terça-feira, 6 de janeiro de 2009

José Fabrício das Neves (34)

Os papéis de Thomaz e Miguel Fabrício das Neves (2)

Thomaz Fabrício das Neves no lado direito
do governador Adolpho Konder (de bengala),
em Joaçaba. Foto de 1929*.

Miguel Fabrício das Neves estava com 64 anos de idade ao ser ouvido pelo comissário Domingos Nascimento Sobrinho no dia 20 de novembro de 1912, no Irani, na residência de seu genro, o comerciante João Roza.

Disse que no dia 15 de outubro último chegara à casa de seu sobrinho Thomaz, “um indivíduo intitulado Monge e de nome [...] José Maria de Castro Agostinho, acompanhado de sessenta homens a cavalo, entre estes o Capitão Praxedes, Fernandes de Tal, italiano, Joaquim Gomes e um velho de nome Delfino, todos vindos de Campos Novos, dizendo o Monge que vinha [...] e descansar seus cavalos para voltar para Campos Novos afim de ali atacarem o Cel Albuquerque; que estes homens estiveram quatro dias em casa de Thomaz Fabrício e daí seguiram para a casa do respondente onde estiveram acampados até o dia do combate”.

Lembrou que no dia 21, chegaram a sua casa o coronel Domingos Soares, acompanhado por Octávio Marcondes, José Júlio Farrapo, João Varella e Deco Cachoeira, “e ali conferenciaram com o Monge, depois de terem falado com o respondente e de cuja conferencia o respondente teve conhecimento por ter assistido, ficando então combinado que o povo que ali se achava reunido se retirasse, no dia seguinte até meia noite, pois no mato tinha muitos animais extraviados e que para reunir carecia do referido prazo”.

Na ocasião, Miguel ouvira do coronel Soares “que sua atitude [do monge] era retirar-se para Campos Novos e que no Paraná ele não brigava, pois nada tinha com o povo deste Estado e que à presença do Comandante João Gualberto ele não ia, porque tinha receio de ser maltratado, tendo então o Cel Soares feito ver ao Monge que isso não aconteceria e que se o Monge quisesse acompanhá-lo, teria todas as garantias, ao que o Monge respondeu que se o Cel Soares fosse Governo ele o acompanharia e como não era não o acompanhava, dando com essas palavras a entender que não confiava na palavra do Cel Soares”.

Em conversa com Miguel, o coronel Soares “contou que vinha ali afim de dispersar aquele povo e que não queria que este povo fosse sacrificado; que as mesmas ponderações fez Octávio Marcondes dizendo conhecer aquele povo que em maioria eram arrendatários do Irani”. Em seguida o coronel se retirou “e o Monge deu ordens ao seu pessoal para que fossem seguindo os animais para no dia seguinte ao meio dia se retirarem para Campos Novos”. Nesse mesmo dia, à tarde, José Maria seguiu com “vinte ou vinte e quatro homens montados a cavalo e com ele na frente vieram em direção ao Banhado Grande de onde voltaram alta madrugada; que o respondente não viu ele chegar por estar deitado e com um pé destroncado”.

Segundo ele, no dia 21, José Maria deixara um piquete para o Banhado Grande. Na manhã de 22 de outubro, “muito cedo, chegou gente do piquete da frente, dizendo que o mesmo piquete estava tiroteando com as forças do Governo no Banhado Grande; que então o Monge mandou encilhar a cavalhada e saíram em disparada em direção ao Banhado Grande, vindo alguns a pé. Que momentos depois chegou em sua casa notícias, não sabendo quem as trouxe, que tinha se dado o combate e o Monge tinha morrido; que ele respondente e o Cel Fragoso que ainda se achava em sua casa, retirou-se às pressas levando o respondente sua família para o paiol de seu filho Alípio; que quando saía de sua casa passava o Cap Praxedes, a cavalo, com sangue em uma perna; que não conversou com este; que deixou sua casa aberta de onde roubaram muitos objetos seus”.

