estavam o "fanáticos". O sargento Cantídio ajudou, puxando a fita pelo lado esquerdo. Mas só três tiros foram disparados e a metralhadora "quietou-se". Estava emperrada, travada. Vendo que não ia conseguir usar a arma, o comandante se dirigiu ao soldado João Francisco de Souza Oliveira e a outros, dizendo: "- Peguem as armas, meus filhos, pois estamos perdidos, mas tenham coragem".

"- Olha quanta gente! Ih! Comandante, como vem gente!"

A uns 700 metros a frente da tropa, "num abrir e fechar de olhos, começou a surgir uma verdadeira muldidão de caboclos que sem, o menor receio, começaram a avançar com uma espécie de furor". Cerca de 300 caboclos avançavam, sendo uns 100 na vanguarda a cavalo e o restante "vinha a pé, correndo e dando gritos alucinantes. Fazia frente ao ataque José Maria, acompanhado dos seus 'Doze Pares de França'". Mesmo "disciplinados e aguerridos", os policiais-militares "foram tomados de surpresa", e enfrentaram "aquele turbilhão de homens que vinha ao encontro deles, armados até os dentes e dispostos a tudo. Eles pareciam alucinados".

O coronel comandante ordenou fogo, mas apesar das descargas "os fanáticos avançaram sem trepidar e sem ter um momento de vacilação, provocando um verdadeiro pandemônio e fazendo com que os estampidos de suas Winchesters, garruchas, espingardas pica-paus e o som dos berrantes" que ecoavam "pela grotas adjascentes, estroando ensurdecedoramente. O efeito era estupendo!" João Gualberto insistiu com a metralhadora que teimava em não funcionar e, "mordendo-se de raiva", seguiu na direção das esquadras de infantaria, "onde lançou mão de uma carabina de um soldado ferido e passou a lutar" ao lado dos comandados.


Posição das tropas
* A infantaria estava em "posição deitada".
* A cavalaria usa os cavalos como escudos.
* Fogo "cerrado e forte": João Gualberto ordena que todos "deitassem corpos" sem deixar de atirar.


"As balas assobiavam por todos os lados, misturando-se os estanpidos com o relinchar assustado dos cavalos". Os caboclos "detiveram-se em franca defensiva, sofrendo vivíssima fuzilaria por parte dos milicianos". Foram breves momentos. Logo os caboclos se reagruparam e "passando por cima dos que caíam, avançavam cada vez mais, com grande alarido". A maior parte dos soldados, entretanto, atirava "sem alça de mira", buscando acertar o alvo a cerca de 200 metros.

Entre a tropa de policiais-militares e os homens de José Maria havia apenas uma "canhada funda por onde eles desapareciam, ficando completamente camuflados durante a sua passagem por ela". A fumaça das "velhas Comblains" obrigou a uma suspensão temporária do fogo até que ela se dissipasse um pouco. "A névoa que se desprendia dos banhados também acultava os atacantes".

Ao ressurgirem, continuaram sob "intensa fuzilaria". Mortos e feridos. Os caboclos "avançavam sempre como uma avalanche, com a coragem de quem não acreditava na morte". A fumaça aumenta, a pontaria fica cada vez mais difícil e os homens do monge avançam "sem piedade, forçando-se sob a linha de atiradores, e saltavam dos cavalos, aos gritos, como os índios selvagens, empunhando garruchas ou Wincherter na mão esquerda e na direita enormes facões, derrubando e acutilando a quantos encontravam".

Os policiais se defendem e a munição se torna escassa. O tenente Júlio Antônio Xavier, com um revólver, manda que o tropeiro Isaac [Izack] abra dois cunhetes de munição. O alfere Adolfito (Adolpho) e o próprio coronel ajudam a distribuir o reforço. "Os que esgotavam a munição corriam desesperados até os cunhetes que tinham sido abertos pelo tenente Júlio Xavier, continuando a atirar até se unir ao inimigo. Os que não tinham possibilidade de recarregar as armas lutavam a coices de carabinas ou procuravam correr, atolando-se no banhado, até serem alcançados pelos afiados facões dos fanáticos que os prostavam por terra".

O comandante ordena calar baionetas, mas "as armas obsoletas não fixavam na presilha os sabres, que saltavam longe aos primeiros tiros, obrigando algumas praças a rastajarem à linha de fogo" para apanhá-las. "Tão violento e brusco foi o ataque corpo-a-corpo, com disparos também a queima-roupa, que os oficiais comandantes dos piquetes foram forçados a tomar a defensiva". Os caboclos eram em número superior e em posição favorável. A situação dos policiais "era fatal".
Os "Pares de França" executam pela primeira vez "as suas diabólicas cabriolas de esgrimistas", tática "desconhecida" da Força Pública.

