sexta-feira, 21 de novembro de 2008

José Fabrício das Neves (14)


Ao encontro de Gualberto

Quando soube da aproximação da força do coronel João Gualberto, o coronel da Guarda Nacional e superintendente de Palmas Domingos Soares foi a seu encontro na fazenda Horizonte, onde o encontrou no dia 18 de outubro de 1912, uma semana antes do combate do Banhado Grande do Irani. Domingos auxiliou o oficial na aquisição de animais de carga e montaria e na localização exata de José Maria, “indicando-lhe vaqueanos da região para guias da tropa”. (SOUZA, 1987, p. 106) Para uma expedição de reconhecimento enviada imediatamente aos campos do Irani, algumas praças tiveram que seguir montadas em “seis burrinhos e quatro cavalos mal arreados que o coronel Soares colocou a disposição do comando”, segundo o tenente João Busse. (ROSA FILHO, 1998, s/p)

Domingos Soares seguiu com o piquete comandado por Busse, acompanhado do comissário de polícia de Palmas Domingos Nascimento e dos civis Valgas, João Pedroso Camargo (João Meia Língua), Chico Bento, os tropeiros João Luiz e Francisco Fernandes e um chamado Roque. No dia mesmo dia 18, na estância Alegrete, a 11 léguas de Irani [17,7 km], estavam dois “emissários” de José Maria a procura do coronel Domingos Soares – João Varela, pequeno fazendeiro, e José Júlio Farrapo, arrendatário da Fazenda Irani, ambos residentes na região. (SOUZA, 1987, p. 107). Depois de revelar que José Maria sabia de toda a movimentação das tropas, foram detidos e submetidos a interrogatório pelo tenente Busse que, acrescentando dados obtidos com Ernesto Rupp, elaborou relatório encaminhado ao comandante. (ROSA FILHO, 1992, s/p)

Nesse mesmo documento, segundo o autor citado, Busse informa sobre o convite feito por José Maria a Domingos Soares para que fosse conferenciar com ele no Faxinal do Irani, onde estava acampado. “Estes dois homens ficarão em nosso poder até recebermos novas ordens”, destacou Busse. José Maria estava acompanhado por 40 homens armados de Winchesters e dispostos a defendê-lo “a todo transe”, além de mulheres e crianças. Todos os moradores “das redondezas do Irani acham-se fanatizados por José Maria, tendo ele declarado ao senhor Rupp que se o atacarem, resistirá”.

Um detalhe crucial: “Os enviados do monge dizem que ele deseja muito conferenciar com o senhor doutor chefe de polícia ou com o senhor em qualquer ponto e este fato pode servir para pegá-lo de surpresa”. José Maria afirma conhecer o chefe de polícia e “declara que deseja resolver pacificamente este fato; que não passa tudo isso de uma intriga que ele, monge, teve com o coronel Albuquerque, de Curitibanos”. Mas que “absolutamente não quer hostilizar o Paraná que nenhum mal lhe fez”. (ROSA FILHO, 1992, s/p)

João Gualberto ignorou tudo isso. Ficara acampado a poucos quilômetros do Banhado Grande, na sede da Fazenda Irani, onde conferenciou com os fazendeiros Juca Pimpão e Tonico Pinho. Ouviu os caboclos Varella e Farrapo, para se certificar das informações anteriormente transmitidas pelo tenente Busse, e chamou os oficiais para uma reunião, inclusive o coronel Domingos Soares. Nessa ocasião, 20 de outubro de 1912, anunciou a disposição de atacar o “reduto” na manhã do dia seguinte. Soares pediu um prazo, disse que ia conferenciar com José Maria. João Gualberto aceitou e lá se foi o coronel de Palmas em direção às terras de Thomaz Fabrício das Neves.