No dia 23, mandou “gente sua em sua casa e quando ali estavam, chegou um soldado da Polícia, disfarçado, dizendo-se alfaiate, e que estava com fome; que então deram-lhe o que comer e o ensinaram a estrada para a cidade; que as pessoas conhecidas suas que sabe, por ouvir dizer, que tomaram parte do combate foram somente José Fabrício, José Alves Perão e o filho de Bento Quitério que morreu; que as pessoas que morreram no combate, não são suas conhecidas ignorando por isso os seus nomes”.

O pessoal que seguiu José Maria no combate era em “número superior a cento e cinqüenta; que um indivíduo de nome José vindo de Capinzal de próprio do Cel Amazonas e do Comandante Pyhrro, contou ao depoente que um grupo com o Praxedes a frente tinha passado o Rio do Peixe, para Santa Catarina, e que o resto do pessoal, pode afirmar o respondente, que estão todos escondidos ou foragidos; supondo o respondente que José Fabrício e José Felisberto imigraram e por isso não se acham mais nessa zona; que o que sabe em relação é tão somente o que já disse”. [...]

Depois de encerrado o depoimento, Miguel comentou que havia presenteado José Maria com “uma guampa branca em a qual lê-se o seguinte: Santa Maria, 9 de agosto de 1912 e mais as suas iniciais que são MFN. Que o Monge na ocasião do combate montava um cavalo branco, cujo cavalo foi presenteado ao Monge pela senhora de Onofre Pereira, morador do Jacutinga. E que nada mais tem a declarar [...]”. (Processo do Irani-PI, fls 140b-143)


Prisão e julgamento
Principais momentos

- Miguel Fabrício das Neves e seu sobrinho Thomaz Fabrício das Neves são apresentados presos em Palmas-PR no dia 13 de abril de 1913
- Auto de qualificação. No dia 18 de abril de 1913, ainda em Palmas, foram levados “sob escolta” a sala de audiências do juízo para o auto de qualificação. Presente o juiz Júlio Abelardo Teixeira.
Miguel Fabrício das Neves, 63 anos, filho de José Fabrício das Neves, [outro José Fabrício, na época falecido] casado, lavrador, brasileiro, nascido em Passo Fundo-RS, sabe ler e escrever. (PI, fls 227b-230)

- No dia 28 de abril de 1913 Miguel e Thomaz foram novamente escoltados a audiência (julgamento).

- Terceira testemunha. Ireno Gonçalves da Rocha, 43, casado, lavrador, natural do Rio Grande do Sul, residente no município de Palmas, sabendo ler e escrever. Era primo da mulher de Miguel (Feliciana Gonçalves dos Santos) e de Clementino Gonçalves, “pelo que o juiz deixou de definir-lhe o compromisso legal e em seguida sobre os fatos constantes da denúncia”. Disse que em 21 de outubro de 1912, “indo ele, defronte a casa do denunciado Miguel Fabrício da Neves”, observou “um ajuntamento de pessoas quase todas estranhas”, tendo reconhcido “as seguintes: Miguel Fabrício das Neves, Thomaz Fabrício das Neves, José Felisberto, Paulo Ramos, Cândido [...] e João Belchior”.
Revelou que “sabe por ouvir dizer” que o ajuntamento era comandado por José Maria de Castro Agostinho e alguns detalhes do combate. Ajudou e tratou o alferes Sarmento, não esteve no reduto, nem participou do entrevero, mas ouviu dizer que José Fabrício “tomou parte no combate travado no Banhado Grande e esteve ao lado do monge”. Respondendo a uma pergunta do promotor, disse: “[...] sabe que o alferes Sarmento foi saqueado em um relógio e 100 mil réis”, o que Sarmento lhe contou. “Dada a palavra aos denunciados, declararam que nada tinham a contestar”. (PI, fls 236-237)

- Por “requerimento” do promotor a audiência foi suspensa, “devido a hora achar-se adiantada”. Os réus e testemunhas foram intimados para o dia seguinte. Testemunhas: João Antônio da Roza, João Pedroso de Camargo, Braz da Costa Varella e o coronel Domingos Soares. Réus: Miguel e Thomaz Fabrício das Neves. A nova audiência foi marcada para o dia seguinte, 29 de abril de 1913. (PI, fls 240)

(Segue)

* Foto publicada no Álbum comemorativo do cinquentenário do município de Joaçaba, de Alexandre Muniz de Queiroz. Curitiba: IP, 1967.

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