O coronel João Gualberto ordena em "altos brados" que o capitão Miranda unisse a direita pois "sua força está perecendo". E pergunta ao alferes Adolpho (Adolfito): "- Será que não vão mandar reforço?"

A cavalaria, montada, é atacada e fica sem munição. Os homens recuam até próximo das casas, procurando se defender com revolveres. "Asssim que a cavalaria [rebelde] rompeu o cerco, as esquadras de infantaria comandandas pelos alferes Sarmento e Libindo se viram obrigados a retroceder até uma cerca próxima, onde se encontravam o coronel Gualberto, o tenente Júlio Antônio Xavier, o comissário Nascimento Sobrinho e o Civil João Pedroso".

O alferes Adolpho (Adolfito), na retaguarda, avista o tenene Júlio Xavier e diz: "- Então, desta vez morremos todos. Não te sacrifique. Teu cavalo está ali". Enquanto isso a tropa do capitão Miranda ensaia uma ofensiva mas é obrigada a cessar fogo - devido a posição do terreno, os outros militares seriam atingidos. Do local onde estava, Miranda divisa "a extensão do desastre". Os caboclos, como "verdadeiras feras, se atiravam as balas e com os afiadíssimos facões, produziam uma carnificina na tropa miliciana". Lá embaixo, os soldados corriam "de um lado para outro e disparando contra os jagunços, mas de nada podia fazer para salvá-los, pois também estava sendo sitiado e sem munição".


A batalha está terminando, os caboclos avançam pela esquerda e a retaguarda, cercando os militares, quando o sargento Joaquim Virgilio da Rosa avista José Maria. Estava com uma chapéu de couro de jaguatirica e uma cruz verde no peito. Ele se destaca dos demais. O sargento "abateu-o com certeiros tiros de revólver", sendo atacado "por dois fanáticos". Um deles tenta ferí-lo por trás, mas é morto pelo tenene Busse. O outro caboclo o acerta com um facão, "derrubando-o de sua montaria, já agonizante", sendo abatido em seguida pelo soldado Antônio Felix Patrício. Ao contrário de desanimar os combatentes, a morte de José Maria "aviventou a insurreição cabocla".


A tropa foi "envolvida e atacada com tamanha impetuosidade e selvageria", que se desorganizou completamente a força.

O segundo sargento Luiz Pinto de Macedo e o cabo João Masteck estão perto do comandante, lutando. O primeiro morre, o segundo fica ferido. O soldado João Abló, "com um gemido que parecia vir das profundezas do peito, foi-se incluinando devagar para a frente e também tombou, qual árvore frondasa". O soldados Bento de Castro acertam um caboclo que persegue o sargento Hermínio da Cunha César, "derrubando-o por terra".

O alferes Sarmento, "com indômita coragem", se defende e não sente os golpes "que recebia pelo corpo ensaguentado". Fora atingido por uma "violenta cutilada no rosto, extirpando-lhe o olho direito". Com a "vista vazada, combalido como um morto sobre um lamaçal de sangue", caiusem sentidos."Um caboclo chegou perto do corpo inerte e levantou o facão para estraçalhá-lo", sendo impedido pelo soldado Romão dos Santos.

Ferido, alferes Libindo se refugia na floresta.

O cabo João Francisco Correia de Oliveira, atacado por dois caboclos, perde uma orelha. Para não ficar sem a outra, se defende com as mãos e tem os dedos da mão direita decepados."Gemendo de dor, pode, ainda, desvencilhar-se dos que o rodeavam e conseguiu penetrar na floresta".

O cabo Manoel Olavo Trigueiro e o soldado Patrício, acertam um caboclo que persegue o soldado Manoel Ribas da Paixão, "mensageiro do comandante".

Os dois lados "combatiam com heroísmo e denodo. A vitória, porém premiuava os fanáticos".


A morte de João Gualberto

Próximo a cerca onde se acha, recebe primeiro um tiro no peito. Tenta se defender dos ataques erguendo o braço esquerdo, enquanto mantém a carabina descarregada na mãos direita. A espada tinha ficado no cavalo. "Esquivando-se e cambaleando, chegou perto de uma árvore, onde recebeu os últimos golpes de facão, caindo sentado, coberto de sangue. Ai, seu corpo foi estraçalhado a ponto de não ser reconhecido".

"Segundo alguns historiadores, o golpe de misericórdia lhe foi desferido pelo fanático José Fabrício das Neves, sujeito muito odiado pela sua crueldade e que foi assassinado, anos mais tarde, na própria região do Irani". (Obra sem indicação de páginas)

Referência
ROSA FILHO, João Alves. Combate do Irani. Curitiba: Associação da Vila Militar, 1998.