Cabe esclarecer que Varella e Farrapo haviam procurado o reduto do Irani, onde conversaram com José Maria, aconselhando a dispersão do reduto. O monge os ouviu com paciência, explicou os motivos de sua presença e solicitou que eles procurassem o coronel Domingos Soares, pedindo que o mesmo o procurasse. Numa de suas Décimas, Antônio Martins Fabrício das Neves os chama de “metidos”. Na verdade eles foram ao enviados ao local por um outro personagem, Octávio Marcondes, sobre quem falaremos adiante.


Perfil do cel Domingos Soares

Nascido no dia 16 de abril de 1852 em Guarapuava-PR, Domingos era filho de Joaquim Mendes de Souza, um dos participantes da expedição de exploração dos campos de Palmas, chefiada por José Ferreira dos Santos. Sua mãe, Cesarina Antônia de Jesus, era filha de outro pioneiro de Palmas, o capitão Francisco Antônio de Araújo. As informações foram apuradas por Aurora Fabrício das Neves Tortelli, residente no atual município de Coronel Domingos Soares-PR, antigo distrito de Palmas com o nome de Refúgio. Uma das líderes do movimento de emancipação do então distrito, Aurora destaca a liderança política do patrono do município: superintendente (prefeito) de Palmas de 1912 a 1916 e de 1924 a 1928, foi deputado estadual entre 1914 e 1918. “Esse nome Retiro foi dado pelos tropeiros, que pousavam aqui, sendo recebidos pelo coronel Domingos Soares com o charque aquecido e o chimarrão”, salienta.

Criado na fazenda São Joaquim, que seu pai adquiriu em Palmas, se casou com Maria Lourença de Araújo, estabelecendo-se na fazenda Bom Sucesso, com área de 1.800 alqueires, equivalente a aproximadamente 4,3 bilhões de m2, latifúndio característico dessa região. Enquanto seguia em direção ao Banhado Grande, no Faxinal dos Fabrícios ou Irani, deve ter pensado na ajuda que José Maria lhe dera na abertura de uma estrada entre Retiro e a Fazenda Pitangas, nos arredores de Palmas. “Usaram machados para derrubar as árvores e picaretas para abrir o caminho”, destaca Aurora Fabrício das Neves Tortelli.


No reduto do Irani

Antes de Domingos Soares montar a seguir viagem, João Gualberto acordara todos os oficiais no final da madrugada, lendo um ultimato escrito a lápis e endereçado a José Maria. Octávio Marcondes, que também seguiu para o acampamento do monge, levou consigo o documento. Chovia torrencialmente, quando Soares, Marcondes, Varella, Farrapo e Deca Cachoeira chegaram na casa de Miguel Fabrício das Neves, “situada meia légua adiante da de Thomaz Fabrício, onde antes parava o monge”. (SOUZA, 1987, p. 113) O lavrador João Pedroso de Camargo estava junto. (ROSA FILHO, 1992, s/p)

Sobre esse encontro existem duas fontes – Marcondes e Farrapo. A de Farrapo é uma entrevista dada ao jornal A República (18.11.1912), em que se baseia Marés de Souza. O grupo chegara por volta das 11 horas e o monge estaria dormindo, tendo se acordado “meio tararaca, isto é, meio tonto”, destaca o autor, que reproduz um trecho da entrevista de Farrapo ao referido jornal. Sentados numa cama, após o monge haver deixado o local para lavar o rosto, iniciaram a conversa que “reuniu o povo todo, ficando todos apertados, para ouvirem o que ia sair”, contou Farrapo.

A uma pergunta do coronel Domingos Soares sobre o que representava aquele ajuntamento, José Maria teria garantido não ter “nada com o Paraná, nem com Santa Catarina, nem com governo nenhum”. Era perseguido pelo coronel Albuquerque, “que costumava surrar gente até em cruz de cemitério atado e que caluniou ele, passando telegramas falsos, dizendo que ele gritou monarquia”. Ainda segundo Farrapo, Domingos teria feito advertências, “mostrando que aquilo era uma barbaridade”, e estaria “comprometendo aquele povo”, o povo que era dele também, “bom, e que por isso ele coronel Soares, ia até lá sem receio”.