A reação do Paraná

O corpo de João Gualberto permaneceu cerca de dois dias no antigo cemitério do arraial, hoje Cemitério do Contestado, que integra o complexo do futuro Parque Temático do Contestado em Irani. Foi exumado pelo médico Assis Gonçalves, que integrou uma comissão de caçadores do Tiro Rio Branco que foi ao Irani resgatar o corpo, sendo levado a Palmas, depois Curitiba. Na capital paranaense a câmara mortuária foi armada no dia 30 de outubro na Prefeitura Municipal, aonde o caixão chegou no dia 6 de novembro. Chovia muito. “Os funerais se revestiram de verdadeira apoteose” (ROSA FILHO, 1998).

A comoção foi ainda maior devido à influência que jornais como o Diário da Tarde tiveram naqueles dias, como mostra Lis Andréa Dalfré. “A imagem do militar, já vinha há algum tempo sendo construída pela imprensa”, diz, se referindo a João Gualberto, “fator que pode ser verificado por meio das diversas notas referentes ao seu comando no Tiro Rio Branco”. Ao dirigir o Tiro, obteve o primeiro lugar na parada militar de 7 de Setembro, no Rio de Janeiro, o que “lhe conferiu popularidade entre os militares e políticos paranaenses”, observa Dalfré. O governador Carlos Cavalcanti chegou a pensar nele para a Prefeitura de Curitiba, o que “desagradou os seus correligionários”, sendo então indicado para o comando do Regimento de Segurança (Polícia Militar) do Paraná (DALFRÉ, 2004, p. 63).

A cobertura da imprensa incluiu desde as primeiras notícias do aparecimento de José Maria no Irani, até o combate, morte de João Gualberto e o enterro. Fotos publicadas por Dalfré mostram grandes massas concentradas no embarque das tropas rumo a Palmas e no sepultamento. A derrota no Irani motivou uma série de notícias “que delegaram aos militares a imagem de heróis, contrapondo com personagens considerados violentos e sanguinários”, salienta a mesma autora. Os mortos foram “apresentados de forma dramática, sensacionalista, auxiliando na construção de uma memória coletiva”, buscando sobretudo “demarcar osnlimites territoriais, regionais de sua identidade” (DALFRÉ, 2004, p. 63-64).

“Bandoleiros hirsutos”, “horda de bandidos”, “bando de faccínoras”, são alguns adjetivos usados pela imprensa na época, anotados por Dalfré. José Maria era um “perigoso homem” que explorava “ignorantes caboclos”. Além disso, Miguel Fragoso, Miguel Fabrício das Neves e José Fabrício das Neves (apelidado de Juca Fabrício pelos veículos de comunicação do Paraná), são apontados como dirigentes do movimento. “Estes homens, em relação aos quais foi levantada a hipótese de liderança na batalha contra as tropas paranaenses”, são apontados, a exemplo de José Maria, como “perniciosos”. Miguel Fragoso é chamado de “caudilho” e “terrível bandoleiro” (DALFRÉ, 2004, p. 79-80). Os rebeldes, como destaca Weinhardt (2002, p. 41), “não são considerados inimigos de guerra, mas traidores e traiçoeiros, traidores da pátria e traiçoeiros porque não lutaram lealmente, isto é, segundo as normas dos estrategistas europeus” e, por isso, não merecem respeito. “À proporção que se eleva o tom dos elogios às vítimas, eleva-se igualmente o tom acusatório”.

A sensação que fica da leitura de tudo isso é que os rebeldes não podiam reagir ou se defender, devendo aguardar com paciência que a metralhadora levada por João Gualberto fosse descarregada em rajadas. Os que sobrevivessem seriam amarrados e levados para um desfile nas ruas de Curitiba. Os militares que deixaram a capital paranaense foram capturar “bandidos” e não combater inimigos.

Referências
ROSA FILHO, João Alves. Combate do Irani. Curitiba: Associação da Vila Militar, 1998.
DALFRÉ, Liz Andréa. Outras narrativas da nacionalidade: o Movimento do Contestado.
2004. 154f. Dissertação (Mestrado em História) - Curso de Pós-Graduação em História, Setor
de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
WEINHARDT, Marilene. Mesmos crimes, outros discursos? Algumas narrativas sobre o Contestado. Curitiba: Ed. UFPR, 2002.


Cenas do enterro de João Gualberto

Acervo: Sérgio Rubin. Reproduções: Dario de Almeida Prado.


Depoimento de Zeferino Antunes de Andrade
Processo do Irani, folhas 96-98 (inquérito)

Palmas-PR, 8.11.1912. Zeferino tinha 36 anos, casado, lavrador, nascido no Rio Grande do Sul, residente no Jacutinga, filho de Manoel Antunes de Andrade, sabia ler e escrever.

No dia 12 de outubro (1912), “passando pelo Faxinal dos Fabrícios, viu, em casa de José Fabrício, um grupo de quarenta e tantas pessoas, capitaneado pelo Monge José Maria”, com quem conversou, “dizendo o Monge que tinha sido perseguido em Curitibanos por Francisco de Albuquerque, passara para este Estado, com o seu pessoal, afim de, no Faxinal, dar um descanso aos seus cavalos, para depois seguir para Mato-Grosso”.