José Maria não podia fazer uma “reunião daquela e que por isso o governo era obrigado a tomar parte” e que o pessoal fosse dispersado. “Ele monge disse que não reúne gente. Que a gente é que reunia-se para pedir remédio; que se o coronel Soares garantia que a força não batia”, iria embora com a “gente que trouxe”. Soares garantiu que não haveria perseguição e o Paraná os receberia. Nesse momento, Octávio Marcondes entregou a carta-intimação de João Gualberto e José Maria passou a ler as quatro páginas do documento. (SOUZA, 1987, p. 114-15)


A carta

Acampamento do Regimento de Segurança nos Campos do Irani, em 20 de outubro de 1912.

Senhor José Maria

Deveis comparecer a este acampamento com a maior urgência, a fim de explicardes os motivos da reunião de gente armada em torno de nossa pessoa, alarmando os habitantes desta zona e infringindo as leis do Estado e da República.

Caso não atenderdes esta intimação, que me ditam o cumprimento do dever e o sentimento de humanidade, comunico que dar-vos-ei, desde logo, franco combate e a todos que forem solidários convosco, em verdadeira guerra de extermínio, a fim de fazer voltar a esta zona do Estado o regime da ordem e da lei.

Avisai a todos que vos acompanham, que os considerarei criminosos se não comparecerdes vós ao meu acampamento a fim de evitar uma terrível desgraça.

Comunico-vos ainda, além das forças minhas que vos sitiam por várias estradas, outras expedições vos perseguem também, tornando-se dessa forma impossível a vossa fuga ou resistência no território nacional.

No caso de vossa resistência às minhas imposições, deveis retirar com urgência as mulheres e as crianças que aí estiverem.

João Gualberto Gomes de Sá Filho – Cmt do Regimento de Segurança do Paraná”. (ROSA FILHO, 1992, s/p)



As botas do coronel. Acervo do Museu Histórico Professor José Alexandre Vieira (Palmas-PR).



“Indignada soberba”

José Maria disse então que “não aceitava aquilo como parlamento; que era um desaforo carta escrita com lápis”. (SOUZA, 1987, p. 115) A narrativa de Octávio Marcondes, gerente da Fazenda Irani, usada por Rosa Filho, não se diferencia muito do que foi contado por Farrapo, um dos arrendatários da mesma fazenda. Acrescenta apenas que ao entrar no quarto em que José Maria estava, Domingos Soares teria se surpreendido “ao reconhecer na pessoa do célebre curandeiro o indivíduo de nome Boaventura que, oito meses antes, estivera na cadeia em Palmas, acusado de defloramento”, fato já discutido anteriormente. A medida que Soares falava, “viu-se rodeado de uma porção de homens, alguns bem armados, que assistiam à conferência”. (ROSA FILHO, 1992, s/p)

Após ter lido a carta, José Maria a entregou “a um indivíduo que estava perto e que embaralhou as páginas”, indo com Domingos Soares para outro quarto, onde permaneceram cerca de uma hora. Sobre o que falaram dificilmente se ficará sabendo. “Soube-se por depoimento de Domingos Soares, que, nessa conversa, José Maria sustentava sempre o seu ponto de vista”, qual seja, não iria até João Gualberto por temer maltrato. Mas garantiu que ia reunir seus homens e voltar a Santa Catarina. (ROSA FILHO, 1987, s/p) Segundo Souza (1987, p. 115), diante das garantias de Soares, José Maria teria dito: “Sim, para o senhor eu podia ir, seu coronel; mas isso eu sei que não está no senhor. Eu lhe conheço, seu coronel, para o senhor eu ia. Eu tenho oito mil homens para brigar, seu coronel”.