José Maria convidou “o respondente e seus companheiros, em número de quatro, para se incorporarem ao grupo dele Monge, que devia seguir no dia seguinte, para o Faxinal; escusando o respondente esse convite, dizendo na ocasião ao Monge, que ali andava em diligencia policial, na qualidade de Inspetor de Quarteirão daquele distrito, e, que o Sub-comissário [...] tivera ciência daquele grupo, isto é, da existência ali daquele grupo armado, forçosamente haveria de tomar providencias no sentido de dispersa-lo”.

Nessa ocasião, soube “que José Fabrício tinha ido de próprio do Monge chamar a Miguel Fragoso”, tendo se retirado do local em seguida, indo no outro dia até a casa do sub-comissário de Polícia, a quem comunicou "que na referida casa achava-se um grupo armado, capitaneado pelo Monge”. Em vista disso, o sub-comissário se dirigiu a Palmas, informando o comissário de Polícia dos fatos, sendo orientado a fazer esforços para evitar que o pessoal de seu quarteirão aderisse.

Ao retornar, foi “detido pelo Monge, no acampamento deste, onde permaneceu esse dia inteiro, tendo sido posto em liberdade no dia seguinte”. O sub-comissário de fato se empenhou em tentar evitar a adesão ao monge em seu quarteirão. Na tarde de 22, achava-se em casa “quando soube que no Banhado Grande do Iranÿ”, tinha havido o combate e “morrido muita gente”. Soubera disso por um compadre seu, (nome ilegível) “que disse-lhe ter se encontrado com esses indivíduos que tinham escapado do combate e que se achavam ao lado do Monge”. Como eles estivessem com pressa, não puderam contar detalhes do ocorrido; eram sujeitos desconhecidos.

Todos os fatos foram relatados ao sub-comissário pelo "respondente." Imediatamente o sub-comissário ordenou que Zeferino “reunisse algumas pessoas de seu quarteirão para irem até o lugar do combate, afim de verificar o que havia ocorrido”. Zeferino reuniu 25 homens e “em companhia daquela autoridade, foram ao Banhado Grande, onde chagaram no dia 24. Encontraram 21 cadáveres, “espalhados pelo campo”, sengo reconhecidos João Gualberto, o sargento Virgílio da Rosa (autor da morte de José Maria) e oito soldados, “assim como dez paisanos mortos a bala". Viu que “num cercadinho próximo estava morto o célebre Monge José Maria, que apresentava um ferimento no peito, produzido por bala.”

Essa movimentação foi observada de longe por “José Fabrício, Emiliano Glória e Raphael de Brun, tendo este contado ao respondente o resultado do combate dizendo ter feito parte deste ao lado do Monge, e que Brun dissera mais [...] que ao lado de José Fabrício ele Brun brigou muito, dizendo que tinha morrido muita gente [...]”. Como Inspetor de Quarteirão, Zeferino “lembrou-se de prender Brun, mas, que não efetuou a prisão por achar-se desarmado e também por saber que Brun tem em casa armamento de guerra”.

Zeferino relatou esses fatos ao sub-comissário, dizendo que Brun ainda estaria em casa “doutro lado do Jacutinga”. O respondente ouviu falar que um "Zuzima de Tal" e Pedro Silveira estavam ao lado de José Maria no combate, “todos moradores no seu quarteirão, sendo que Zuzima, segundo consta, saiu ferido”, o mesmo ocorrendo com Antônio Leal (ferido, lutou ao lado de José Maria).

Recordava ter visto no dia 23, “quando andou reunindo gente por ordem do sub-comissário, um grupo de treze pessoas quando passavam no lugar denominado Lageado Bonito”. Esses homens, segundo lhe contaram, "tinham estado no combate ao lado do monge” e se dirigiam a Curitibanos “de onde tinham saído em companhia do Monge”. Que no combate havia "morrido muita gente”. Todos eles estavam montados e bem armados, com muitos cargueiros. Temendo que eles agredissem o sub-comissário local, “que vinha atrás, a pequena distância do respondente”, Zeferino disse que o sub-comissário estava chegando com muita gente, ao que deixaram o local em disparada, seguindo “na direção da casa de José Fabrício”.

Um comentário:

  1. Em relação a morte de Jose Fabricio das Neves, existe a publicação de Jose Waldomiro Silva, onde ele informa que conheceu o mesmo e que em janeiro de 1926 ocorreu uma cilada, onde foram assassinados o José Fabricio, juntamento com seu staff. A autoria é atribuida a Marcelino Ruas.



    Enorio Luiz Simon
    Joaçaba - SC

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