Anos depois, Domingos Soares teria confidenciado com seu amigo Marins Camargo, as mágoas que guardava daqueles dias. Chefe político com grande prestígio na região de Palmas, incluindo Irani, então um arraial desse município, “era amigo de todos os sertanejos”. Mas quando chegou ao Faxinal de Irani naquele dia 21 de outubro de 1912, “nem os seus afilhados, como costumavam, e é hábito no interior, vieram tomar-lhe louvado”. Ao contrário, ao saber que estava ali com a missão de fazer José Maria se apresentar a João Gualberto, “olhavam-no agressivos e com indignada soberba”. Marins relatou esses detalhes a Souza. (1987, p. 115)


Referências

ROSA FILHO, João Alves. Combate de Irani. Curitiba: Associação da Vila Militar, 1998.

SOUZA, Fredericindo Marés de. O presidente Carlos Cavalcanti e a revolta do Contestado. Curitiba: Lítero-Técnica, 1987.

TORTELLI, Aurora Fabrício das Neves. Entrevista ao autor. Município de Coronel Domingos Soares-PR, maio de 2007.



Domingos Soares e a esposa.

O depoimento de Domingos Soares

Trechos do depoimento prestado na fase de inquérito do Processo do Irani pelo coronel Domingos Soares, no dia 1ª de novembro de 1912, em Palmas-PR, 11 dias após o combate. O depoimento foi prestado ao comissário Domingos Nascimento Sobrinho, que acompanhara Soares e estivera no local do combate.


Domingos Soares estava com 60 anos de idade, era casado, fazendeiro, filho de Joaquim Mendes de Souza, natural e residente em Palmas [outras fontes indicam seu nascimento em Guarapuava-PR], sabendo ler e escrever.

No dia 14 de outubro de 1912, recebera um telegrama do Secretário do Interior do Paraná, onde comunicava haver seguido para Palmas o Regimento de Segurança e o desembargador Chefe de Polícia daquele Estado; o Secretário determinara que Soares prestasse ajuda; acompanhado de alguns rapazes, seguiu “até a entrada do mato”, onde encontrou um piquete de cavalaria com João Gualberto, no dia 16.

Foram até a casa de Tonico Branco, onde o Regimento acampou. Soares teve uma “conferência particular” com João Gualberto, “da qual ficou combinado” que Soares seguiria diretamente ao Irani onde o monge estava acampado. Seguiria acompanhado por praças da cavalaria e infantaria. Depois disso chegou o desembargador Chefe de Polícia; disse que toda a força devia seguir ao Irani, toda montada. Como não foi possível obter cavalos e arreios para todos, seguiu um piquete de 20 cavaleiros visando um reconhecimento do local e das forças de José Maria.

No dia 17, ao meio dia, a pedido do Chefe de Polícia e de Gualberto, Soares seguiu com o piquete. Missão: “conseguir amigavelmente a dispersão de um grande grupo de fanáticos que se acham ao lado do monge José Maria, cuja atitude era até então ignorada”. No caminho ele soube que 200 e tantos homens acompanhavam o monge, mandando a informação ao Chefe de Polícia e ao comandante.

Dia 18. O comissário Nascimento se adiantou e foi à casa de Octávio Marcondes “a fim de convidar este para acompanhá-lo na diligência”; Octávio seguiu com eles. Acamparam com o piquete no rio das Antas; meia hora depois apareceu um próprio de João Gualberto, “que já se achava no Alegrete, ordenando ao comandante do piquete que esperasse por ele [...] no lugar em que o próprio o alcançasse”; como esse local não era próprio para a permanência dele e da força, Soares foi acampar cerca de meia légua adiante, em São João, “onde havia recursos para tudo”; chegaram ali às 8 horas do dia 19, onde aguardou a chegada de João Gualberto.

Quando a tropa chegou, Gualberto e Soares “conferenciam particularmente”; Soares expôs tudo quanto sabia e lhe parecia necessário fazer-se, ficando então acertado que Soares e Octávio Marcondes, João Varela, José Júlio Farrapo e Deca Cachoeira, iriam no dia seguinte ao acampamento do monge, para ver “se este vinha a presença” do coronel comandante. No dia seguinte, ao partir para o acampamento do monge, João Gualberto encarregou Octávio de entregar uma carta de intimação, observando que “a referida carta só seria entregue, caso o monge” não aceitasse o convite para ir ter com ele.

Às 10 horas do dia 21, Soares e os demais chegaram ao acampamento e encontraram o monge num quarto da casa de Miguel Fabrício, “ainda deitado”. Foi então que Soares reconheceu no monge o cidadão “Boa Ventura” que meses antes fora preso por defloramento em Palmas. Ao expor sua missão ao monge, se viu “cercado de uma porção de homens, alguns bem armados, entre eles Miguel Fabrício, Miguel Fragoso [...], José Fabrício, José Felisberto” e outros de cujo nome não sabe precisar.

Após fazer as ponderações a José Maria, ouviu do monge que não iria a presença de João Gualberto, “porque ele monge nada tinha com o Paraná”, não sabendo motivo da perseguição. Disse o monge que “toda a questão era com o cel Albuquerque em Curitibanos, no Estado de Santa Catarina”; Soares fez ver ao monge que “o Governo do Paraná não o perseguia”, mas cumpria com seu dever “não consentindo reuniões ilícitas em qualquer ponto do Estado”.

Depois disso Soares fez sinal a Octávio para que entregasse ao monge “a missiva de que era portador”; Octávio entregou a carta nas mãos do monge. “Olha coronel Soares”, teria dito José Maria, “recebo aqui uma intimação do comandante exigindo a minha presença no seu acampamento o que não farei receiando ser maltratado”. Soares argumentou que “ele monge, seria bem tratado, pois que o coronel João Gualberto era um homem muito delicado”. Não adiantou. O monge mantinha o receio. Pediu apenas garantia para retornar a Santa Catarina. Soares garantiu, mas não acreditava que fosse fazer isso. Haveria um plano que Soares não descobriu qual. Tentou isso numa “conferência reservada” com José Maria.

Antes, entretanto, Soares conferenciou com Miguel Fragoso e Miguel Fabrício, “aconselhando a estes que deviam abandonar o monge e dissolver a massa de povo que ali estava. Declarou também quem era o indivíduo que ali estava intitulado monge”. Fragoso disse a Soares que não tinha nada há ver com o monge, que “ele, Fragoso, não fazia parte do grupo, não obstante ter sido chamado pelo monge já por três vezes”, estando ali para se encontrar com o coronel de Palmas.

Depois de Soares haver falado, Fragoso e Miguel Fabrício “se comprometeram em fazer debandar o povo moradores no lugar e que se achavam ao lado do monge”. Disseram a Soares que José Maria pretendia sair dali e se dirigir a Laranjeiras, em Guarapuava.

Depois dessa conversa o monge entrou no quarto em que Soares se achava, pedindo um prazo de 24 horas para chegar a Santa Catarina. Soares aceitou, por já saber do plano de José Maria. Quando o monge se retirava do quarto, apareceu José Fabrício “em atitude agressiva, dizendo não ser fanático e que se estava ali era para observar os atos do monge, verificando se ele cometia [...] e violava famílias”. Soares “fez ver que naquele sentido não precisava abonar porquanto o intitulado monge era conhecido e já tinha estado na cadeia desta cidade, por ato de defloramento, percebendo o respondente que José Fabrício ouvia suas palavras com [ilegível], continuando sempre em atitude ameaçadora, em virtude do que o respondente convidando seus companheiros tratou de se retirar imediatamente dali”, retornando ao acampamento de JG, onde chegou por volta das 17 horas. Contou a João Gualberto “tudo quanto observou no acampamento do monge, o que foi também confirmado pelos seus companheiros”.

Á noite, quando estava em sua barraca, acompanhado de Octávio Marcondes, chamaram o coronel Gualberto e “reservadamente fizeram ver a este que o respondente prometeu garantir a passagem do monge para o Estado de Santa Catarina, devido ter o respondente descoberto o plano de fuga que seria feito em 24 horas [...]”. [O plano era se deslocar até Laranjeiras], “...passando ele pela Re[...] e Jardim desta Comarca, onde facilmente o monge seria capturado, tendo nessa ocasião o coronel João Gualberto declarado ao respondente que na madrugada seguinte atacaria o acampamento do monge, pois que disto já havia dado comunicação ao Presidente do Estado, que se assim não procedesse ele Gualberto se consideraria desmoralizado perante a Nação Brasileira”.

Na seqüência, Soares “fez ver ao coronel João Gualberto que com a força que dispunha naquela ocasião não convinha atacar o acampamento do monge, visto ter força superior a dele Gualberto e mesmo porque o monge se achava bem localizado”. Insistiu em dissuadi-lo de iniciar o ataque e “não conseguindo, aconselhou que ao menos esperasse a chegada do reforço que já havia pedido”. Octávio fez a Gualberto “idênticas ponderações, às quais o coronel Gualberto não atendeu e às três horas da madrugada ocasião em que o coronel João Gualberto preparava-se para marchar em direção ao acampamento do monge”, Soares voltou a insistir na inconveniência do ataque. Não foi ouvido. Soares disse que não o acompanharia. Descreveu a topografia do terreno “por onde este devia transitar e o trecho onde o mesmo devia ter todo o cuidado para evitar qualquer traição que poderia ser feita por gente do monge”.

Uma vez “posto o pessoal em marcha”, Soares acompanhou João Gualberto até “uma encruzilhada que fica distante do lugar onde se deu o combate, légua e meia, mais ou menos”. Na seqüência se dirigiu com Octávio para o lugar “Toldo Velho”, onde ficaram até por volta das 11 horas, quando foram para a casa de Manoel Isack, em Caçadorzinho, “de onde naquela madrugada haviam levantado acampamento”. Foi quando Soares soube “que João Gualberto e seu pessoal tinha tido recebido combate com o povo do monge do qual tinha resultado a morte do coronel João Gualberto, um sargento e oito praças e também tinha sido morto o célebre monge José Maria e onze companheiros deste”.

Soares acrescenta que do grupo do monge saíram muitos feridos, conforme lhe informara o sub-comissário de Polícia de Rio do Peixe. O “respondente ignora que Miguel Fragoso e Miguel Fabrício tivessem tomado parte do combate do dia 22; que pelas informações que obteve a este respeito supõe que Miguel Fragoso tivesse seguido do acampamento do monge para o Jacutinga, onde mora, por ter sido visto por Domingos Xalico, na madrugada do dia do combate, isto nas proximidades da casa de [...] na estrada do Jacutinga, légua e meia, mais ou menos, distante do acampamento do monge”.

Soares revela que “Praxedes de Tal, residente em Campos Novos, se achava em companhia do monge com alguns companheiros que trouxe dali [...]”; quanto ao número de homens ao lado de José Maria, calcula em “200 e tantos, mais ou menos”; que após saber do ocorrido, seguiu a Palmas, onde chegou no dia 23, prestando auxílios a feridos no trajeto. Tomou outras providências, que “julgou adequadas ao momento” . Na ocasião, em que conversara com o Chefe de Polícia, soubera “minuciosamente de todo o ocorrido no combate de 22 de outubro [...]”.



Família do coronel Domingos Soares. As fotos foram reproduzidas no Museu Histório Professor José Alexandre Vieira (Palmas-PR).

2 comentários:

  1. pode chover! eu já sei o que ficar lendo no finds...abrazzz, mo sagrado!

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  2. O Distrito Coronel Domingos Soares, era denominado Refúgio ou Retiro?

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